Setor de beleza busca reconquistar clientes

Sindicato da categoria espera movimento de apenas 30% nas primeiras semanas, após quase 5 meses de portas fechadas


Por Sandra Zanella

09/08/2020 às 07h00

Com a migração de Juiz de Fora para a onda amarela do programa estadual Minas Consciente, que regula a retomada das atividades econômicas, os salões de beleza, as barbearias e as clínicas de estética estão entre os serviços considerados de médio risco, que voltaram a abrir as portas no sábado (8). O setor está cheio de boas expectativas na tentativa de recuperar os mais de 140 dias parados, mas também enfrenta desafios, como as adaptações estruturais e comportamentais necessárias em meio à pandemia, que segue na cidade em um patamar de transmissão viral ainda considerado alto por infectologistas. Para reconquistar os clientes que adquiriram novos hábitos durante o isolamento, empresários apostam em divulgações nas redes sociais e até em promoções, embora a situação financeira da maioria seja delicada, com empréstimos pendentes. Alguns acreditam que o movimento chegará a 70%, mas a estimativa do Sindicato Intermunicipal da Classe Econômica do Setor de Beleza e Similares de Juiz de Fora e Região (Sinterbel) é bem mais pessimista. A entidade calcula que a média de frequência do público será de apenas 30%, na comparação com a realidade antes da Covid-19.

A preparação para o reinício das atividades uniu a classe, que segue as recomendações do sindicato, divulgadas também na campanha “Beleza com Segurança”, por meio de cartazes afixados nos estabelecimentos e de vídeos publicados nas redes sociais. As exigências básicas que os profissionais precisam cumprir são o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras, que deverão ser trocadas a cada quatro horas, e a correta assepsia das mãos, antes e depois de cada atendimento. Clientes também só podem ser recebidos com a proteção facial e devem evitar acompanhantes, para não causar aglomerações. Os horários são previamente marcados, com previsão de intervalo para higienização de móveis e materiais com álcool 70%. Devem estar disponibilizados nos espaços sabonete líquido e papel toalha, além de álcool gel. Também é recomendada a medição de temperatura diária dos frequentadores e a instalação de tapetes sanitizantes nas entradas. O distanciamento de dois metros entre cadeiras tem que ser obedecido, sendo mantida a proporção de um profissional e um cliente para cada dez metros quadrados. De preferência, a circulação de ar a ser adotada é a natural, com portas e janelas abertas. Quem foi além, ainda investiu em divisórias de acrílico entre os lavatórios de cabelos e em outras “barreiras”, como nos balcões de atendimento ou nas mesas das manicures.

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“Tivemos reunião com a Prefeitura (no dia 4) para assinar o protocolo de reabertura, já costurado desde o início de julho. Estamos andando junto com o Sindicato dos Profissionais de Beleza (Sinprobel), falando a mesma língua”, garante Paulo Bitar, presidente do Sinterbel, que reúne os empresários do ramo. Ele lembra o quão sofrido foram os últimos meses para a categoria, que amargou o fechamento de quase metade (47%) dos 9.592 estabelecimentos registrados na cidade, o que resultou na demissão de 2.500 pessoas. “Como a Prefeitura não tem como fiscalizar todos os salões, vamos fazer visitas aos estabelecimentos. Esses terão que provar que estão em dia com as leis trabalhistas e os acordos, respeitando o protocolo de segurança da Covid-19”, conta Bitar. Segundo ele, os espaços que estiverem seguindo as orientações vão receber um selo de qualidade, assinado pelos dois sindicatos. “Estamos exigindo que sigam à risca o protocolo. O sindicato brigou pela abertura e vai ter responsabilidade de fiscalizar para que a doença não seja transmitida nem para os clientes e nem para os profissionais.”

