Pelo menos 20 cidades da Zona da Mata sofrem com as chuvas das últimas horas

Cidades da região tiveram pontos de alagamentos; Santos Dumont foi o município onde mais choveu em Minas nas últimas 24 horas


Por Gabriel Ferreira Borges, Leticya Bernadete, Michele Meireles, Vívia Lima e Gabriel Silva (estagiário sob supervisão do editor Eduardo Valente)

13/02/2020 às 08h48- Atualizada 13/02/2020 às 21h30

As fortes chuvas que atingiram a Zona da Mata nas últimas 24 horas causaram estragos nos municípios da região. O Corpo de Bombeiros registrou alagamentos em Tocantins, Guiricema, Tabuleiro, Recreio, Cataguases, Piraúba, Astolfo Dutra, Muriaé e São Sebastião da Vargem Alegre. O número de desalojados e desabrigados está sendo levantado. Por conta do alto volume das águas, Cataguases e Dona Euzébia também estão em alerta de inundação.

Em Piau, a Pequena Central Hidrelétrica (PCH) de responsabilidade da Cemig estava sob vigilância desde a última quarta-feira. Com o volume de água mais do que dobrando entre às 20h de quarta e meia-noite desta quinta-feira (13), a Cemig, por meio de nota, informou que a PCH “tem repassado a vazão do rio por meio da crista livre”. Dessa forma, após o reservatório atingir o volume máximo, toda a água que entra é repassada pelo rio do município, gerando impacto nas cidades vizinhas.

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Nessas cidades, pessoas ficaram ilhadas por conta das inundações, mobilizando o Corpo de Bombeiros e agentes das prefeituras municipais para socorrer os munícipes. “Até o momento, não tivemos nenhuma notícia de morte. Tivemos danos materiais, várias famílias desalojadas, comunidades isoladas, estradas sem acesso”, elencou o prefeito de Tocantins, Ieder Washington de Oliveira, afirmando, também, que o volume das chuvas desta madrugada foi “muito maior” que o observado em janeiro. “Choveu torrencialmente desde 1h desta quarta. Nós já tínhamos diversas famílias atingidas pelas chuvas do dia 24, agora temos novas famílias que estão sendo atingidas”, lamentou.

Sem água e aulas suspensas

Segundo o prefeito, alimentos recolhidos para abastecer populares prejudicados pelos temporais anteriores vão, também, ajudar agora. As chuvas também impactaram no abastecimento de água da cidade, que está temporariamente interrompido sem previsão de retorno. As aulas no município, na rede estadual e municipal, que haviam retornado nesta semana, foram suspensas, e a orientação é para que os populares evitem transitar nas áreas mais afetadas.

Apesar de a PCH estar em Piau o secretário de Governo do município, Eduardo Fonseca de Castro, informou que a situação segue controlada. “O Rio Piau não voltou ao nível normal, mas, ao menos, parou de subir”, confirma. Não há informações de desalojados na cidade.

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Moradores ilhados em Rio Pomba

A cidade de Rio Pomba passou por uma situação semelhante à de Tocantins. Moradores da Zona Rural do município ficaram ilhados devido à precariedade da pavimentação que liga à região urbana. Conforme o prefeito Marcos Pascoalino, a drenagem não suporta o volume intenso das chuvas atípicas desta quinta-feira. “O rio do município está dando medo. E eu jamais vi tanta chuva, com mais de 12 horas seguidas. Não existe solo que aguente”, destacou o prefeito.

O município está em situação de alerta, com agentes da Prefeitura prestando apoio aos munícipes de modo contínuo, segundo o prefeito. “A nossa grande preocupação é para que a comunidade diminua a circulação no período da noite, principalmente nas proximidades dos rios”, alertou Pascoalino. Outra consequência da tempestade das últimas horas foi o transbordamento do Rio Pomba, que recebe águas do Rio Formoso.

