Cedo para definir
TSE já admite adiar data das eleições, mas o entendimento é de atrasar o pleito, e não cancelá-lo, como querem os defensores da eleição geral em 2022
Ao ser eleito ontem presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Luiz Roberto Barroso destacou ser cedo para adiar as eleições, mas admitiu que, em havendo tal necessidade, que se faça um adiamento mínimo, sem, no entanto, se fixar em alguma data. Advertiu, porém, que adiar é uma coisa, cancelar é outra. Alguns setores defendem um pleito geral em 2022. No seu pronunciamento, o ministro revelou que conversou com cada um dos membros do TSE e “não apoiamos cancelamento de eleições, para que elas venham a coincidir com 2022”. Mais claro do que isso impossível.
O ministro, que toma posse em maio, foi enfático ao dizer que “todos nós consideramos que as eleições são um rito vital para a democracia e, portanto, assim que as condições de saúde pública permitam, nós queremos realizar as eleições”. Sua posição é uma ducha de água fria no projeto a ser apresentado pelo deputado Aécio Neves, que pretende transferir as eleições para 2022, a fim de se fazer um pleito de alto a baixo, isto é, de prefeito à Presidência da República.
Tal experiência não é inédita. Em 1982, fez-se essa tentativa, e o resultado não agradou, pois os eleitores misturaram a agenda nacional com o debate de temas locais. A separação visa, sobretudo, essa questão. Uma eleição nacional tem um forte viés ideológico, como foi possível verificar no último pleito, quando esquerda e direita se digladiaram até o segundo turno, culminando com a vitória do ex-deputado Jair Bolsonaro, que sempre militou no campo conservador.
Para o pleito municipal, o processo é outro, a despeito de – pelo perfil dos nomes apresentados em Juiz de Fora – haver a possibilidade de alguma ideologização dos discursos. Entretanto vai prevalecer a questão local. O eleitor, de direita, esquerda ou centro, tem demandas imediatas que são resolvidas na instância local, e são elas que vão cobrar dos candidatos.
A eleição geral de 1982 não deu certo e acabou sendo a última, voltando o país à separação. Há quatro anos, foram eleitos prefeitos e vereadores; em 2018, o país elegeu presidente e vice, governadores e vices, senadores, deputados federais e deputados estaduais. Para o dia 4 de outubro, está marcada a sucessão municipal, que pode ser adiada por causa da pandemia, mas o que preocupa, de imediato, são os prazos processuais que estão em curso, a começar pelas convenções, nas quais há aglomeração. A extensão da pandemia será definidora desse evento no qual são homologadas as candidaturas.