Um passeio pelas antigas confeitarias do Rio de Janeiro
Espaços que datam do século XIX sobrevivem em ruas do Centro do Rio, oferecendo, além de doces portugueses, o charme da arquitetura do passado
Confeitaria Manon, de 1942, tem como carro-chefe as madrilenhas, um pão doce com creme e goiabada
Rio – Caminhar pelas ruas entre casarões do Rio antigo, cruzar os trilhos do bonde – embora o atual VLT seja moderno e silencioso – e sentar-se em uma das confeitarias tradicionais do centro é o tipo de programa que atravessa os séculos. Os cafés e os salões de chá frequentados por escritores e artistas hoje são ocupadas por cariocas e turistas que saboreiam um café, um mate gelado – bem ao gosto dos locais – e doces portugueses.
O passeio com ares de belle époque começa pela Casa Cavé, a confeitaria mais antiga do Rio (de 1860) aberta até hoje. Localizado na Rua Sete de Setembro, o salão restaurado tem poucas mesas e preserva a essência portuguesa em seus vitrais e no piso. A lista de clientes famosos inclui Dom Pedro II, Olavo Bilac e Carlos Drummond de Andrade. A atração aqui são os pastéis de nata (R$ 8,70) e o sorvete (R$ 8,70 a bola). Os preços são mais simpáticos do que a famosa Confeitaria Colombo, na Rua Gonçalves Dias, a alguns metros.
A Colombo, fundada em 1894, impressiona qualquer um que tenta conseguir uma mesa para comer em meio aos seus grandes espelhos. Não é raro ver as longas filas para atendimento e dezenas de turistas com os celulares tentando enquadrar toda a beleza do salão principal, com os cristais nas prateleiras e as vitrines repletas de doces. O cardápio tem pratos portugueses e franceses, e o preço é salgado (R$ 10,90 o pastel de nata; R$ 7,50 o café espresso). Vale pela experiência de conhecer um dos lugares mais charmosos do Rio antigo – até a rainha Elizabeth II comeu ali.
Perto fica a Rua do Ouvidor, muito citada nas obras de Machado de Assis e uma das mais antigas da cidade. Ponto de encontro da sociedade carioca, foi uma das primeiras a receber iluminação elétrica no fim do século XIX. É nessa rua que fica a Confeitaria Manon, de 1942. Ela ainda mantém o charme da década de 1940 – foi tombada pela Prefeitura em 1993 – e seu salão é uma réplica do interior do transatlântico Serpa Pinto, que fez a rota entre o Rio de Janeiro e Lisboa. Sua cozinha não tem só influência portuguesa, mas também espanhola. O carro-chefe são as madrilenhas, um pão doce com creme e goiabada. Veja os endereços no site.
Fome de comida e livros
A Rua Luís de Camões, ainda no Centro do Rio, guarda duas surpresas para amantes de literatura e sobremesa: o Café e Histórias, onde livros e doces se unem em meio às prateleiras repletas de obras do sebo Letra Viva. A casa serve almoço também, com opções vegetarianas, e fica a poucos metros do imponente Real Gabinete Português de Leitura.
A coleção do Gabinete começou a ser feita por um grupo de portugueses em 1837, mas só passou a ocupar o atual edifício em 1871. O lugar é de encher os olhos: é considerada uma das bibliotecas mais bonitas do mundo e tem obras raríssimas entre os mais de 350 mil livros. Entre eles, uma edição de Os Lusíadas, de Camões, publicada pelo escritor português em 1572. É o único gabinete fora de Portugal a receber um exemplar de cada obra publicada no país europeu.
Não possui visitas guiadas, mas qualquer um pode entrar e fotografar o espaço gratuitamente – apenas o térreo tem circulação permitida. Na saída, não deixe de notar a fachada em estilo manuelino, visto também no Mosteiro dos Jerônimos e na Torre de Belém, em Lisboa.