A ausência do certificado nesses primeiros meses de retomada, no entanto, não significa que o local está em desacordo com as normas, já que as entidades não têm previsão de quando vão conseguir percorrer os mais de cinco mil salões, clínicas de estética e barbearias espalhados por todos os cantos do município. Cerca de 30% desses, ou em torno de 1.500, ficam na região central, incluindo parte da Zona Sul, em trecho que vai desde o Bom Pastor até o Manoel Honório e o Morro da Glória, se expandindo pelos bairros São Mateus e Alto dos Passos. Ainda conforme dados do Sinterbel, logo atrás vem Benfica, com grande concentração de salões, também presentes em quantidade expressiva em outros bairros da Zona Norte, como Nova Era e Santa Cruz. Na Zona Sul, destaca-se o Santa Luzia; na Cidade Alta, o São Pedro; e na Zona Nordeste, Santa Terezinha e Eldorado. “Vamos estipular um prazo para se adequarem. Essa visita será uma segurança a mais para os clientes confiarem nos profissionais do setor de beleza”, avalia o sindicalista.

Apesar de prever um movimento inicial de apenas 30% daquele anterior à pandemia, Bitar é otimista em relação ao futuro. “Vamos mostrar nossa organização, asseio e segurança. Gradativamente, vamos subir.” Sem previsão de festas de fim de ano ou formaturas, quando aumentam os investimentos em maquiagens e penteados, por exemplo, Bitar diz que o setor também aposta no meio virtual, como a montagem de looks para as redes sociais. “Vamos ter que nos reinventar.”

Johnatan Gerald prepara salão para garantir o distanciamento necessário ao atendimento seguro (Foto: Fernando Priamo)

Sobrevivência e novas oportunidades

O presidente do Sindicato Intermunicipal da Classe Econômica do Setor de Beleza e Similares de Juiz de Fora e Região (Sinterbel), Paulo Bitar, reforça que este é um momento muito aguardado pela classe, que tem lutado pela reabertura em busca de sobrevivência, já que as atividades estão paralisadas desde meados de março, quando foi publicado o decreto municipal com restrições ao comércio e aos serviços visando à garantia do isolamento social, apontado como medida mais eficaz pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para conter o avanço do coronavírus. “O fechamento trouxe muita depressão e pânico, inclusive com perdas de vidas de quatro profissionais. Também brigamos para retornar porque estávamos preocupados de atenderem de porta fechada, em casa ou na residência de clientes. Tivemos 12 casos de Covid nesse período, mas trabalhar dessa forma foi o jeito que encontraram para sobreviver. Mais de 80% dos profissionais são mulheres e arrimo de família, precisam trabalhar porque são elas que sustentam as casas. Além disso, muitas empresas são familiares, várias pessoas da mesma família dependem daquela renda. Recebemos muitos relatos de quem não tinha o que comer. Com o sindicato e ajuda de amigos, conseguimos distribuir 300 cestas básicas. Ainda compro leite, e uma firma doa marmitex para mulheres (em situação de risco).”

Bitar destaca que, embora reabertura não signifique recuperação econômica, este já é um passo importante. “Vai demorar um tempo para voltar ao normal. Também estamos preocupados com o que vai acontecer depois da abertura, porque (algumas empresas) criaram um passivo trabalhista, não registraram os profissionais como CLT e nem como contrato de salão-parceiro (Lei 13.352/2016). Se este acordo não for homologado pelo sindicato, o profissional é considerado empregado e tem todos os direitos trabalhistas.”

O sindicato, por sua vez, tem ajudado quem ficou desempregado ou quem foi obrigado a baixar as portas de vez a ser realocado. “Estamos fazendo um trabalho de associação dos profissionais que fecharam com outros salões de médio e grande porte, para encaixá-los dentro daqueles que conseguiram sobreviver, usando o contrato de salão-parceiro, que hoje vai ser muito importante”, explica Bitar. Segundo ele, os pequenos estabelecimentos foram os mais prejudicados, mas também tiveram empresas com 28, 33 e até 42 anos de existência que não aguentaram. Só este último salão tinha 18 funcionários com carteira assinada. “Já começamos a negociar para que retorne, e muitos trabalhadores vão voltar como MEI (microempreendedor individual). Estamos tentando melhorar o astral, mas vai ser muito difícil, vamos ter que conquistar novamente os clientes, que ainda estão inseguros.”

A estratégia para atrair o público tem sido a campanha “Beleza com Segurança” nas redes sociais e também o contato pessoal. “Alguns vão distribuir panfletos e ligar para todos os clientes”, observa o sindicalista. Cartazes e vídeos da iniciativa também serão afixados nos salões “para mostrar nossa preocupação com os clientes”.

