Artistas locais mostram novos trabalhos nas plataformas digitais

Bandas Obey! e Mauloa e cantor Maycon’V


Por Júlio Black

15/05/2020 às 07h00

Quem gosta de música já pode acrescentar novos sons às suas respectivas playlists nos serviços de streaming preferidos e demais plataformas digitais. Artistas juiz-foranos lançaram singles nas últimas semanas: as bandas Obey! e Mauloa e o cantor Maycon’V.

Neste mês, a Obey! chegou com chumbo grosso ao lançar o single “Errante”, antecipando o EP que o quinteto espera gravar ainda este ano. A capa, uma ilustração criada pelo artista juiz-forano Felipe Spinelli e inspirada em “Dookie”, do Green Day, contém citações a várias situações do Brasil atual, também refletidas na letra e na sonoridade, em que o rock pesado e melodioso ganha a adição de elementos do hardcore.

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Com as atividades paradas por causa da pandemia, Obey! lança música conectada ao Brasil de 2020 (Fotos: Divulgação)

Sem aliviar na crítica política e social, “Errante” busca mostrar a polaridade existente no país e a dificuldade dos opostos conseguirem o mínimo diálogo possível, além de apontar o retrocesso e a ignorância que dão a tônica, atualmente, no núcleo do poder.

E a música chega no calor do momento. De acordo com o guitarrista Douglas Rodrigues, “o single foi gravado ainda no começo da crise, o que fez a gente tomar várias precauções de distanciamento e redução de pessoas no estúdio. A música já estava pronta desde o ano passado, quando a gente estava compondo material para o novo EP, que, na época, planejávamos lançar ainda no primeiro semestre de 2020. Vendo toda crise sanitária, e ainda a crise política que esse governo autoritário e irresponsável prega sistematicamente, não podíamos deixar de soltar esse grito que é a ‘Nação Errante’”, afirma.

“Mas fizemos com responsabilidade. Adotamos várias medidas restritivas, distanciais, higienizamos o estúdio inteiro e diminuímos o número de pessoas na sala de gravação ao mínimo.” A gravação rolou, nas palavras dele, “praticamente em casa”, no estúdio/bar Rise Together, administrado juntamente com Tierez Oliveira, que gravou e produziu o single com a banda. “O estúdio está com as atividades pausadas e reabriu especificamente para esse single, assim como o bar também está funcionando apenas no delivery.”

Outro destaque em “Errante” é que ela é a primeira música da banda composta por Douglas. “Tendo em vista nos últimos dois anos toda essa polarização, radicalização absurda e o retrocesso e a ignorância tomando conta dos mais altos cargos no país, enquanto muitos ouvidos se mantém fechados, essa música surgiu como um desabafo perante aos mesmos erros cometidos do passado. De Fernando Collor ao Regime Militar”, aponta o música.

Douglas acrescenta, ainda, que o trabalho aponta a direção que deverá ser ouvida quando o EP se tornar realidade. Para ele, é possível afirmar que a Obey! atingiu um ponto mais crítico e ativo tanto para o single quanto para o futuro trabalho. “Naturalmente o som da banda ganhou mais ataque e energia para fluir com tudo que temos a dizer. O som reflete nossa indignação e nossa sede por mudança. Ainda estamos estudando como a banda vai funcionar nesses tempos de isolamento. Outra gravação agora em meio ao auge da Pandemia está fora de cogitação”, adianta. “Estamos aguardando para fazer os próximos movimentos com responsabilidade e respeito a todos juiz-foranos e brasileiros. Estamos trabalhando a distância para fazer algumas lives, e músicas novas podem surgir daí em versões demo.”

“A banda está mais do que nunca atenta ao que se passa no país”, acrescenta. “Mais ciente do que nunca do papel cultural e social que tem, e isso com certeza vai refletir no som daqui em diante. Não perdemos nossa essência, o sentimento, e a música é o que nos move, e isso tudo está muito conectado com a vivência que a gente tem do mundo nesse momento tão crítico.”

Discussão ainda pertinente

No caso da Mauloa, o lançamento de “Seu Doutô” aconteceu em abril, mas o single _ que conta ainda com um “lado B”, “Doctor’s Dub”, foi gravado entre maio e dezembro de 2019 no Sonidus Estúdio, com produção da banda e de Henrique Villela. O lyric vídeo da música pode ser conferido na página da Mauloa no YouTube.
Com participações especiais de Hugo de Castro (Soul Rueiro) e Diogo Veiga (Nagô Reggae Instrumental), “Seu Dotô” tem como tema principal o preconceito que ainda existe em relação ao uso da cannabis, ainda que a planta já tenha inúmeras comprovações e utilizações na medicina. Como exposto no material de divulgação, a música serve para o grupo marcar “os passos da marcha de quem luta contra todo resquício fascistóide de nossas políticas públicas”.

