Obras paradas
Interrupção das obras da BR-440 amplia os problemas da Cidade Alta, que tem no projeto uma alternativa para a mobilidade urbana
Planejamento inadequado, deficiências em projetos básicos e falta de contrapartida ou capacidade técnica são parte do diagnóstico elaborado pelo Tribunal de Contas da União para justificar o volume de obras paradas no país, algumas delas totalmente abandonadas. Trata-se de uma situação que envolve todo o país, somando bilhões de recursos que poderiam estar aplicados em outras rubricas ou utilizados de forma eficiente para conclusão de tais projetos.
Em Juiz de Fora, há obras em tal situação tanto na área de saúde quanto na de mobilidade urbana. Na edição dessa quinta-feira, a Tribuna voltou a abordar a situação da BR-440, cujas obras, de novo, foram interrompidas. O argumento inicial do Dnit é surreal, pois se baseia no início do ciclo das chuvas. O serviço, no entanto, parou no momento mais propício para obras de tal porte, no primeiro semestre do ano. O período das chuvas, que teria levado à paralisação, deve começar somente no mês que vem. Se não houvesse a interrupção, a ligação com a BR-040, certamente, já estaria concluída.
Concebida como projeto de acesso ainda na gestão Mello Reis (1977-1982), a BR-440 tornou-se um problema crônico já na sua fase inicial, há cerca de cinco anos, pois o cenário urbano da Cidade Alta já não era mais o mesmo do período de sua projeção. A rodovia deveria chegar à BR-267, na sua etapa urbana (Avenida Brasil), passando pelos bairros Borboleta e Vale do Ipê, seguindo até o Bairro Democrata para alcançar a Avenida Rui Barbosa em Santa Terezinha. O adensamento comprometeu o projeto, e o que restou foi o trecho entre o campo do Nova União, no início do Bairro Casablanca, e a BR-040.
A despeito de já não ter mais a utilidade da primeira versão, a obra ainda é uma alternativa para resolver o trânsito na região, hoje concentrado na Avenida Costa e Silva, formando retenções permanentes, acentuadas nos momentos de pico. A engenheira urbana ainda discute – mas não tira do papel – um novo acesso, reduzindo a demanda do Campus da UFJF, que de provisória virou permanente.
A pandemia do coronavírus pode ter influenciado na execução do projeto, mas é fundamental que as lideranças políticas, empresariais e populares pressionem o departamento a concluí-lo, pois a rodovia, hoje, liga o nada a lugar algum e ainda tornou-se um transtorno para a população.
Se será uma via de acesso ou uma grande avenida intrabairros ainda não é a questão, mas, como a própria rubrica BR aponta ser um investimento federal, a União não pode se omitir, podendo até discutir, numa próxima etapa, a municipalização da via. Mas aí a conversa já é remetida à próxima administração, a ser inaugurada em 1º de janeiro de 2021.
Nesse limiar de campanha, os candidatos devem ser convidados a avaliar a mobilidade urbana, o que inclui a BR-440. Caso contrário, serão mais quatro anos sem um investimento que só é importante se concluído. Caso contrário, como hoje, é apenas um transtorno e uma precária área de lazer.