Trânsito que mata
Semana Nacional do Trânsito começa com uma vasta agenda, por tratar-se de um tema que carece de atenção da sociedade e das instâncias de poder
Antes da pandemia, o Brasil, de novo, apresentava números perversos no trânsito. De janeiro a março de 2020, foram registrados 89.028 acidentes, sendo 9.298 com morte e 59.726 que resultaram em invalidez permanente. Há outros dados, mas estes são suficientes para uma ampla discussão. Em Juiz de Fora, começa nesta sexta-feira a Semana Nacional do Trânsito, com uma ampla agenda, envolvendo temas de todos os matizes, todos eles apontando para a necessidade não apenas de um debate permanente, mas de ações mais objetivas para mudar essa realidade.
Durante a pandemia do coronavírus, os números foram mais modestos, mas trata-se de uma situação provisória, bastando ver as ruas e as rodovias neste ciclo de flexibilização. O novo normal virou normal, como se nada estivesse acontecendo e como se o vírus já tivesse sido extirpado pelas vacinas. No trânsito, a situação é a mesma. As metrópoles retomaram os velhos e conhecidos congestionamentos e, com eles, a perversa rotina de acidentes.
Ao apresentar os números, nesta quinta-feira, na CBN, o consultor José Luiz Brito – que será um dos participantes da Semana Nacional de Trânsito em Juiz de Fora -, apontou para a necessidade de manter o tema numa agenda permanente, que passa, necessariamente, pela educação no trânsito e por medidas que facilitem a mobilidade.
Nas metrópoles, nesses novos tempos, é cada vez maior o uso de transporte alternativo, como bicicletas, mas nem todas as cidades estão preparadas para essa convivência. Em Juiz de Fora, por exemplo, só há projetos de ciclovias, mas nenhum deles saiu do papel. A Zona Norte, que teria a maior demanda de usuários, ainda espera a conclusão dos estudos e recursos para um espaço próprio para os ciclistas. No Centro, o máximo que se fez foi sinalizar a Avenida Rio Branco, indicando a passagem de bicicletas, mas trata-se apenas de um aviso nem sempre respeitado por motoristas ou por ciclistas.
Os números crescem em proporção geométrica também nas rodovias, com não apenas o abuso de usuários guiando veículos cada vez mais rápidos, mas também pelas condições das vias. Salvo exceções, a maioria das estradas tem problemas de sinalização e desconhece áreas de escape, e nem todas são duplicadas. O Brasil tem uma das maiores malhas, mas poucas podem ser consideradas de padrão internacional.
A soma desses fatores se reflete nas estatísticas. A Covid-19, com seus números perversos, exigiu a atenção global diante de sua letalidade e grau de contaminação, mas o trânsito também é um desafio, que, ao contrário da pandemia – que busca com pressa uma vacina -, ainda enfrenta a leniência das autoridades. A educação no trânsito tornou-se apenas uma expectativa, enquanto as políticas de mobilidade aparecem mais no ciclo de campanha do que durante as gestões.