Debandada geral
Equipe econômica de Paulo Guedes está se esfacelando, e ministro, além de sozinho, precisa convencer o próprio Governo a tocar a sua agenda
Ao anunciar seu desligamento do Governo, no qual ocupava a área destinada à privatização de ativos do Estado, o empresário Salim Mattar, durante entrevista à Globonews, advertiu que é preciso ter vontade política para fazer privatizações. Disse ainda que decidiu deixar o cargo de secretário de Desestatização porque é um “animal do setor privado que não se adaptou à lentidão do Estado”. Sob o mesmo argumento, desta vez em razão de atraso na reforma tributária, também deixou a equipe econômica o secretário de Desburocratização, Geral e Governo Digital, Paulo Uebel.
Ambos estão certos em seus argumentos, mas se mostraram ingênuos ao achar que tais mudanças ocorreriam de uma hora para a outra, sobretudo num período de pandemia e de forte divisão política. O Congresso tem fortes resistências quando o assunto é vender próprios do Estado, especialmente joias da coroa como a Petrobras. A empresa passou por uma fase crítica por causa da corrupção endêmica que a envolveu, mas continua sendo um dos mais importantes ativos oficiais. Privatizá-la será o desafio deste ou de qualquer outro governo que tenha a mesma proposta.
Por menos do que isso, o governador Romeu Zema já percebeu que a desestatização não é algo simples. Ele tem como meta vender a Cemig para a iniciativa privada, mas há forte resistência na Assembleia, mesmo havendo consenso sobre a baixa eficiência da companhia. Até mesmo a Copasa, que também está na agenda, deve encontrar forte barreira entre os parlamentares.
O país, a partir de Getúlio Vargas, tem uma forte cultura nacionalista, enfatizada sobretudo no período militar e também em outros governos. Quando dirigia os destinos de Minas, o ex-presidente Itamar Franco – um nacionalista – reverteu uma ação de seu antecessor, Eduardo Azeredo, que passou a maioria das ações da Cemig para um consórcio estrangeiro. Teve respaldo da Assembleia e das ruas.
A causa menos traumática, mas não menos difícil, é a reforma administrativa defendida por Uebel. A estrutura do Estado tornou-se pesada e com excesso de burocracia, e mudá-la tornou-se uma necessidade. A máquina pública, em todas as instâncias, tem se mostrado pesada, com excesso de postos – a maioria deles comissionada, fruto de indicações políticas -, sem que isso resulte em agilidade nas respostas a serem dadas à sociedade. Os processos continuam lentos tamanho é o número de instâncias que precisam percorrer.
Diante do que admitiu ser uma debandada, o ministro da Economia, Paulo Guedes – ora travando uma queda de braço interna por causa do teto de gastos -, tem pela frente o desafio de manter sua agenda, embora admita resistências dentro do próprio Governo. O presidente Jair Bolsonaro diz que apoia a agenda, mas, até mesmo por histórico, não é um liberal enfático como o ministro. Como o poder de agenda parte sempre do Executivo, a pauta só avançará no Congresso se o Governo atuar fortemente, mas com o presidente, e não apenas com o ministro.