Tabuleiro dividida com cheia do Rio Formoso

Após transbordamento da PCH em Piau, Rio Formoso não suportou volume de água em Tabuleiro (Foto: Leni Silva)

Em Tabuleiro, cidade que já havia decretado situação de emergência na última terça-feira, as chuvas prejudicaram a circulação da população e impediram, até mesmo, com que algumas pessoas chegassem ao trabalho. É o caso de Leni Silva, que é funcionária de uma fábrica dentro do município. “Eu moro de um lado da cidade e, do outro lado, é a fábrica onde eu trabalho. Não há como transitar, a água já está chegando na rua”, lamenta a moradora, que também afirma que o volume do Rio Formoso está acima das chuvas anteriores, com água invadindo casas em outros locais da cidade, segundo ela.

À Rádio CBN, o prefeito de Tabuleiro, Dauro Martins (PP), disse que, por volta das 15h, o nível do rio já estava abaixando e a situação era considerada “sob controle”. Uma obra foi realizada na cidade e, por isso, segundo o chefe do Executivo, apesar do grande volume de chuva, não houve inundação na unidade de saúde do município, muito atingida na época da enchente registrada em 2016. Conforme Dauro, várias pontes foram interditadas e, por esse motivo, muitas pessoas não estão conseguindo acessar a cidade. “Hoje reunimos para avaliarmos medidas e dar suporte aos locais mais afetados. Vamos ver se contratamos mão de obra para a construção destas pontes e recuperação das estradas”, disse ressaltando que a situação mais caótica é na Zona Rural.

Ribeirinhos orientados a deixar moradias em Cataguases

Em situação de emergência desde 25 de janeiro decretada pelo governador Romeu Zema (Novo), o Município de Cataguases esteve em alerta máximo de enchente devido às fortes chuvas da noite de quarta e a madrugada desta quinta-feira (13). Os moradores das áreas de encostas e das partes baixas foram orientados pela Defesa Civil a desocupar as suas casas e buscar alojamentos disponibilizados pela Prefeitura. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), entre 20h45 de quarta e 6h15 de quinta, foram acumulados 82,6 milímetros de chuvas, elevando o nível do Rio Pomba a 6,24 metros, conforme registrado às 15h desta quinta.

Conforme o prefeito Willian Lobo de Almeida, a cidade foi castigada pelo volume de chuvas vindo de Guiricema, Guidoval e também da região de Rio Pomba. “Retiramos muitas pessoas de casas que correm o risco de ter desabamento. Tiramos famílias de quatro casas na parte da manhã e estamos sendo notificados para ir a outras residências”, contou o prefeito. Com o volume de água aumentando nas vias do município, a tendência, segundo Almeida, é que alguns pontos da cidade fiquem ilhados. Apesar de registradas cinco ocorrências de queda de encostas, não há vítimas. As aulas da rede municipal de ensino foram suspensas, bem como o atendimento da Policlínica Municipal.

Barragem de Ervália preocupa em Guiricema

Em Guiricema, cidade próxima a Ubá, as enchentes afetaram moradores pela segunda vez em menos de um mês, de acordo com o prefeito da cidade, Ari Lucas de Paula Santos. “Está repetindo a enchente que ocorreu no dia 24 de janeiro. Está vindo nas mesmas condições”, conta. “Estávamos começando a colocar as coisas no lugar, mas voltamos à estaca zero com a segunda enchente.”

A situação está estável, segundo Santos, entretanto, há preocupação em relação à barragem localizada em Ervália, caso seja necessária abertura de suas comportas. “Pelo que sabemos, em uma hora ou duas horas essa água da barragem estará aqui. O Corpo de Bombeiros, o pessoal da Defesa Civil está aqui apoiando. Estamos preocupados com vidas, porque o estrago já foi feito. Muita gente perdeu tudo pela segunda vez.” A cidade decretou estado de emergência e segue em alerta devido ao volume das chuvas.

O prefeito de Ervália, Eloísio de Castro, afirmou que a cidade ficou totalmente isolada por conta das fortes chuvas da últimas horas. Segundo ele, no início do ano, uma cratera se abriu na MGC-356 e interditou totalmente o trecho que liga o município a Coimbra. Porém, um novo rompimento de barreira teria interditado outro ponto da via. “Não temos saída nem para Coimbra e Viçosa, nem para Muriaé. Hoje, nem passando pela estrada de chão não consegue sair de Ervália”, afirmou, em entrevista à rádio CBN Juiz de Fora.

