Mulheres na política
A despeito de serem maioria nos colégios eleitorais e entre a população, as mulheres ainda estão pouco representadas nas casas legislativas e nos postos executivos
A campanha eleitoral deste ano será marcada por profundas mudanças – algumas delas definitivas -, apontando o novo normal também na política. Há uma clara preocupação dos pré-candidatos com o convencimento ao eleitor no modelo corpo a corpo, que tem sido a alternativa utilizada desde sempre, mas não dá para implementá-lo em tempos de pandemia, perante as recomendações sanitárias. As redes sociais são o melhor caminho.
Uma alternativa que chama a atenção está sendo desenvolvida pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade, organização que trabalha na formação de pessoas com mandato ou que querem entrar na política. O projeto reuniu 18 participantes de 11 partidos dos vários espectros ideológicos para ampliar a presença feminina em mandatos eletivos. Ele funciona na base da colaboração. Uma deputada ou vereadora com mandato ajuda uma pretendente, em qualquer parte do país, relatando suas experiências e estratégias para conseguir se eleger.
Em tempos de mudanças, a experiência é um atalho para facilitar o aumento do número de mulheres na política, o que tem sido um desafio dos partidos, mas nem sempre respaldado pelas lideranças. A exigência da cota de 30% de candidatas nas chapas tornou-se um mero ato burocrático, pois, ora não é cumprida adequadamente, ora tem nomes apenas para atender à lei, sem qualquer chance de vitória. No último pleito, várias denúncias de candidatas laranjas permearam o noticiário, sem que punições mais graves fossem adotadas.
Em Brasília, há um movimento estabelecendo mudanças na cota. Em vez de chapas, ela valeria para a formação das casas legislativas, isto é, o Parlamento deveria ser ocupado por um determinado percentual por mulheres. Desta forma, necessariamente, o jogo político estaria mais equilibrado. Em Juiz de Fora, por exemplo, a Câmara Municipal, a despeito da expressiva votação, como em 2016, só elegeu duas mulheres: a delegada Sheila Oliveira, que bateu na casa dos dez mil votos, um recorde na história da cidade, e a professora Ana Rossignoli, que também esteve entre os vereadores mais votados. A despeito deste desempenho feminino, só as duas tiveram sucesso nas urnas. Com a eleição de Sheila para deputada estadual em 2018, só Ana representa as mulheres numa Casa de 19 cadeiras.
Este cenário se replica pelo país afora, sobretudo no Congresso Nacional. Reverter essa realidade, principalmente com base na população e no número de eleitores, nos quais as mulheres são maioria, é o desafio a ser vencido.