Versão on-line do Festival Primeiro Plano cada vez mais real

Organização prorroga inscrições e encara possibilidade de realizar o evento de forma remota


Por Júlio Black

20/08/2020 às 07h00

Depois de 18 anos de salas cheias, possibilidade de um Primeiro Plano on-line em 2020 está mais próxima (Foto: Divulgação)

A organização do Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades anunciou no início desta semana que prorrogou até 31 de agosto as inscrições para a 19ª edição do evento, que a princípio deve acontecer entre 27 de outubro e 1º de novembro no Teatro Paschoal Carlos Magno. O “a princípio”, claro, é devido à pandemia do novo coronavírus, que já cancelou e adiou vários eventos e fez com que outros festivais migrassem para o formato on-line, possibilidade cada vez mais discutida entre os responsáveis pelo Primeiro Plano, o grupo de cinéfilos Luzes da Cidade.

Uma das integrantes da organização, Marília Lima diz que a produção do festival ainda não bateu o martelo quanto ao formato – ainda que tenha agendado data e local para realizar de forma presencial -, mas que tem discutido a possibilidade de a 19ª edição do Primeiro Plano ser on-line, inclusive com data diferente da já anunciada.

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“Temos pensado em qual seria o formato on-ilne, e a perspectiva é que este deve ser o caminho, por causa do crescimento de casos em Minas Gerais e em Juiz de Fora. Não estamos nos sentindo seguros, apesar da reabertura do comércio, da previsão de abertura dos cinemas em algumas cidades. Cada dia muda alguma coisa. Não queremos colocar as pessoas em risco”, explica, acrescentando que, caso o panorama se altere positivamente, valerá o acordo com a Funalfa para a utilização do Paschoal Carlos Magno, seguindo os protocolos de segurança exigidos para a prevenção à Covid-19.

 

Festivais on-line pelo país

Outro motivo apontado por Marília para a possibilidade do Primeiro Plano on-line é a tendência observada em outros festivais já realizados (Tudo é Verdade) ou que ainda acontecerão em 2020 (os festivais de Vitória e do Rio), que abriram mão do formato presencial e adotaram a versão on-line.

Segundo Marília, essa questão tem sido motivo de debates constantes no Fórum dos Festivais, entidade que reúne diversos eventos do Brasil e do qual o Primeiro Plano faz parte. “Temos debatido muito sobre isso, como ficam as políticas públicas para esses festivais que serão on-line, como fica a questão dos patrocinadores, e o caminho que todos indicam por lá é que, se houver o festival, ele será on-line. Alguns não conseguiram ser realizados pela impossibilidade de patrocínio. Só se mantiveram os que já tinham apoio garantido, como o Festival de Vitória e o Festival de Curtas de São Paulo”, diz.

Um ponto destacado por Marília sobre as discussões no Fórum é a necessidade de que os festivais não deixem de acontecer, mesmo que o público possa acompanhá-los apenas pela internet, para não perderem o caráter de evento anual. “Perder uma edição é muito ruim para captar recursos futuramente e também para quem participa. A orientação é que ele aconteça de qualquer forma, para que ele marque presença. É por isso que o Primeiro Plano vai acontecer de qualquer forma, até porque precisamos manter o audiovisual ativo na cidade”, afirma.

A dificuldade em captar recursos durante a pandemia, aliás, já foi sentida pela organização do Primeiro Plano, que pelo menos tem garantida a verba obtida por meio da Lei Murilo Mendes. “Isso complicou muito a vida do festival. Além da Murilo Mendes, tentaríamos mais captação por leis de incentivo à cultura para ter verba para fazer um festival maior, mas em vista da pandemia, não conseguimos fazer as reuniões. Também ficamos prejudicados no que diz respeito aos vários apoiadores locais, que dão descontos em hotéis, restaurantes, lojas, pois não conseguimos realizar as reuniões para tentar as parcerias. São vários fatores que nos têm feito pensar no formato on-line.”

 

Pandemia, obstáculo para inscrições e tema para curtas

A pandemia de Covid-19 tem afetado o Festival Primeiro Plano não apenas nas suas possibilidades de realização, mas também no que diz respeito à prorrogação das inscrições e temáticas das produções.

“Abrimos as inscrições um pouco mais tarde que o normal (em meados de julho) por causa da Covid, por estarmos discutindo o formato, então queremos dar mais tempo para as pessoas se inscreverem. Achamos que um mês foi pouco”, explica Marília, ressaltando porém que, no caso da mostra Mercocidades, o número de inscritos já está próximo do alcançado em 2019; o problema maior é com a mostra Regional.

“Recebemos cerca de 250 inscrições para a Mercocidades até o último sábado (15), sendo que ano passado foram pouco mais de 300. Quanto a isso estamos bem. Para nossa surpresa, a Covid não diminuiu a quantidade de filmes, apesar de que temos muitos deles ligados à quarentena. Tivemos um número menor para a mostra Regional, que é formada por muitos universitários, e vários deles estão sem aulas e geralmente produzem muito no primeiro semestre para os cursos nas faculdades. Demos mais tempo para que eles possam terminar os curtas, pois estamos abaixo da média dos anos anteriores. Mesmo com esse novo prazo, não devemos igualar os números de 2019”, lamenta.

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Além de produções inspiradas pela quarentena, Marília diz que a organização do festival observou que as produções, este ano, estão com uma duração menor. “Temos muitos filmes de quatro ou cinco minutos, feitos em casa, muita gente tem produzido nesse contexto, que resulta num novo tipo de estética e linguagem. Eles criam ‘filmes de emergência’”, observa.

 

“Cansei/Anseio”, de Jadson Reis, venceu a mostra Primeiro Plano Feito em Casa, com produções realizadas durante a pandemia (Foto: Reprodução)

Mais de 80 produções no Primeiro Plano em Casa

Ainda que sejam muitos os desafios e obstáculos para realizar o Primeiro Plano em 2020, Marília Lima destaca que o Luzes da Cidade já tem motivos para comemorar. Ela aponta o sucesso da primeira Mostra Primeiro Plano Feito em Casa, realizada entre junho e julho, com mais de 80 curtas realizados após o início da pandemia. O vencedor, escolhido pelo público por meio de curtidas nos vídeos – que ainda podem ser assistidos no canal do evento no YouTube – foi “Cansei/Anseio”, de Jadson Reis, contemplado com o prêmio de R$ 500. A produção também fará parte da programação oficial do Festival Primeiro Plano.

“Tivemos um retorno muito positivo, pois fizemos a mostra num momento da quarentena em que já tinha se passado dois meses, com as pessoas sem muita perspectiva. Viemos com a mostra para dizer ‘olha, tá acontecendo isso, mas vamos produzir, não vamos parar’. Acho que essa participação com mais de 80 curtas foi muito significativa; as temáticas caminharam muito para a questão da quarentena, com as pessoas desejando produzir alguma coisa, foi uma participação muito legal, assim como o movimento para divulgarem os filmes e movimentar o público”, celebra, apontando ainda que a mostra serviu como “ensaio” para um (cada vez mais) possível Primeiro Plano virtual.

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