Independência ou morte?


Por Mili Alves, graduada em Geografia, especializada em Jornalismo Digital e em Educação Ambiental

29/09/2020 às 06h58

É inevitável associar o Brasil de 1822 com o de 2020, principalmente quando as nossas matas, como o Pantanal brasileiro, que é a maior área de planície alagada do mundo, vêm sendo devastadas ora pelo fogo, ora pela exploração. Obviamente, são consequências de uma reação em cadeia, que passa pelas nossas relações de consumo, pelas alterações nas condições climáticas e pela vista grossa dos ministérios ao longo dos anos, com relação à legislação e aos crimes ambientais.

Entretanto, ainda que o fogo fosse cessado imediatamente, o incêndio é estrutural. Simplesmente combatê-lo de forma direta, sem que todos os fatores sejam reorganizados, causa uma falsa sensação de ordem e faz com que, a cada ano, a abrangência seja maior. Mas atingir a base da evolução humana dentro de um sistema extremamente consumista é quase uma utopia, e, por isso, o ceticismo em torno de promessas idealistas de fiscalizações e preservação ambiental é crescente nos corações mais realistas. Não temos controle direto no clima, sobretudo quando sabemos que ele é naturalmente cíclico, mas temos sobre nossas escolhas. Todas elas.

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Um exemplo desse modo de subsistência que vivenciamos é o que se presencia com a alta significativa nos preços de itens básicos, já que o lucro é a meta da atividade econômica, e esta não se importa com fome, doença ou mortes. Isso é da natureza do mercado. Sabemos que estamos em plena pandemia da Covid-19, mas, nesse caso, a situação está muito mais relacionada com a desvalorização da moeda nacional e, consequentemente, a preferência por exportação.

O sentimento de que a ideia de um país soberano contemplada na declaração de independência de 1822 está longe de ser consolidada é cada vez mais pungente, e, possivelmente, essa distância teve início no próprio processo separatista, com a dívida indenizatória cobrada por Portugal.

Talvez seja arriscado afirmar, mas o Brasil se tornou independente no papel com o famoso grito de dom Pedro e, na prática, se tornou um dependente funcional. Isso vai desde nosso sistema econômico, social e cultural, que nos submete às mais diversas situações de subordinação, até nosso modo de vida egocêntrico e individualista, que colabora com a destruição não só de um dos ecossistemas de maior biodiversidade do planeta, como da nossa própria humanidade.

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