Futebol, o injusto


Por Bruno Kaehler

04/03/2020 às 07h00- Atualizada 04/03/2020 às 07h05

Quiseram os deuses do futebol que na receita para a maior popularidade do planeta no esporte houvesse a força do imprevisível. Que nem sempre o time mais estruturado alcance o sucesso. Que os afogados financeiramente ganhem oxigênio para mais de uma temporada em virtude de 90 minutos dos sonhos. Mais que em qualquer outra modalidade coletiva. Mas que a arte da bola nos pés tivesse na mesma proporção, paixão e injustiça.

Quiseram os deuses do futebol que tais características fascinantes enchessem o coração de torcedores com títulos como o do Leicester, na Premier League; que o Pelotas fosse campeão da Recopa Gaúcha; o Caxias vencedor do primeiro turno do Estadual no Rio Grande do Sul. Que um clube juiz-forano chegasse à Série B do Campeonato Brasileiro sem estrutura de terceira divisão nacional, sequer. Ótimo para os torcedores de arquibancada, aqueles que, no fim dos mandatos, nos acessos ou rebaixamentos, são os que ficam.

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Imprevisível ou não, contudo, a possibilidade do sucesso por linhas tortas é uma via de mão dupla. Ela também leva clubes a buscarem caminhos curtos e taparem o sol com uma peneira. O investimento em base, estrutura e conhecimento pode ser postergado. O importante passa a ser o resultado imediato. É o movimento político.

Automatiza-se o processo de injustiças. Ganhou o jogo, tudo está certo. Perdeu? Hora de mudar. Quando o correto, na verdade, deveria ser analisar cada situação. Ganhou o jogo? Ótimo. Mas a vitória ocorreu de que forma? O time se mostrou organizado ou achou um gol e foi pressionado durante os outros 89 minutos? Perdeu? Mas a derrota veio por um time confuso em campo ou consciente das ações com e sem a bola? Há espaço para a evolução? O trabalho do dia a dia é bem realizado e foi colocado em prática?

Questões simples que não são colocadas na mesa em todas as regiões do país no futebol. E em Juiz de Fora não poderia ser diferente – na verdade, deveria ser há muito tempo! São necessárias quatro rodadas para atribuir a culpa a um profissional entre mais de 30 em um clube. O mesmo período fornecido para que este funcionário, ao lado de poucos outros, formasse, do zero e sem recursos, uma equipe e recebesse nas costas a obrigação de um acesso.

É mais fácil. É imediato. Os cursos da CBF deveriam ser voltados às mágicas. Ah, “futebol”, como você é injusto.

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