Bandeira branca
Novo ministro das Comunicações prega o diálogo, mas é necessário que sua fala não se esgote na sessão de posse e seja uma proposta a ser levada à frente
Ao tomar posse, ontem, à frente do recriado Ministério das Comunicações, o deputado Fábio Faria (PSD-RN) pregou a conciliação, num discurso oportuno não só pelo momento, mas pelo fato de ter sido feito diante de atores importantes da República, muitos deles, a começar pelo presidente da República, envolvidos em constantes embates entre as instâncias de poder. Dois momentos do pronunciamento foram relevantes. No primeiro, o ministro destacou: “o grave momento também exige de nós uma postura de compreensão, de abertura ao diálogo. Se é tempo de levantarmos a guarda contra o novo coronavírus, também é hora de um armistício patriótico e deixarmos a arena eleitoral para 2022.”
Fábio Faria levantou a bandeira branca e alertou, indiretamente, que não há vencedores num embate eivado de tantos despropósitos. Num momento em que a pandemia coloca o país numa posição crítica de segundo lugar entre os que registram mais óbitos no mundo, o diálogo é a parte mais importante para o enfrentamento. Hoje, o Ministério da Saúde e as secretarias estaduais e municipais caminham em compartimentos estanques, comprometendo ações que só dariam certo se todos estivessem na mesma sintonia.
Ainda há tempo, mas os lados, como também destacou o ministro, precisam estar dispostos a mudar suas posturas. “É preciso sobretudo respeito e que deixemos nossas diferenças político-ideológicas de lado para enfrentarmos esse inimigo comum que, lamentavelmente, tem tirado vida de milhares de pessoas e gerado danos incalculáveis à economia. É hora de pacificar o país”.
Em rápido pronunciamento, o presidente Jair Bolsonaro destacou o respeito à Constituição, embora o debate em torno da hermenêutica constitucional venha sendo a pedra de toque dos debates que ocorrem pelo país afora. A leitura que se faz do principal documento do país tem sido motivo de controvérsias, sobretudo pelo uso de viés eminentemente político e de conveniência que tem sido adotado por alguns segmentos.
O diálogo republicano é a saída viável para tais impasses, sobretudo por não inibir conciliações sem que as partes precisem abrir mão de sua visão ideológica. Como foi destacado na sessão de ontem, quando o STF confirmou o inquérito das fake news, é necessário distinguir opiniões de ameaças, pois elas não se coadunam, e o que o país menos precisa agora é de enfrentamentos que levem ao retrocesso.