Dupla Arcanjos lança o single “Me salva”

Música antecipa EP que deve ser lançado ainda este ano; primeiro single do novo trabalho trabalho chegou no streaming em maio


Por Júlio Black

17/09/2020 às 07h00- Atualizada 17/09/2020 às 07h48

Gabriel e Amanda preparam EP ainda para 2020, e antecipam o trabalho com singles (Foto: Diego Sá/Divulgação)

Mais do que moda, virou estratégia entre os artistas antecipar os próximos álbuns e EPs – que também têm sido lançados em maior volume – com singles liberados com alguma periodicidade nas plataformas de streaming. Quem também está de olho na nova ordem musical é a dupla Arcanjos, que lançou no último dia 8 “Me salva”, segundo single do EP com cinco músicas que Amanda Amaral e Gabriel William pretendem disponibilizar em breve. O primeiro, “Se crer será”, foi lançado em maio.

Assim como as outras canções já lançadas pelo duo (incluindo o álbum “O que chamo de telhado”, de 2018), “Me salva” foi gravada em Juiz de Fora no estúdio LáDoBê, com produção de Bernardo Merhy e Nathan Itaborahy. É, ainda, a primeira parceria de Amanda e Gabriel, em 2017, quando o projeto sequer existia e ainda não haviam feito show juntos. “Levamos a música para gravar apenas ano passado. Geralmente é esse processo, estamos compondo hoje músicas que não sabemos muito bem quando ou se vamos realmente gravar”, explica Gabriel.

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Sobre a inspiração para a música, Amanda conta que começou pela ideia de alguém desejando se libertar de algum tipo de tristeza e/ou sofrimento, procurando por alguma saída “ou coisa assim”, diz. “Mas não me lembro muito o que me levou a esses versos. Sempre que compartilhamos alguma música que não está finalizada, nunca sabemos que rumo ela vai tomar. Às vezes continua na mesma ideia, outras vezes se torna algo completamente diferente. Sem falar que para cada um de nós ela significa uma coisa, e para quem ouve pode significar outra coisa diferente. Nunca sabemos o que de fato ela pode significar.”

Gabriel concorda com a parceira quanto a “Me salva” ser um pedido de socorro ou válvula de escape. “A canção, no momento em que ela é escrita e harmonizada, significa uma coisa, e com o passar do tempo isso se modifica para um outro sentimento sobre o que ela é e representa para nós. Acho que ‘Me salva’ é uma canção forte, que considero difícil ter um controle dela, no trato dos arranjos e tudo mais, e no estúdio com os meninos acho que foi isso. Quando começamos a tocar e experimentar, apesar de todos nós termos sugerido elementos e resoluções para os arranjos, ela meio que se criou sozinha.”

Já que o assunto chegou ao processo de composição da dupla, Amanda afirma não existir fórmula. “Cada composição acontece de um jeito diferente. Essa, por exemplo, eu comecei a compor os dois primeiros versos e mostrei para o Gabriel. Ele deu algumas sugestões e a terminamos juntos. Geralmente é assim que acontece, mas é comum também nós dois começarmos e terminarmos juntos uma canção. Temos muita liberdade para criar juntos, e isso facilita conseguir dar e aceitar palpites. Vamos experimentando até chegar em um lugar que agrade aos dois.”

Quanto à demora de quase quatro meses entre os dois lançamentos, o motivo é a incerteza vivida em tempos de pandemia. A ideia era lançar o segundo single e, logo depois, o EP, com direito a show de lançamento em julho – e que precisou ser cancelado. “Para concluir o projeto vamos ter de esperar que tudo se normalize, porque ainda vamos gravar um videoclipe, e isso demanda envolvimento com outras pessoas e descolamentos que hoje não são possíveis. Tivemos de ir adaptando nosso cronograma de acordo com a situação; estávamos esperando uma melhora até o meio do ano, e como não aconteceu, decidimos lançar todas as canções do EP como singles. Pensamos em lançar um single a cada 15 dias, mais ou menos, sem demorar muito tempo, mas tudo demora também, como a elaboração das capas.”

Dupla na música e no teatro

Gabriel e Amanda são de Santos Dummont, mas a dupla Arcanjos foi criada em São João del-Rei em 2017. Amanda foi para a cidade em 2016 para estudar teatro, e no ano seguinte foi a vez de Gabriel, que já estava ligado à música e passou a mostrar algumas canções a ela, que tomou coragem e mostrou uma de suas composições. Gabriel gostou tanto do que ouviu que sugeriu gravaram um vídeo que fez sucesso no Facebook, e a consequência foi o início das composições em dupla e os primeiros shows, marcados pelo encontro e mescla de influências diversas.

“Eu me sinto engolido por vários gêneros musicais, tanto o rock – que foi o principal motor para minha paixão por guitarras e essa mistura de Guns N’ Roses com Barão Vermelho (risos) que começou a vibrar em mim na adolescência – quanto o sertanejo antigo e atual, que foi a minha experiência com o canto e com composição”, diz Gabriel. “Quando comecei a fazer teatro, me deparei com outros nichos, que expandiram minha perspectiva de composição e entendimento das minhas próprias músicas.” Nessa expansão, entram nomes como Gilberto Gil, Mauricio Pereira, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Zeca Pagodinho, Milton Nascimento, Tim Maia, Emicida, Cícero, Rubel e O Terno.”

Já Amanda afirma sempre ter sido inspirada pela nova geração da nova MPB. “Passei a me interessar por coisas mais antigas depois que comecei a fazer shows e compor mais. Durante minha adolescência ouvia muito Cícero, quando ele lançou o álbum “Canções de apartamento” (2011). Isso com certeza influenciou muito meu gosto pela música. Hoje ouço muito Gil, Caetano e afins, tanto quanto ouço O Terno e Letrux, por exemplo.”

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Por fim, não poderia faltar a influência teatral, pelo menos nas apresentações, seja na dramaturgia dos shows, figurinos, cenário e tudo que compõe a cena. “Não pensamos apenas na parte sonora, tentamos ver o show como qualquer espetáculo de teatro. No processo de composição já é mais difícil dizer como influencia. O teatro trabalha muitas coisas, isso com certeza reverbera na composição. Mas acho difícil conseguir citar essas coisas em específico”, diz Gabriel.

A dupla já participou da criação da sonoplastia de um espetáculo, o que fez com que começassem a trabalhar a relação do som com a cena, imagem e iluminação. “Isso vem também da nossa intuição, de como transformar determinada percepção, seja ela de algo externo ou de algum sentimento e emoção, em canção. O processo de transformar os elementos da cena em música não deve ser muito diferente das nossas composições do dia a dia. De alguma forma, eu sinto que graças ao teatro eu comecei a compor, mesmo que eu não saiba explicar o porquê”, revela Amanda.

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