Futuro incerto
O novo normal vai exigir ações claras dos governos para garantir a solidez da economia, sem comprometer as políticas de austeridade fiscal
A situação já não era boa antes da pandemia, mas o cenário, hoje, é caótico. Na edição dessa terça-feira, a Tribuna mostrou o retrato da área central da cidade, shoppings e bairros, com suas quase 400 lojas fechadas, de acordo com estimativa do Sindicato do Comércio. Como reverter esse processo tornou-se o principal desafio. Primeiro por ainda não ser vista uma luz no fim do túnel para extinção da contaminação. As vacinas estão na fase final, e ainda não se sabe como vão reverter o processo. A segunda questão é a própria economia, que globalmente passa por uma grande encruzilhada.
Os governos têm tomado atitudes de acordo com suas próprias circunstâncias, mas todos consideram que, pelo menos nos próximos anos, ainda haverá consequências graves no setor. Por isso, o Estado terá papel estratégico na virada do jogo até mesmo entre aqueles que defendem a tese de não caber ao Governo resolver demandas do setor privado. O olhar liberal esbarra numa circunstância crítica, na qual não dá para defender ações ortodoxas.
Em 2008, quando o sistema bancário americano quase se dissolveu, o presidente Barack Obama mandou, e o Banco Central socorreu os organismos em crise diante da extrema inadimplência no setor imobiliário. Foi contra a tese que permeia a economia americana, mas, se não agisse, as repercussões globais seriam bem piores. A crise de 2020 tem a mesma dimensão, com o agravante de não se situar em apenas um país. O mundo passa por uma grande inflexão e terá que enfrentar as consequências da pandemia com um olhar global.
No Brasil, o setor produtivo vai carecer de linhas de crédito mais generosas, enquanto a população mais carente terá, por um determinado período, que continuar recebendo incentivos financeiros. A questão é como fazê-lo sem estourar as margens de gastos contidas nas leis de responsabilidade fiscal. O ministro Paulo Guedes, que se vê cada vez mais isolado, com a debandada de seus principais assessores, mudou a postura crítica para a conciliação e já admite medidas para recuperação da economia bem próximas dos limites permitidos pela lei.
A questão é saber se há margem para ser diferente. Esse, talvez, seja o principal ponto a ser enfrentado pelo Governo, que já vê reflexos nas ruas pelos pacotes de incentivo, com o aumento da popularidade do presidente Jair Bolsonaro, mas sabe que há restrições econômicas para ir adiante. Conciliar esse processo será a pauta para Guedes daqui por diante.