Pixar lança seu 22º longa: “Dois irmãos – Uma jornada fantástica”

História lida com temas como a ausência dos entes queridos e falecidos e as tradições que se perdem com o progresso e o avanço da tecnologia


Por Júlio Black

05/03/2020 às 07h00

Graças à magia, Ian e Barley terão a chance de passar um dia com o pai, mas não será tão fácil quanto poderia parecer (Foto: Divulgação)

Quando lançou “Toy Story”, em 1995, a Pixar revolucionou a animação, entre outras razões, pela qualidade técnica da produção, mas também por conseguir superar a Disney – que comprou o estúdio em 2006 – na criação de filmes originais não somente pelos universos e ambientes retratados, mas por levar para a tela grande temas complicados como solidão, morte, depressão. Filmes do nível de “Up – Altas aventuras”, “Divertida Mente”, “Toy Story 3”, “Viva – A vida é uma festa” e “WALL-E” emocionam crianças e adultos. “Dois irmãos – Uma jornada fantástica”, que estreia nesta quinta-feira (5), chega com a promessa de fazer parte do time de acertos do estúdio.

Dentre as questões abordadas pelo filme, talvez a mais importante seja a saudade de quem se foi, principalmente quando essa pessoa partiu cedo demais, e como seria ter esse alguém de volta às nossas vidas, nem que fosse por apenas um dia. Essa foi a proposta do diretor Dan Scanlon (“Universidade Monstros”), que escreveu o roteiro com Jason Headley e Keith Bunin a partir de sua experiência pessoal, pois ele e o irmão perderam o pai quando ainda eram muito jovens. De acordo com Scanlon, saber como era seu pai sempre foi uma questão presente na vida da dupla, e sonhar que poderiam reencontrá-lo, por um dia que fosse, era um sonho recorrente.

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É este sonho que pode se tornar realidade em “Dois irmãos – Uma jornada fanástica”. Os protagonistas são os irmãos elfos Ian e Barley Lightfoot, que vivem no subúrbio de New Mushroomton, uma entre tantas cidades de um mundo povoado por criaturas mágicas como gnomos, fadas, trolls, sereias, elfos, centauros, unicórnios, dragões. A magia, porém, tornou-se rara com o passar do tempo, por conta de dificuldade em controlá-la, e a maioria das criaturas preferiu abraçar a tecnologia e o progresso, com seus automóveis, estradas e badulaques eletrônicos. É uma realidade tão mundana que dragões foram domesticados como cães e gatos e unicórnios reviram o lixo como se fossem guaxinins. Barley, o mais velho, é extrovertido, fanático por RPG e aventureiro; Ian, por sua vez, ainda está no meio da adolescência, é mais retraído, tímido, com problemas de autoconfiança. Um dos principais motivos é a ausência de uma figura paterna – o pai deles, Wilden, morreu de uma doença grave pouco antes do nascimento de Ian.

Apesar das diferenças, os dois são muito unidos, e essa união e as diferenças que se completam serão essenciais para o desenvolvimento da trama. Quando Ian completa 16 anos, os irmãos recebem um presente tardio do pai: um cajado e uma joia mágica, uma carta e um guia para o feitiço que pode fazer Wilden ressuscitar por um dia. O feitiço, a princípio, parece não funcionar quando invocado por Barley, mas Ian descobre que é capaz de controlar magia e obtém sucesso – ou quase: a joia fica em pedaços durante o ritual, e por causa disso o pai “ressuscita” apenas da cintura para baixo.

Em clima de RPG

Aí vem o problema. O feitiço de ressurreição pode ser feito apenas uma vez, então os irmãos terão que correr para encontrar uma joia idêntica antes que Wilden parta de vez. Junto com a “metade viva” do pai, eles partem em uma jornada guiada pelas cartas de RPG de Barley, baseadas em locais que realmente existem no mundo em que vivem. Eles vão encarar as missão típicas dos Role Playing Games, com novos desafios a cada “fase” e encontrando coadjuvantes como as fadas motoqueiras, centauros policiais e a manticora dona de uma taverna.

Além da dor pela ausência dos entes queridos, “Dois irmãos – Uma jornada fantástica” lida com temas como as tradições que se perdem com o progresso e o avanço da tecnologia, capazes de fazer com que uma sociade/civilização perca sua “essência”, e os laços familiares que podem se reforçar – como no caso dos irmãos – ou enfraquecer. Com uma premissa capaz de provocar empatia entre o público, o 22º longa da Pixar talvez não provoque tantas lágrimas quanto “Divertida Mente”, mas é promessa de filme com personagens carismáticos e momentos divertidos e emocionantes, além de mostrar que qualquer história pode render uma boa animação – basta ter sensibilidade para tanto.

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