70 anos do Maracanã


Por Gabriel Ferreira Borges

16/06/2020 às 06h57

Não entendia o porquê o Corolla estava dando socos em plena BR-040. Afinal, não sei dirigir. Um tio diz que o maior orgulho que um filho pode dar ao pai é tirar carteira de motorista. Como sou filho único, concluo que o meu pai, conforme a lógica torpe deste tio, é desgraçado. Assumi um volante apenas por três vezes, todas elas em estradas de terra, acompanhado de meu pai. Apesar de sempre impaciente, ele mantinha a calma. Eu é que nunca tive muito interesse em carros. Mas não compreendia o porquê o carro estava socando em plena rodovia. Estava no banco de trás ao lado de uma mulher de meia idade. O carro era automático. Observava impacientemente o sujeito de rabo-de-cavalo ao volante. Por que ele pisava na porcaria do pedal de segundo em segundo?

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A inauguração do Estádio Jornalista Mario Filho completa 70 anos nesta terça-feira (16) (Foto: Gabriel Ferreira Borges)

Porém, como adverti, não tenho habilitação. Se meu tio estiver certo, frustrei este anseio paternal, embora tenha certeza de que meu pai também estaria impaciente se estivesse no carro. Estávamos a caminho do Rio de Janeiro. Assistiríamos, no Maracanã, ao confronto entre Flamengo e Santos, pela penúltima rodada do Campeonato Brasileiro de 2016. Nunca havia ido ao Maracanã, tampouco ao Rio. Até hoje foi a única, aliás. Nasci em Três Corações e por lá morei durante 18 anos. Era um tanto quanto irreal pensar em assistir a qualquer jogo do Flamengo no Maracanã. Quando resolvi ir, já morava em Juiz de Fora há dois anos. Juntei as minhas economias e fui atrás de um destes sujeitos que fazem excursão a jogos.

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O Flamengo já não brigava pelo título à época, por isso apenas duas outras pessoas demonstraram interesse em assistir ao jogo. Para economizar, o sujeito de rabo-de-cavalo resolveu nos levar no próprio carro. A mulher de meia idade ao meu lado era simpaticíssima, apesar de falar muito para uma manhã de domingo. Eu lhe disse que ficaria no setor norte, junto com a Raça. Neste Maracanã, creio não haver melhor lugar. Se o antigo fosse, certamente ficaria na geral. Ela, no entanto, ficaria mais próxima ao setor central, beirando a mureta. Me contou que Diego sempre comemorava os gols na frente do local. O Diego fez o segundo gol do Flamengo na partida e foi comemorá-lo justamente onde ela estava. Imagino que ela tenha ficado satisfeita, não lhe perguntei.

Entramos no Maracanã depois de bebermos por algumas horas em um boteco ali das redondezas. Estava ansioso, apesar de carregar na memória o antigo Maracanã. De qualquer maneira, era o Maracanã. Quando caminhei por um dos túneis de acesso e me deparei com a visão panorâmica, não conseguia parar de sorrir. Lembrei-me do meu pai, que nunca foi ao Maracanã – bem da verdade, a nenhum jogo do Flamengo. Certa feita, o meu avô foi ver o Flamengo do Zico em Lavras, mas não o levou. Sempre assistíamos aos jogos do Atlético Tricordiano no Elias Arbex pelas divisões inferiores. Ainda o levarei ao Maracanã. Espero que fique orgulhoso por eu não ter tirado carteira de habilitação. Por que o sujeito de rabo-de-cavalo não segurava o pé na porcaria do acelerador?

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