O Sinterbel calcula que o impacto da epidemia no setor de beleza culminou em mais de 10 mil desempregados nas 108 cidades cobertas pela entidade na Zona da Mata e Vertentes. Segundo Bitar, em Viçosa, quase 500 pessoas perderam emprego, enquanto em Conselheiro Lafaiete foram 615. Os danos também foram grandes em Barbacena (340), Cataguases (200), Muriaé (180), Leopoldina (150) e Ubá (112).

Experiência ajuda a encarar desafio

O cabeleireiro e empresário André Pavam não tem dúvidas de que a pandemia proporcionou o maior desafio de seus 37 anos de carreira. Mesmo assim, ele conseguiu manter os 15 colaboradores que possui no salão que leva o seu nome, na Rua Santo Antônio, Centro, e os outros 12 em sua filial na cidade de Cabo Frio, na Região dos Lagos (RJ). A unidade fluminense foi reaberta há cerca de um mês, com queda de 40% a 50% do movimento, e a experiência de lá o ajuda a tocar o negócio em solo mineiro durante esse “novo normal”.

“Ficamos cinco meses fechados, mas os custos continuaram. Somos microempresa, que já tinha capital de giro pequeno, mas desde 2016, com a recessão, fomos descapitalizando. Obviamente recorremos a empréstimo e sobrevivemos até aqui, mas apesar de tudo o que construímos tivemos que tirar do patrimônio pessoal para manter a empresa e não ter que demitir.” Mesmo com todo esforço, André não considera a atitude heróica, e sim, uma obrigação de manter a empresa aberta e preservar os empregos. “Sabemos que o retorno não será fácil. Teremos outra trajetória a partir dessa abertura e do pós-pandemia”, projeta André, diante da própria necessidade de “redução natural do movimento” devido à diminuição da capacidade imposta pelas regras de distanciamento. “Os atendimentos que eram feitos de meia em meia hora passarão a ser realizados de uma em uma hora”, exemplifica.

Segundo o cabeleireiro, desde 2016 até o início da pandemia foi sentida uma queda de 30% no movimento do salão. “Agora será de 40% a 50%. Muitos clientes ainda não se sentirão seguros, mesmo com todo aparato. Outros foram abalados financeiramente. Em Cabo Frio, recebemos relatos de muitos que ainda estão temerosos.”

Apesar dos pesares, André segue otimista e reformulou seu espaço para receber o público da melhor maneira possível. “Estamos todos preparados dentro dos procedimentos, com álcool, recepção isolada e divisórias na área das manicures, para separar uma da outra.” Os profissionais receberam treinamento para um retorno seguro, com todos os EPIs necessários. O estúdio originalmente pensado para produção de festas vai ser utilizado também no dia a dia, permitindo o distanciamento com conforto. Os bancos de espera foram reduzidos de oito para apenas dois, já que a premissa é trabalhar com hora marcada, enquanto os clientes devem evitar acompanhantes. “Estamos nas redes sociais e começamos a convocação na terça (4). Confiamos na credibilidade em cima do talento e da responsabilidade que sempre tivemos em cuidar dos nossos clientes.”

André Pavam reformulou seu espaço para receber os clientes e treinou os profissionais para garantir um retorno seguro a todos (Foto: Fernando Priamo)

Demanda reprimida

Também apostando na sua credibilidade, o cabeleireiro Alex Paschoal conseguiu equilíbrio para não ter que reduzir a equipe do Creato Capelli Studio, instalado em Juiz de Fora há seis anos. O espaço de dois andares na Avenida Doutor Paulo Japiassu Coelho, no Cascatinha, Zona Sul, foi reformulado e conta com uma sala de atendimento personalizado para aqueles clientes, sobretudo do grupo de risco, que desejarem o menor contato possível. A antiga “sala da noiva” possui janela e permite entrada direta pelo estacionamento.

