No Dia do Profissional de Educação Física, especialistas torcem por valorização de serviço essencial

Educadores contam como superaram adversidades da pandemia e acreditam que as pessoas passarão a cuidar mais da saúde


Por Bruno Kaehler

01/09/2020 às 07h00

Línison teve que se reinventar ao lado da esposa por conta do isolamento social (Foto: Arquivo pessoal)

Cada pessoa no mundo foi afetada, de alguma forma, pela pandemia do coronavírus. Desde março, os educadores físicos passaram por obstáculos imprevisíveis e não experienciados antes em suas carreiras. Os primeiros meses de isolamento social, sobretudo, fizeram tanto com que estes especialistas readaptassem formas de trabalhar e manter seus clientes, como elevassem a busca pelo maior conhecimento da sociedade no que diz respeito à relação direta de suas funções com a saúde – e não apenas ao lazer. No Dia do Profissional de Educação Física, comemorado neste 1º de setembro, a Tribuna conversou com especialistas que contaram como fizeram para se readequar às novas normalidades em meio aos protocolos de segurança no combate à Covid-19.

Com a reclusão no início da pandemia, o personal Línison Vianello perdeu todos os seus alunos. “As pessoas estavam com muito medo até dos treinos em lugares abertos”, lembra. “Para dificultar a situação, eu e minha esposa somos educadores físicos. Alguns alunos continuaram pagando para ajudar e depois veríamos a melhor forma de retorno em treinos para eles. E mantivemos vínculo com duas academias pela MP do governo, o que também ajudou, já que as despesas diminuíram um pouco”, acrescenta. Línison ainda tinha como renda extra a arbitragem em partidas amadoras da região, segmento prejudicado em sua integralidade.

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A solução, no entanto, veio na capacidade criativa do casal. “Começamos a desenvolver uma forma de atender os alunos por meio de projetos on-line. Contatamos aqueles que tinham interesse em treinar e fizemos um projeto de 30 dias, parceria com nutricionistas, e conseguimos manter as aulas. Só nos últimos dois meses que os alunos passaram a ter mais segurança para treinar em ambientes abertos”, explica.

Línison entende que a retomada da rotina pré-pandemia será gradual. “Aos poucos vai acontecer. As pessoas ainda não enxergam a atividade física como algo essencial. Mas com essa mudança, acredito que vão começar a olhar que ‘gastar’ com um profissional de Educação Física é muito melhor do que depois, com um médico, um remédio, um tratamento de lesão.”

Para ele, a tendência também é de valorização do profissional da área, visto também que, no início do ano, o Ministério do Trabalho incluiu o profissional de Educação Física na área da saúde. “As pessoas vão valorizar mais, até por conta dessa conquista enorme do reconhecimento como profissionais da saúde. Infelizmente a maioria das pessoas ainda não tem essa visão.”

Aulas on-line, como a de Carolina para a aluna Ana Maria, foram a principal solução dos profissionais nesta pandemia (Foto: Arquivo pessoal)

‘Tivemos que nos reinventar’

Carolina Marques é especialista em pilates funcional e conta que o princípio “foi desafiador pra todo mundo.” Após o primeiro impacto, contudo, ela manteve a proatividade e encontrou saídas que a fortaleceu como profissional.

“Tivemos que parar, pensar com calma e nos reinventar. Eu consegui superar o primeiro susto porque fui logo buscar alternativas através do atendimento on-line, e o pilates tem um repertório grande de exercícios de solo que usam a resistência do próprio corpo. Consegui manter alguma parte da minha clientela, além do que eu estava esperando”, conta.

Carolina relata que passou a estudar formas de atender on-line. “Tenho um apartamento e um filho pequenos, então tinha barulho às vezes, mas os alunos foram receptivos à proposta e viram que a gente pode fazer muito mais do que no espaço físico. Estar longe fisicamente não é o maior dos problemas. Tive perda de alunos, mas minha postura enquanto profissional contou muito. Inclusive captei alunos de outras regiões pelo atendimento remoto, pessoas que buscaram meu trabalho por indicações e hoje seguem comigo”, destaca a profissional que atende pessoas, por exemplo, do Rio de Janeiro, e acredita que o estudo em busca de soluções fez com que ela aumentasse as possibilidades em sua profissão.

“Reiniciei nessa semana as aulas presenciais e continuo com mais aulas remotas. Não vou conseguir parar com elas mesmo passando pela pandemia. É um nicho de trabalho para se pensar a longo prazo. Foi uma grande descoberta pra mim, podemos fazer mais do que antes pela saúde das pessoas.”

Readequação também dos alunos

Nas primeiras semanas de pandemia, a personal Patrícia Lisboa também sofreu uma diminuição imediata no número de clientes. ” Tenho uma boa clientela, mas tinha sido reduzida quase na metade no começo. Agora já retornei com quase todos e o que me salvou foram as aulas on-line. Meus alunos se mostraram muito dispostos. Só a partir de maio que voltei a dar aulas presenciais, seguindo todos os cuidados. Foi uma fase delicada, mas deu pra conduzir de forma equilibrada”, relata.

Ainda conforme Patrícia, além de acreditar que as pessoas ligaram um alerta para melhorar os cuidados com sua saúde por meio da atividade física e da alimentação, outras mudanças têm ocorrido.

“O tanto de gente que eu passei a ver em trilhas, no meio do mato… gente falando que começou na vida esportiva agora!”, destaca. Para ela, a busca, após a pandemia, por mais atividades em locais abertos, deve seguir aumentando.

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“Tive contato até com um fisioterapeuta que disse que não volta tão cedo para ambientes fechados. Ainda tenho várias alunas on-line. Acho que muita gente gostou da atividade ao ar livre. Uma aluna minha sempre viaja e está fora. Entramos na terceira semana com aula on-line e ela me disse que sempre que viajar vai fazer essas aulas comigo!”, reitera Patrícia.

‘O caminho é através do profissional’

Patrícia Lisboa (à frente) levou os alunos Liamara Scortegagna e Fred Alvim para atividades ao ar livre e com poucas pessoas próximas, respeitando as normas de segurança (Foto: Arquivo pessoal)

Membro do Conselho Regional de Educação Física de Minas Gerais (CREF6/MG), José Márcio Bastos reitera que a classe tem obtido conquistas significativas ao longo dos últimos anos quanto à inserção do profissional na saúde. “Hoje, a sociedade reconhece mais o professor de Educação Física como parte importante na área, com a intervenção não farmacológica, o que é importantíssimo. As pessoas procuram saúde através da intervenção do profissional, seja na academia ou no trabalho individualizado, como no personal, por exemplo.”

Conforme José Márcio, a fase é não apenas de readaptação, como também de mobilização dos profissionais no sentido de buscar a valorização de sua classe. “Também por isso temos, pelo Conselho Federal de Educação Física e pela Associação das Academias, um protocolo para que o profissional possa exercer sua profissão de forma segura, sempre orientado ao lado das normas da Prefeitura.”

A ideia é que, com o passar do tempo, gradativamente as pessoas entendam a necessidade do acompanhamento de um profissional durante os exercícios físicos. “O que orientamos sempre é que o caminho é através do profissional, seja em academia, praça pública ou mesmo em casa, porque ele estará apto para prescrever o exercício para cada pessoa e situação com segurança. A sociedade já tem valorizado, temos entendido esse reconhecimento cada vez maior”, enfatiza o conselheiro.

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