Desafios do SUS
Maior programa de atendimento do mundo carece de gestão mais eficiente e, sobretudo, recursos para cumprir as metas que orientaram a sua criação em 1988
Maior sistema de atendimento do mundo, o Sistema Único de Saúde brasileiro, com a pandemia do coronavírus, vive provavelmente o seu maior desafio, uma vez que, ao mesmo tempo, milhões de brasileiros vivem às portas das unidades de saúde e dos hospitais em busca de atendimento. Nessa quinta-feira, em entrevista à Rádio CBN Juiz de Fora, no programa Pequeno Expediente, o professor doutor Weden Alves, professor associado da Faculdade de Comunicação da UFJF e que tem o SUS entre as suas linhas de pesquisa, realçou o projeto e a sua importância para o país, sobretudo por atuar com apenas 10% dos recursos que são carreados para programas similares, como o NHS, do Reino Unido, cujo atendimento chega a 60 milhões de pessoas. O SUS atende mais de cem milhões.
O professor indicou, ainda, as demandas do SUS nacional, que vão além dos similares estrangeiros, que cobram, por exemplo, pelo atendimento ambulatorial. Essa, como ele também destacou, é uma das causas do expressivo número de mortes nos Estados Unidos, já que a população mais carente não tem meios para cobrir os custos de internação na rede hospitalar nem meios para pagar a remoção.
A Constituição Federal de 1988 estabelece que é dever do Estado garantir saúde a toda a população brasileira, o que foi consolidado com a criação do SUS. Foi uma luta iniciada ainda nos anos 1970, quando vários movimentos se engajaram numa campanha para solucionar os problemas encontrados no atendimento da população.
A concepção do sistema é, de fato, perfeita, mas ao curso dos anos o seu gerenciamento tornou-se um problema, sobretudo pelas mudanças constantes nas políticas de saúde. Mesmo assim, e com recursos aquém das suas necessidades, ele se revela fundamental para o enfrentamento à Covid-19. O problema está na infraestrutura de hospitais públicos que não suportam o fluxo de pacientes, revelando um impasse de anos. Antes mesmo da pandemia, a rede pública já tinha sérias dificuldades para cumprir os propósitos estabelecidos pela Constituição cidadã. É só buscar no noticiário notas e imagens de pacientes expostos em corredores de hospitais à espera de atendimento. Agora, a situação se agrava, mas é possível, a partir daí, considerar que, com investimentos, o jogo na rede pública pode ser virado.