Profissionais de saúde prestam homenagem a técnico de enfermagem
Com faixa estendida, grupo se reuniu no pátio do HPS na noite de quinta-feira; carreata está prevista para sábado
Profissionais de saúde se reuniram no pátio do HPS, por volta das 21h de quinta-feira (23), para uma homenagem ao técnico de enfermagem Agnaldo do Nascimento Emidio, 41 anos, que teria sido o primeiro trabalhador da categoria morto após infecção pelo novo coronavírus (Covid-19) em Juiz de Fora. O ato pacífico foi organizado pelo Sindicato dos Servidores Públicos de Juiz de Fora (Sinserpu-JF) e pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Cipa) do HPS. Os profissionais estenderam no local uma faixa com os dizeres: “A enfermagem está de luto! Descanse em paz Agnaldo!”
“Nos reunimos lá fora e formamos um círculo, simbolizando um grande abraço. Começamos com uma oração, e alguns colegas falaram em homenagem e respeito ao Agnaldo, à família dele e à nossa profissão. Foi muito emocionante”, contou a diretora do Sinserpu-JF, Deise da Silva Medeiros. “Tiramos uma foto, fazendo coração com a mão, para demonstrar o amor e carinho pelo outro e o quanto a gente ama a profissão que escolheu”, continuou Deise. “A Cipa tem responsabilidade com a segurança do trabalhador, por isso entendemos a importância de a comissão estar presente. E o Sinserpu, por sua vez, é o sindicato de luta, que representa o trabalhador e está consternado com essa situação”, finalizou a sindicalista e também profissional de enfermagem.
Agnaldo esteve internado no CTI do HPS desde o dia 12 deste mês e faleceu na última quarta (22), sendo sepultado no mesmo dia no Cemitério Municipal, sem velório, conforme as recomendações para as mortes em decorrência da pandemia. No boletim epidemiológico publicado pela Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) no dia seguinte, quando mais três óbitos de vítimas da Covid-19 foram confirmados no município, totalizando cinco mortes causadas pela doença na cidade, a PJF informou que uma delas havia sido de um paciente de 41 anos, com doença cardiovascular crônica, cujo óbito foi registrado na quarta. A Secretaria de Saúde, no entanto, não confirmou tratar-se de Agnaldo, porque uma portaria do Sistema Único de Saúde (SUS) assegura que “as autoridades de saúde garantirão o sigilo das informações pessoais integrantes da notificação compulsória, que estejam sob sua responsabilidade”.
Nova homenagem
Uma carreata em homenagem ao técnico de enfermagem também está sendo convocada pelas redes sociais e prevista para acontecer neste sábado (25), a partir das 16h, com saída da Avenida Rio Branco, na altura do Carrefour. “Não se trata de nenhum tipo de manifestação, nosso intuito é o de prestarmos homenagem a um profissional de enfermagem dedicado, prestando condolências, pois não tivemos a oportunidade de nos despedirmos”, diz o convite, que orienta todos a irem de máscaras e evitarem aglomerações.
Profissionais de saúde com suspeita de Covid-19
Agnaldo trabalhava no setor vermelho (casos graves) da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte. A direção, no entanto, afirmou que não há como vincular o contágio de profissionais de saúde com a unidade, “visto que o vírus é de disseminação comunitária, e vários funcionários prestam serviço em outros estabelecimentos de saúde”. A empresa terceirizada responsável pela administração da UPA Norte também enfatizou que, conforme dados epidemiológicos da Vigilância Sanitária de Juiz de Fora, até o dia 22 não houve caso confirmado de paciente com Covid-19 atendido na unidade.
Após denúncias de quatro médicas e de uma técnica de enfermagem sobre falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) na UPA Norte durante a segunda quinzena de março, publicadas na Tribuna no dia 17 deste mês, a PJF informou que trabalha na abertura de processo administrativo sobre a gestão. Uma notificação foi enviada no mesmo dia, sendo recebida pela empresa responsável na segunda (20). A administração da UPA, ligada ao grupo do Hospital São Vicente de Paulo, tem cinco dias úteis para responder, mas já adiantou à Tribuna que o uso correto dos EPIs entre seus colaboradores sempre foi uma das prioridades, tendo se empenhado para se adequar diante da instalação do risco de pandemia. Uma denúncia sobre a falta de EPIs na UPA Norte também foi protocolada no Conselho Regional de Medicina em 19 de março.
Reportagem publicada na última terça (21) mostrou que quase cem integrantes da linha de frente, como médicos, enfermeiros e outras especialidades, estavam afastados de seus postos de trabalho em Juiz de Fora por causa de suspeita de infecção pelo novo coronavírus até o início desta semana. Deste total, 14 já haviam realizado os testes e são considerados casos confirmados de Covid-19, segundo informações da Secretaria de Saúde. Outros 84 apresentaram sintomas de síndrome gripal e ainda aguardavam os resultados em isolamento. O número representava cerca de 6% do universo de casos suspeitos na cidade até aquela data.