A vida após a pandemia
Apesar do título otimista dessa coluna, não está claro de que estamos nos aproximando desse período… Haverá vida, certamente, mas precisaremos reinventá-la em todos os sentidos! No entanto, ainda falta muito para passarmos a tormenta, e isso depende do engajamento de todos, da preocupação verdadeira e da orientação firme e clara das autoridades, do apoio aos que estão prestando os cuidados aos atingidos pela doença e para os que pesquisam formas de tratá-la ou preveni-la e do auxílio aos que sofrem seus efeitos sociais e econômicos. Tudo que não está sendo feito!
“A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades”, afirmou o Papa Francisco durante a bênção extraordinária Urbi et Orbi pelo fim da pandemia. “Estamos num mesmo barco”, onde os mais frágeis naufragam primeiro e os que estão nas melhores cabines acreditam que há botes salva-vidas para seus velhos métodos de exploração das gentes e da Terra! Não aprendemos nada?
A vida após a pandemia é o título de uma coletânea de oito textos, falados ou escritos por Francisco, que apontam algumas direções para reconstruirmos um mundo melhor e, ao mesmo tempo, ofertam sementes de esperança que podem ser plantadas, cuidadas e colhidas futuramente.
Ao longo desses textos, há a exigência de um duplo olhar, isto é, para trás e para frente! O Papa exige “ânimo e honestidade daqueles que detêm o poder, que tomam as decisões, exige coragem de olhar para trás e assumir que deixamos muitas pessoas pelo caminho, na esteira do desenvolvimento. Ele pede audácia solidária e afirma que é chegada a hora de pensarmos com objetividade as atividades econômicas em nossa sociedade, indicando que desejar voltar rapidamente ao que vivíamos antes da pandemia pode ser o mais cômodo e prático, mas não é a melhor opção”.
Na perspectiva do olhar para o futuro, pós-pandemia, se insere o texto seguinte titulado “Nos preparar para o que vem depois.” Nele, Papa Francisco apresenta uma percepção das diferentes respostas perante a pandemia, saudando os que colocaram o cuidado das pessoas e a preservação de suas vidas à frente dos interesses econômicos, sem deixar de se preocupar com o que virá em seguida, como a fome, o desemprego e a violência.
Nos textos seguintes, o Pontífice trata da reconstrução como uma verdadeira Páscoa. Exalta os profissionais de saúde que colocam em risco suas vidas para cuidar da vida do próximo; chama de “poetas sociais” os invisíveis que operacionalizam a solidariedade e a paz; lembra também dos migrantes, refugiados e moradores de rua que enfrentam a pior face da crise; retoma o papel corajoso e esperançoso das mulheres que combatem a ansiedade e a destemperança, com vivências, desafios e saberes; afirma que devemos vencer primeiramente o vírus do egoísmo; e evoca os saberes ancestrais dos povos tradicionais como caminho para amar a terra e criar um possível bem-viver! A mensagem final é a de que derrotaremos a pandemia com os anticorpos da solidariedade, e essa é uma semente de esperança que nos convida a plantar!
Uma esperança viva como pregava padre Antonio Gabriel, brutalmente assassinado após celebrar uma missa na roça, a quem prestamos nossa homenagem. Em sua última homilia, insistindo na mensagem de amor do Evangelho de João, denunciou os poderosos que a corrompem e se solidarizou com os que sofrem. Viveu e morreu como um profeta de nosso tempo!
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