Achatamento da curva
Diante de uma ruptura social sem precedentes, é importante adotar medidas que permitam uma resposta rápida do setor produtivo
Enquanto autoridades públicas de saúde e epidemiologistas traçam cenários preocupantes para a evolução do coronavírus no Brasil, outro grupo de especialistas vê o estabelecimento de uma ruptura sem precedentes na economia mundial e brasileira. E por quê? Porque o impacto no setor produtivo virá da evolução de uma pandemia, cujas medidas de combate propõem uma paralisação súbita na economia, tendo as pessoas que se distanciarem umas das outras. É o que já está acontecendo com fechamento de escolas; restrições a bares, restaurantes e grandes eventos; e cancelamento de viagens e voos.
Um norte dado pelos profissionais de saúde de como deve se comportar a doença e sua durabilidade está no gráfico que mostra a curva padrão da evolução do coronavírus até agora. Se tudo ocorrer no nível ideal, a pandemia deve afetar o Brasil até o final do ano. Isso porque a estratégia que vem sendo adotada pelas autoridades tenta desacelerar a disseminação do vírus, para que o número de casos se espalhe ao longo do tempo, em vez de sofrer picos acentuados no seu início. É o que os especialistas falam em “achatamento da curva” da doença, necessário para não colapsar o sistema público de saúde e evitar mortes.
Estas medidas, no entanto, devem promover uma forte e prolongada paralisação na oferta e na demanda mundial. No Brasil, a situação é vista com maior temor, diante da fragilidade da nossa economia. E os dados já mostram que isso é uma realidade. A Bovespa, acompanhando as bolsas mundiais, abriu mais uma vez em forte queda nessa segunda-feira, caindo 12,52% logo no começo do pregão e acionando circuit breaker pela quinta vez em março. Dados da China, também de ontem, mostram que é realmente preciso agir: lá, a produção industrial despencou 13,5%, o pior índice em três décadas nos dois primeiros meses de 2020.
Por isso, muitos economistas têm sido unânimes em alertar para a necessidade de o Governo agir rápido, com medidas de estímulo. Ontem, o Conselho Monetário Nacional (CMN), justamente para injetar mais recursos na economia, anunciou duas medidas que vão facilitar a renegociação de crédito de famílias e empresas. No entanto, há quem defenda ir além. Entre as sugestões, há propostas de incremento de verbas para a Saúde, permitindo uma resposta rápida à doença; de disponibilização de crédito para pequenas e microempresas; e de investimento de recurso público em serviços de infraestrutura, pela sua conectividade com a construção civil, que tradicionalmente emprega mais trabalhadores.
A proposta é gerar a movimentação na economia, pois, se a premissa é de ruptura social, é importante adotar medidas momentâneas e favorecer uma resposta rápida do setor produtivo.