No futuro, que se lança no presente, está a salvação
“Entre a criação dos inícios e a salvação final está o tempo do meio, o nosso presente. É no tempo do meio, em que vivemos, que irrompe a esperança”
Os povos antigos em geral tinham uma concepção cíclica do tempo. Tudo o que já aconteceu voltará a acontecer. Tudo o que acontecerá já aconteceu. Nesse sentido, não esperavam uma salvação futura. Os problemas humanos seriam sempre os mesmos. Os deuses podiam ajudar ou mesmo atrapalhar os homens, mas não os podiam salvar. Os gregos, por exemplo, concebiam os humanos como essencialmente mortais. A imortalidade era só dos deuses.
Os israelitas antigos, porém, começaram a conceber as coisas de modo diverso. Eles começaram a ver que o tempo era um movimento de progressão, que constava de um início, de um meio e de um fim. No início, viram que está a ação criadora do único Deus transcendente. No meio, viram que está o povo de Deus, mas também toda a humanidade, isto é, todos nós, com nossa insuficiência e nossas limitações em uma situação de não salvação. Mas viram também que no fim está a salvação de Deus, aquela paz – shalom – que é plenitude de vida e harmonia perfeita. A expectativa do Messias, do Cristo, surge nesse contexto.
Tudo isso permitiu a esse singular povo ver que Deus cria para salvar. Entre a criação dos inícios e a salvação final está o tempo do meio, o nosso presente. É no tempo do meio, em que vivemos, que irrompe a esperança. À medida que a esperança no futuro de Deus é cultivada, esse próprio futuro se lança no presente; algo da salvação futura toca o homem aqui e agora e o transforma. Pela esperança, o homem fica de pé, busca soluções, enfrenta desafios.
Nós cristãos herdamos essa concepção progressiva do tempo, de modo que também vemos no futuro a salvação. Permitimos que o futuro entre no presente pela esperança. Só que nós acrescentamos algo muito importante: a ressurreição de Jesus de Nazaré, em quem reconhecemos o Messias. Por esta ressurreição, o futuro da salvação de Deus entrou de forma surpreendente no nosso presente, não só pela nossa esperança, mas por uma singular ação salvífica de Deus, para atrair com mais vigor o nosso tempo para o grande futuro esperado para todos.
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