“Tivemos que fazer leves adaptações na equipe, algumas pessoas saíram, outras chegaram. Mas o principal foi adaptar o espaço para receber os clientes de uma forma segura. Isolamos algumas cadeiras para criar espaço grande entre um cliente e outro. A recepcionista é quem vai abrir a porta, e a pessoa será recebida com medidor de temperatura, tapete sanitizante e outro para secar o pé”, conta o empresário. O totem de álcool gel completa o protocolo. “Nossa equipe toda tem as máscaras de tecido e de acrílico. Na frente do cliente faremos a higienização das cadeiras com álcool 70% e papel toalha. Também fizemos divisórias de acrílico entre os cinco lavatórios para evitar que um tenha contato com outro”, completa o gestor de 11 funcionários.

Os serviços de cabelo, manicure e estética serão agendados com intervalo para higienização dos materiais não descartáveis. “Já tínhamos muito cuidado, todos os equipamentos já eram esterilizados em autoclave”, afirma Alex. A investida para a retomada, porém, foi às custas de muita dificuldade. “Tivemos que renegociar tudo, desde aluguel até fornecedores. Fizemos empréstimo para conseguir manter a equipe.

Temos muito profissionais CLT, não só MEI, então tivemos que arcar com salários, apesar das reduções e suspensões. Esperamos conseguir pagar as dívidas agora, com a volta. Nos preparamos para receber de forma segura, e muitos clientes já estão nos procurando, porque estão com cabelo grande ou há muito tempo sem fazer unha e depilação. Por essa demanda reprimida, achamos que vamos ter movimento suficiente para conseguir arcar com os compromissos”, aposta Alex, prevendo o retorno de 60% a 70% do público que tinha antes da Covid-19. Para reconquistar a confiança, ele também tem postado vídeos nas redes sociais sobre os cuidados adotados.

Manicure tem nova chance para recomeçar

A manicure Thamara Dalpra, 28 anos, perdeu o emprego após a chegada do coronavírus, assim como 2.500 profissionais da área em Juiz de Fora. Ela, entretanto, conseguiu uma segunda chance para recomeçar. “Eu trabalhava em um salão no Centro. Com a pandemia, a dona teve que fechar e abrir um salão menor, mas nem todos da equipe ela conseguiu segurar. Agora faço parte do Studio Creato Capelli, exatamente por ser um salão rigoroso com o protocolo de cuidados e higienização, com os alicates esterilizados na autoclave. Fui muito agraciada por Deus neste momento, pois estava com muito medo de ficar sem serviço”, desabafa a também mãe de uma menina de 3 anos.

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Outra mulher que transformou a adversidade em oportunidade foi Sônia Arantes, há 30 anos proprietária do Centro de Beleza e Estética Perfil, situado na Rua Paulo Garcia, em Benfica. Ela já havia diminuído o ritmo há dois anos, quando reduziu a equipe de 30 funcionários para cinco. Com a epidemia, ficaram quatro. Ao se ver de mãos atadas para trabalhar, Sônia decidiu investir no fortalecimento da classe, iniciando o movimento “Beleza nas Ruas”.

“Fiquei abalada tanto financeiramente, quanto emocionalmente. Ficamos fechados no primeiro mês, mas com as despesas de aluguel, IPTU, água, luz, telefone e os boletos de fornecedores, tivemos que voltar a trabalhar às escondidas. Me vi em uma situação em que parecia bandida e consegui apenas de 5% a 10% do movimento. Indignada, comecei a tentar fazer com que todos se mobilizassem postando coisas para clientes nas redes sociais.” Daí surgiu o “Beleza nas Ruas”, que hoje já reúne mais de 300 pessoas em dois grupos de WhatsApp. “A ideia é expor que somos necessários e mostrar que nos salões já temos todos os cuidados.”

Segundo ela, com a classe unida e a retomada das atividades, a mobilização continua nas redes sociais, desta vez para conquistar clientes. “Vamos fazer lives (transmissões ao vivo) toda semana. Precisamos nos fortalecer.” Mesmo com o déficit financeiro causado pelo período, Sônia investiu em totem de álcool gel e tapete sanitizante. “Vou controlar o fluxo de horário, e os próprios clientes serão nossos fiscais, porque se virem algo errado não vão querer frequentar. Sei que vamos ter muitas dificuldades, mas também vamos ganhar novos clientes.

Sou muito positiva e tenho certeza que vamos passar por essa adaptação”, diz Sônia, acreditando em 70% de adesão. “Mulher não aguenta ficar sem fazer as unhas e os cabelos”, aventa.