Centro de Recreio foi atingido pelas chuvas

Corpo de Bombeiros foi acionado após inundação em Guiricema (foto: Corpo de Bombeiros)

Em Recreio, a água inundou, principalmente, a região central. Em contato, o prefeito do município, José Maria de Barros (PSB), afirmou que foi a maior chuva na cidade em 28 anos, somando-se ao impacto sofrido pelos ribeirões da cidade. “São ribeirões que recebem a água das bacias daqui, mas que não dão vazão. A informação que temos é que foi mais de 100mm de chuva, o que é muito para a capacidade dos ribeirões”.

Conforme o prefeito, a informação que chegou ao município é que a chuva persista até domingo, fator que segue mobilizando a administração pública. “Nós criamos um comitê envolvendo a Defesa Civil, a Polícia Militar, a equipe da Secretaria de Obras para estarmos atentos”, assegura.

A moradora Ana Carolina Silva enfrentou dificuldades de locomoção pela manhã, mas, no princípio da tarde desta quinta-feira, conseguiu sair de casa para visitar os pais em outra região do município. De acordo com Ana Carolina, vizinhos compararam as chuvas com a pressão de água em queda de cachoeira. “Um vizinho disse que, por volta das 2h, ele escutou um barulho como se fosse de cachoeira. Quando ele olhou para o lado de fora da casa, a rua já estava toda alagada, e ele não conseguiu dormir mais”, contou.

Centro de Recreio foi inundado com as fortes chuvas (Foto: Corpo de Bombeiros)

Santos Dumont sofre com inundações e deslizamentos

Aproximadamente 12 casas foram atingidas com deslizamentos de terras em Santos Dumont, distante cerca de 50 quilômetros de Juiz de Fora. As ocorrências foram causadas em virtude das fortes chuvas que preocupa a comunidade desde quarta-feira. Um barranco deslizou, por volta de 1h30 desta quinta, e atingiu parte de uma residência de dois pavimentos. Após avaliação, o imóvel, juntamente com outros dois próximos, foram esvaziados pelos militares como medida preventiva. Os moradores foram orientados a aguardar o parecer técnico da Defesa Civil, que esteve no local da ocorrência na manhã desta quinta. Ninguém ficou ferido.

De acordo com informações da assessoria de imprensa da Prefeitura de Santos Dumont, as ruas Padre Adalberto e Machado de Assis, no Bairro Córrego do Ouro, tiveram deslizamento de taludes e meios fios, sendo que a Machado de Assis está interditada desde a noite desta quarta por conta do risco de a via ceder. No mesmo bairro, o nível do açude subiu cerca de oito metros, e a água ficou alojada em um terreno, fato que gerou temor por parte da população. Depois de uma avaliação da Defesa Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Secretaria de Obras e Assistência Social, foi descartada a possibilidade de rompimento do açude, conforme laudo do engenheiro José Carlos Abijaude.

A Defesa Civil do município chegou a atender outras ocorrências de deslizamento de talude na Rua Constantino Horta, no Bairro Quarto Depósito, entretanto, nenhuma residência foi atingida. A Rua da Pedreira, que liga o distrito de São João da Serra a Santos Dumont, também foi sinalizada e interditada por conta de deslizamento de terra. Já na Rua Aracitaba, parte de uma casa cedeu, mas não houve feridos.

Rua Antônio Fernandes, no Bairro Quarto Depósito, em Santos Dumont, ficou alagada na noite desta quarta-feira (Foto: Prefeitura de Santos Dumont)

Forte chuva atingiu Barbacena

Barbacena também esteve entre as cidades com registro de alagamentos, enxurradas e risco de queda de encostas. Segundo o Corpo de Bombeiros, 30 ocorrências foram registradas a partir da madrugada. Na manhã desta quarta, a corporação trabalha com todo o efetivo administrativo e operacional do dia para atendimento das ocorrências, empenhando 29 militares, com oito viaturas percorrendo a cidade. Entre as ocorrências de destaque, os bombeiros foram acionados para socorrer uma família que ficou presa dentro de sua residência, no Bairro Vila Irene.

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Uma mulher e suas duas filhas foram retiradas do local pelos militares e levadas para casa de parentes. Três residências, uma localizada na Rua Paulo de Oliveira Costa, Bairro Santa Cecília, outra na Rua Geraldo Magela Alvim, Bairro João Paulo II, e na Ponte do Cosme, na Vila Pereira, correm risco de desabamento, sendo a duas últimas por conta da queda de árvores.

