Teoria e prática


Por Renato Salles

24/07/2020 às 06h58- Atualizada 24/07/2020 às 08h11

“O que faz falta de verdade é a arquibancada lotada, os coros apaixonados, a resenha na mesa do boteco, o abraço no desconhecido para comemorar o gol improvável. Futebol é calor humano. É disso que sinto saudades e aguardo em um futuro próximo.” Com este pensamento, fechei minha coluna da semana passada ao comentar sobre a retomada dos campeonatos estaduais de futebol, corrente reforçada nesta quarta-feira com o retorno dos certames paulista e gaúcho.

Sete dias depois, volto a este espaço para me debruçar sobre meu próprio discurso, partindo da teoria de que o jogo jogado sem torcida me parece mais um embate de interperíodos universitário. Hora da prática. Para um velho coração corintiano, nada melhor para testar a saúde cardíaca e qualquer tese sobre a emoção – ou falta dela – no futebol do que em um clássico entre Corinthians e Palmeiras.

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Assim me fiz de cobaia. Acordei no dia da partida sem o tradicional frio na barriga, costumeiro desde a infância. Ponto para a teoria. Venci o dia sem maiores ansiedades, o que reforçou ainda mais a tese. Aproximada a hora de a bola rolar, a abstinência parecia gritar alto, em uma espécie de recaída. Recorria a velhos antigos. Escolhi uma camisa bacana do Timão. Postei uma foto para dar sorte. Abri um chope. Pronto, lá estava eu um cadiquinho tenso à frente da TV. Ponto para a velha prática.

Mas o fato é que estava eu ali só fisicamente, sabe? O espírito parecia um tanto quanto distante. A coisa era meio mecânica, como o jogo matado aos berros pelo banco de reservas. Não deu liga. Mesmo na hora do gol da vitória – da vitória no primeiro jogo após mais de quatro meses e em um clássico contra o maior rival -, a comemoração foi pouco efusiva. Nem um xingamento sequer. Ao menos para mim, a teoria parece confirmada na prática: o futebol sem torcedor é um corpo sem alma.

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