Saudáveis num mundo doente?
“É reconfortante saber que o Papa Francisco está atento ao sofrimento dos povos de nossa América e mostra sua solidariedade especial com os povos indígenas da sua querida Amazônia.”
No meio dessa pandemia que abriu espaço a tantos desatinos – inclusive no Ministério da Saúde, agora conduzido pela lógica militar -, é reconfortante saber que o Papa Francisco está atento ao sofrimento dos povos de nossa América e mostra sua solidariedade especial com os povos indígenas da sua querida Amazônia. Na oração do Angelus do dia 7 de junho, ele deu graças a Deus por ter superado a pandemia, mas alertou: “Não cantem vitória antes! Não cantar vitória demasiado cedo! Também permanece a necessidade de seguir cuidadosamente as normas vigentes, porque são normas que nos ajudam a evitar que o vírus siga adiante. Graças a Deus, estamos saindo do centro mais forte, mas sempre com as prescrições que as autoridades nos dão.”
Dito isso, acrescentou: “Mas infelizmente, em outros países – eu penso em alguns -, o vírus ainda está provocando muitas vítimas. Sexta-feira passada, num país, morreu um por minuto! Terrível! Desejo expressar minha proximidade a essas populações, aos doentes e a seus familiares e a todos aqueles que cuidam deles. Aproximemo-nos com a nossa oração”. Bem sabemos qual é este país onde a cada minuto morre uma pessoa humana…
Mas Francisco não se limitou a expressar sua solidariedade às famílias que sofrem a perda de seus membros. Sempre fiel à mensagem central da encíclica Laudato si’ – “clamor da Terra, clamor dos Pobres” – o Papa dirigiu uma mensagem ao presidente da Colômbia, país que sediou (de forma virtual) a celebração do Dia Mundial do Meio Ambiente, para falar da conscientização e das ações conjuntas em defesa da Terra. Neste ano em que os compromissos de preservar e restaurar a biodiversidade devem ser reafirmados na 15ª reunião da Conferência das Partes (COP15) na Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, a realizar-se em Kunming, na China, o Papa aponta o caminho da vida: “Diante das adversidades, sempre se abrem novos caminhos para estar unidos como uma grande família humana”.
E o primeiro passo para superar uma adversidade é diagnosticá-la: “Não podemos pretender ser saudáveis num mundo doente. As feridas causadas à nossa mãe Terra são feridas que também sangram em nós”.
Aí reside a causa da atual doença da humanidade: em vez de respeitar os ecossistemas, o sistema econômico atual fica “no imediato, buscando um lucro rápido e fácil.” Diante dessa realidade, “nossa atitude em relação ao presente do planeta deve nos comprometer e nos tornar testemunhas da gravidade da situação.” E continua: “Não podemos ficar calados diante do clamor quando comprovamos os custos muito elevados da destruição e exploração do ecossistema; não é hora de continuar olhando para o outro lado, indiferentes aos sinais de um planeta que está sendo saqueado e violado pela avidez da ganância e em nome, muitas vezes, do progresso”.
E assim, conclui o nosso Papa: “Está em nós a possibilidade de inverter a marcha e apostar num mundo melhor, mais saudável, para deixá-lo como herança às gerações futuras. Tudo depende de nós, se realmente desejamos”. A mensagem termina encorajando quem assume a tarefa, “para que suas decisões e conclusões sejam sempre a favor da construção de um mundo cada vez mais habitável e de uma sociedade mais humana”.