Depois de debater com o público sobre o uso e o preconceito contra a cannabis, Mauloa chega com o single ‘Seu Dotô’

“A música, que já existia há algum tempo, reflete nosso posicionamento pessoal em relação à política de proibição da cannabis no mundo, com foco no Brasil”, diz o guitarrista Tiago Croce, acrescentando que, como não há espaço em apenas uma canção para toda a informação que desejam passar, ela vem como um meio para instigar a pesquisa, o pensamento crítico e a quebra de paradigmas por parte de uma sociedade que, segundo eles, “precisa perceber urgentemente quais seriam os reais pontos de impacto da legalização, sendo que alguns foram abordados por nós no minidoc, que pode ser assistido no Instagram da banda ou dividido nos perfis dos integrantes.”

Com o tema na roda, ao ser perguntado sobre o preconceito na sociedade em relação à cannabis, Tiago acredita que existe, hoje, uma diferenciação grande entre o uso medicinal e recreativo. “No âmbito medicinal, vemos um crescimento de estudos, produção e liberação de compostos derivados da planta, que, por serem efetivas em tratamentos, geraram um maior respeito e aceitação na comunidade. Em relação ao consumo recreativo, o que posso dizer com toda a certeza é que tem muito mais gente fumando maconha por aí do que se imagina”, afirma.

“O consumo abrange as mais diferentes classes, etnias, gêneros, posições políticas e tipos de agentes sociais, o que muda é o perigo e o nível de exposição que o ato causa nas diferentes camadas”, aponta. “O preconceito continua a ser reproduzido, e utilizo essa palavra em específico porque acredito que muitas das cabeças que influenciam essa prática possuem informação e discernimento para tratar a causa, mas o discurso de manipulação é muito interessante para uma classe que lucra financeiramente com a proibição. Somado à história de como a planta chegou ao Brasil, trazida por nativos africanos que vieram escravizados, percebemos que a raiz do preconceito à erva abrange muitas questões-chave de um comportamento geral que se tornou comum por aqui.”

Para promover o single e também ampliar a discussão sobre o tema, a banda _ além do minidoc _ realizou dez transmissões ao vivo no Instagram para debater a questão com o público. “A resposta foi muito interessante. Conseguimos conversar bastante e elucidar algumas questões, tanto nossas quanto do público. Porém, nem tudo são flores, e acredito que, muito por causa do preconceito já citado, grande parte dos participantes já eram pessoas familiarizadas com o tema, com alguma informação concreta a respeito. Como a nossa principal missão com esse lançamento é mudar paradigmas pessoais para que reflitam no todo, acho que a relutância na participação de um público que discorda ou não tenha opinião formada fez falta. Mas temos o lyric video pra instigar a parte que não participou, o minidoc para informar, todo um trabalho fotográfico e um clipe de dub que vem para divertir”, comenta Tiago. “Lembro ainda que os perfis da banda estão sempre abertos à troca de ideias, então, convidamos a todos para esse mundo novo que podemos construir juntos!”

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Com inspiração nas divas pop

No mês passado, a música pop local ganhou para valer mais um nome. Nascido em Eugenópolis, mas há seis anos radicado na cidade, o cantor Maycon’V lançou o single “Desce tequila”, canção de pop-funk que pode ser ouvida no Spotify e pelo seu canal no YouTube.

Maycon’V fala sobre seu primeiro registro sonoro oficial, ‘Desce tequila’, no streaming

A música, que marca a estreia do artista no mundo da música, tem produção de Rudi Schroder, da produtora RD Gangue, e foi concluída em outubro de 2019, mas só agora lançada.

“A letra é minha, a partir de uma história que criei na minha cabeça. Demorei a lançar porque trabalhei para ser uma música bem comercial, que as pessoas gostassem e que fosse animada, que é o que eu queria em primeiro lugar”, explica Maycon’V, que fala com orgulho das suas principais influências.

Minha maior influência é a Beyonce. Ela me mostrou o que eu queria ser como artista. Tem também a MC Xuxú, que me deu a oportunidade de apresentar a ‘Desce tequila’ no Bloco da Benemérita e é uma grande amiga, e a Linn da Quebrada. São nomes do mundo LGBT que me mostraram que eu poderia ser um artista.”

O lançamento do single, porém, veio em meio ao caos da pandemia, e, por conta disso, Maycon’V prefere esperar para definir quais serão os projetos. “Nós gravamos o videoclipe para ‘Desce tequila’, mas vamos esperar para ver se continuamos trabalhando a música ou vamos para a próxima. De qualquer forma, a intenção é lançar mais músicas, parcerias, chamar a atenção do público de fora para a cidade. Minha meta como artista é ser conhecido a nível nacional. Não há um artista pop homem no topo das paradas, e quero ocupar esse espaço, chegar lá em cima. Mas com muito planejamento, trabalho duro, parcerias, pois é assim que acredito que as coisas funcionam, recebendo e dando apoio e fazendo as coisas de forma correta.”

 

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