Policial suspeito de matar professora pode ir a júri popular
Homem que disparou para tentar conter adolescente em fuga foi denunciado pelo MP por homicídio com dolo eventual
O sargento reformado da Polícia Militar, 44, suspeito de disparar o tiro que matou a professora Fabiana Filipino Coelho, 44, em plena Rua Marechal Deodoro, no Centro de Juiz de Fora, pode ir a júri popular. Ele foi denunciado pelo Ministério Público, na quarta-feira (19), por dolo eventual. Segundo a acusação, ao disparar para tentar impedir a fuga de um adolescente, 16, que havia acabado de assaltar uma pedestre, “o denunciado agiu com censurável desconsideração para com a integridade física dos passantes, atirando a esmo em rua movimentada, sendo previsível a possibilidade de alcançar inocentes, o que de fato ocorreu, tendo disparado abruptamente e sem domínio finalístico da sua conduta leviana, com isso assumindo o risco do evento infausto que vitimou Fabiana”.
Além disso, o promotor Hélvio Simões Vidal, responsável pela denúncia, destaca que o disparo atingiu a vítima pelas costas, “sentido posterior para anterior, da direita para a esquerda e de inferior para superior, penetrando a parede anterior do abdômen à esquerda onde impactou e foi recuperado”. O caso seguiu para apreciação do juiz Paulo Tristão, da Vara do Tribunal do Júri, que poderá acatar ou não a denúncia. De acordo com o MP, o magistrado tem cinco dias para decidir se o PM será pronunciado para ir a júri popular.
O crime, que ganhou grande repercussão na cidade e provocou várias manifestações contra a violência, aconteceu na manhã do dia 20 de novembro do ano passado, quando Fabiana fazia compras no Centro e passava pela Marechal. Antes de atirar, o militar foi esfaqueado no braço pelo infrator, que acabou detido. A docente lecionava no Instituto Estadual de Educação (Escola Normal), no Centro, e na Escola Municipal Clotilde Peixoto Hargreaves, no Linhares. Ela deixou marido e um filho, na véspera de ele completar 5 anos.
No texto da denúncia, o MP lembra que a pedestre assaltada pelo adolescente foi abordada por ele e teve uma faca encostada no pescoço ao entrar em um restaurante da Rua Marechal Deodoro, esquina com a Praça da Estação. Na sequência, o jovem saiu correndo pela Marechal com dinheiro e celular da vítima. “Em seguida, um transeunte não identificado passou a gritar ‘pega ladrão’, tendo várias pessoas começado a correr atrás do menor, que, no trajeto da fuga, foi interrompido pelo denunciado, tendo este o derrubado ao chão. Mas o adolescente levantou-se, desferindo uma facada contra o denunciado, atingindo-o em seu braço esquerdo. Em sequência imediata, o menor correu, mas foi novamente obstruído com um cone de sinalização utilizado por outro policial que estava junto com o denunciado. Neste momento, o denunciado, levianamente, sem reflexão e sem considerar que várias pessoas se encontravam transitando na via, sacou um revólver calibre 32 e efetuou um disparo que atingiu a vítima Fabiana, a qual estava casualmente transitando naquele local de grande movimentação comercial”, diz o texto.
A 9ª Promotoria destaca que Fabiana foi socorrida ainda com vida e levada ao Hospital Albert Sabin, onde foi submetida a cirurgia no abdômen, no entanto, não resistiu e faleceu às 22h do mesmo dia, em consequência de hemorragia intra-abdominal e choque hipovolêmico causado por lacerações vasculares abdominais.
Em nota, Carlos Frederico Delage e Leonardo Moreira, advogados da família de Fabiana Filipino, “externalizam sua confiança no Ministério Público do Estado de Minas Gerais e no Poder Judiciário, certos de que a absurda violência perpetrada contra Fabiana, que deixou marido e filho, não passará despercebida aos olhos da Justiça”.
A defesa do policial reformado Vanderson da Silva Chaves, composta pelos advogados Ulisses Sanches da Gama e Eron Pereira, informou, por meio de nota, que ainda não foi comunicada oficialmente sobre o teor da denúncia do MP, portanto, não se manifestará sobre o mérito. “O investigado não agiu com dolo ou culpa, o que será comprovado no decorrer do processo, através dos pertinentes e lícitos meios de prova”, diz o texto. A defesa acrescenta que “o investigado lamenta demasiadamente a tragédia que causou a morte da querida professora Fabiana, que tanto lutava para a transformação por meio da educação”. Os advogados enfatizam que “não serão poupados esforços para a defesa da inocência do investigado”.
Indiciamento
As investigações da Polícia Civil resultaram no indiciamento do policial militar da reserva por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Para o titular da Delegacia Especializada de Homicídios, Rodrigo Rolli, o PM agiu com imprudência, após ser agredido pelo adolescente em fuga. “Ao tentar conter o menor, que havia praticado o crime de roubo, tomou uma facada e, nessa perseguição, houve o disparo de arma de fogo, que era direcionado a conter o menor, entretanto, acabou por acertar a professora Fabiana. Entendemos se tratar de homicídio culposo a partir do momento em que ele agiu de forma imprudente. Chegamos a essa conclusão através de uma série de laudos médicos e periciais, que descrevem a lesão na vítima, e nos pautamos também na reconstituição do crime.”