Aracitaba isolada com queda da AMG-0520

Em Aracitaba, município com dois mil habitantes, distante cerca de 100 quilômetros de Juiz de Fora, o acesso para Oliveira Fortes está comprometido após as fortes chuvas registradas a partir de quarta-feira (12). Na madrugada desta quinta, parte da AMG-0520 cedeu e uma cratera se abriu na pista. Por esta razão, a cidade está isolada.

Aulas da rede municipal de Muriaé foram suspensas

De acordo com informações da Defesa Civil de Muriaé, desde a madrugada desta quinta, foram registrados 120 milímetros de chuva na cidade. O Rio Muriaé subiu cerca de dois metros. Todas as escolas da rede municipal suspenderam as aulas na quinta e sexta-feira (14). O transporte escolar dos distritos também foi suspenso. Na Rua Prefeito Francisco Teodoro Filho, Bairro São José, a Defesa Civil registrou queda de barranco. Pela manhã, a Secretaria Municipal de Obras trabalhava na limpeza da via, a fim de liberar a passagem de veículos.

Diante todos os estragos, foi publicado Decreto 9.501/2020, declarando situação de emergência em Muriaé. O decreto autoriza os órgãos municipais a atuarem sob a coordenação da Defesa Civil, bem como permite a convocação de voluntários para reforçar ações de resposta a desastres naturais e a promoção de campanhas de arrecadação junto à comunidade, dentre outras iniciativas.

Concurso e evento carnavalesco adiados

Por conta das chuvas, o “Esquenta Muriaé”, evento carnavalesco que aconteceria neste final de semana, foi adiado. A decisão foi tomada em conjunto por Prefeitura, Fundação de Cultura e Artes (Fundarte), Departamento Municipal de Saneamento Urbano (Demsur) e Liga Carnavalesca de Muriaé. Segundo a Administração Municipal, “no momento, todos os esforços estão concentrados no auxílio às famílias atingidas pelas chuvas e na organização da cidade para se evitar maiores transtornos”. Uma nova data ainda será definida.

As provas práticas do concurso público do Demsur também foram adiadas. As avaliações aconteceriam neste sábado (15) e domingo (16). A Prefeitura irá divulgar novas informações a respeito da seleção na próxima semana.

Rio Glória

Em função da cheia do Rio Glória, a bomba de um dos poços artesianos que fornecem água ao distrito de Itamuri, na área Rural de Muriaé, precisou ser desligada. Há risco de desabastecimento de água no local e, desta forma, o sistema está funcionando temporariamente com capacidade reduzida. A orientação é que os moradores economizem água até que a situação seja normalizada.

O acesso à ponte do Rio Glória na BR- 356 voltou a preocupar motoristas que trafegam pelo local. À tarde, o volume do rio chegou a ultrapassar a parte estrutural da ponte e, por esse motivo, o acesso foi interditado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). A ponte é a principal via de acesso para motoristas que seguem no sentido Rio de Janeiro e Espírito Santo. Em janeiro, o local chegou a ficar interditado por dois dias.

Prefeitura atuou para limpar a Rua Prefeito Francisco Teodoro Filho (foto: Prefeitura de Muriaé)

Teixeiras

Em Teixeiras, parte de uma casa desabou nesta quinta-feira (13) com a força da correnteza do Ribeirão Teixeira, conforme a rádio CBN de Juiz de Fora. Não havia ninguém no local. A residência fica às margens do curso d’água que inundou e alagou imóveis na localidade.

Falsas notícias sobre interdições nas estradas

Informações sobre novas interrupções em estradas da região circulam em redes sociais, entretanto, os episódios foram negados pela Polícia Militar Rodoviária (PMR). Até então, apenas a MGC-356, que liga os municípios de Coimbra e Ervália, permanece interditada desde o início de janeiro, quando uma cratera se abriu na via, além de outras erosões que causaram a interdição da MG-133, na altura do km 21, entre Coronel Pacheco e Tabuleiro, desde 29 de janeiro, e da rodovia MG-353, que liga Juiz de Fora a Coronel Pacheco, desde 5 de fevereiro.

Tópicos: chuva

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