Depois de ficar abalada emocionalmente com o fechamento dos salões, Sônia Arantes iniciou o movimento “Beleza nas ruas” e agora faz planos para um recomeço seguro (Foto: Fernando Priamo)

Redução de até 50% para atrair clientes

Seguindo a recente tendência das modernas barbearias denominadas barber shop, Johnatan Gerald inaugurou o El Chapo em maio de 2019 na Rua São João. Com oito colaboradores, ele não esperava que seu negócio fosse ser tão afetado por uma pandemia, com menos de um ano de funcionamento. “Foi complicado, porque, além de IPTU e aluguel, pago duas pensões, tenho prestações de carro e despesa de casa. Me endividei com banco. Essa é a realidade que vivo há quatro meses e meio.”

Segundo o empresário, os contratos com os colaboradores são de salão-parceiro, previsto na Lei 13.352/2016, pela qual os proprietários ficam com uma porcentagem do valor dos serviços prestados para pagar as despesas decorrentes da gestão. “Mas a partir do fechamento, ficou cada um por si, alguns atendendo em domicílio. Todos concordaram, porque não houve outra alternativa. Tentei trabalhar de porta fechada para pagar as contas, mas com quatro dias a fiscalização veio.”

Jonathan também é representante das barbearias de Juiz de Fora e acredita que, neste primeiro momento, haverá perda de 60% do movimento que possuía antes da pandemia. Mesmo assim, ele espera recuperar os dias não trabalhados, de forma segura, respeitando as medidas protetivas. “Uma das alternativas que vou usar é o preço, reduzido em até 50% do que era cobrado.” Para ele, esse será um importante atrativo, já que nos bairros o valor costuma ser mais acessível. “Além de perder 60% dos clientes, também vou ganhar menos com os procedimentos. Mas a promoção é a maior ferramenta que tenho.”

O barbeiro não vê as novas regras como empecilhos para seu trabalho. “Já fazemos uso de luvas, máscaras e álcool. A única coisa nova é o distanciamento. Vou precisar reduzir os horários dos profissionais para não estarem todos ao mesmo tempo. Também investi em ferramentas para prevenção, como o termômetro infravermelho e o tapete sanitizante, mesmo sem condições de ter esses gastos. Resumindo: estou voltando endividado na expectativa de reerguer com o decorrer do tempo.”

Infectologista alerta sobre riscos de retomada

“Uma retomada segura é quando há evidência concreta de diminuição da transmissão viral na comunidade, com diminuição de casos confirmados e suspeitos, e não somente de óbitos, com queda consistente por, pelo menos, duas semanas”, alerta o infectologista Guilherme Côrtes. “Esse seria o indicador reconhecido pela ciência de segurança, de que há menos circulação do vírus e que, aí sim, poderia haver alguma flexibilização em relação às atividades econômicas. As medidas sanitárias, exclusivamente, não controlam o vírus com a mesma efetividade que o isolamento social. Essas medidas (de flexibilização) que estão sendo tomadas, com o vírus circulando ainda na cidade, aumentam, sem dúvida, o risco de intensificação do número de casos novos, de reincidência da doença, portanto, de uma aceleração da curva.”

O especialista pondera que a retomada das atividades econômicas, incluindo o setor de beleza, é necessária e desejável, já que as pessoas precisam “ganhar a vida”. “A questão é que não conquistamos a segurança devida para isso.” Na opinião dele, a quarentena não teria começado “cedo demais”, como alguns dizem, e deveria ter sido intensificada lá atrás, “caso o objetivo fosse, de fato, o controle da transmissão viral, como foi na Nova Zelândia, Portugal, Argentina, Uruguai, Alemanha, Dinamarca e Noruega”.

Diante do cenário exposto, para o infectologista, acreditar que o único caminho é reabrir a economia, porque o sistema de saúde não colapsou, é tolerar que vão continuar acontecendo casos. “Vale a pena conversar com cada um daqueles que adoeceram e com os familiares das pessoas que morreram ou estão se recuperando. É um sofrimento muito intenso. Isso não aparece nas estatísticas. Discordo do princípio que foi utilizado e do objetivo que foi traçado para o controle da epidemia.”

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