Oscar 2020: Tribuna comenta chances de indicados levarem prêmio

Transmissão ao vivo pela TNT transmite ao vivo a partir das 20h30, com a chegada dos artistas, e vários canais de cinema e cultura pop no YouTube farão seus comentários pelas redes sociais


Por Júlio Black

08/02/2020 às 17h00

A 92ª edição do Oscar acontece neste domingo (9), a partir das 22h, com transmissão ao vivo pela TNT (que já entra no clima a partir das 20h30 com a chegada dos artistas) e Rede Globo – que normalmente perde os primeiros premiados -, além dos vários canais de cinema e cultura pop no YouTube (até o “Choque de Cultura” vai dar seus pitacos), sem se esquecer dos milhares de “críticos” – este repórter incluso – que farão seus comentários pelas redes sociais.

A premiação, a mais tradicional e famosa da indústria do cinema, é uma sequência de clichês em vários quesitos: das piadas sem graça dos apresentadores, dos longos discursos, à duração exagerada, à indústria celebrando a si mesma – e o fato, claro, de que mesmo com todas essas críticas ano após ano seguimos comentando as indicações, assistindo aos filmes em maratonas, assistindo à cerimônia, xingando ou comemorando os vencedores. E repetindo o discurso no ano seguinte: é prêmio da indústria, o vencedor do ano passado não era tudo isso…

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Para a edição deste ano, porém, dois pontos têm sido quase unânimes. Um deles é a manutenção da tendência dos últimos anos, em que não há um supercampeão na linha “Titanic” ou “senhor dos Anéis: O retorno do rei”, que leve pelo menos uma dezena de estatuetas. Já seria surpresa se alguma produção faturar mais que cinco prêmios. O outro ponto é que esta é uma das melhores safras – se não a melhor – de longas indicados na categoria melhor filme: mesmo que “1917” confirme as expectativas e seja o vencedor, terá superado fortes competidores como “Era uma vez em… Hollywood”, “Jojo Rabbit”, “Parasita”, “Coringa” e “O irlandês”, sem de esquecer de “História de um casamento” e “Adoráveis mulheres”. Dos nove indicados, o único que é considerado carta fora do baralho é “Ford vs. Ferrari”.

A seguir, vamos analisar as chances de cada longa na categoria principal do Oscar, seus méritos e defeitos, e também quais categorias podem garantir um careca dourada aos longas. E não se pode esquecer, claro, da torcida de parte dos brasileiros por “Democracia em vertigem”, filme de Petra Costa que concorre a melhor documentário. A concorrência, porém, é difícil, com “Indústria americana” sendo considerado o grande favorito e “For Sama” e “The Cave”, dois dramas da guerra civil na Síria, com chances de surpreender. O Brasil ainda tem “Dois Papas”, produção dirigida por Fernando Meirelles, competindo aos prêmios de ator, ator coadjuvante e roteiro adaptado.

“1917”
Indicações: 10 (filme, direção, roteiro, direção de arte, fotografia, edição de som, mixagem de som, trilha sonora, efeitos especiais e maquiagem)

O filme de Sam Mendes é o típico cavalo que chega atropelando na curva de chegada. Lançado em poucas salas nos Estados Unidos no final de dezembro para cumprir as exigências da Academia, já faturou vários prêmios no Globo de Ouro, Bafta, Sindicato dos Diretores e, principalmente, no Sindicato dos Produtores, que nos últimos 30 anos “antecipou” o vencedor do Oscar de melhor filme em 21 oportunidades.

São vários os motivos para o favoritismo. O principal é a exuberância e elegância técnica, o hercúleo trabalho para filmar a história de dois soldados anônimos que precisam atravessar as linhas inimigas para avisar sobre uma emboscada iminente. O trabalho de direção e fotografia são excepcionais, os protagonistas entregam ótimas atuações, o filme por si só carrega emoção e suspense. Mas há quem diga que o “estilo videogame”, com os personagens “passando de fase”, pode contar de forma negativa.

Além do Oscar de melhor filme, “1917” está entre os favoritos para direção, fotografia, edição de som e mixagem de som – dois prêmios difíceis de explicar, mas que é possível entender as nuances com uma pequena aula a respeito.

“Parasita”
Indicações: 6 (filme, direção, roteiro, direção de arte, filme internacional, edição)

Francamente? O filme do sul-coreano Bong Joon-Ho é o melhor filme de 2019, mas seria uma grande surpresa se conseguir bater “1917”. O longa, porém, tem crescido nas cotações nas últimas semana, e a forma como a Academia define o vencedor de melhor filme (não basta ter apenas o maior número de votos) pode consagrar “Parasita” por linhas tortas.

A história de uma família de pobres e desempregados que encontra uma forma de se infiltrar no cotidiano de outra, rica e com todos os luxos, é um dos filmes mais pungentes do últimos anos, com elementos de crítica social, suspense, violência, comédia, com um roteiro que consegue surpreender em vários momentos. Não à toa, a produção levou a Palma de Ouro do Festival de Cannes e venceu o prêmio de roteiro original no Sindicato dos Roteiristas, melhor elenco no Sindicato dos Atores, Bafta de filme em língua não inglesa e Globo de Ouro de filme estrangeiro.

No Oscar, Bong Joon-Ho já pode ter preparado o discurso para o prêmio de filme internacional; outras categorias que podem garantir prêmio são o de direção e roteiro original – mas aí a competição é dura com Quentin Tarantino.

“História de um casamento”
Indicações: 6 (filme, atriz, ator, roteiro, atriz coadjuvante, trilha sonora)

A produção da Netflix é uma das mais devastadoras histórias sobre o que leva ao final de um casamento, e o inferno que pode vir depois quando o ex-casal coloca advogados no meio e todo tipo de ressentimento, desejo de dar o troco, piora ainda mais a situação. Apesar de todas as qualidades, o longa de Noah Baumbach (injustamente esquecido na categoria de direção) enfrenta candidatos mais fortes, com “cara de Oscar”, e deve faturar apenas o prêmio de atriz coadjuvante graças à atuação de Laura Dern, que tem levado tudo nas premiações já realizadas.

“História de um casamento” poderia, ainda, levar prêmios mais que justos nas outras categorias, mas assim como em melhor filme a concorrência é fortíssima.

“Ford vs. Ferrari”
Indicações: 4 (filme, edição de som, mixagem de som e edição)

O “patinho feio” da categoria e, por consequência, a maior zebra de todas se levar como melhor filme. Desde que foi anunciado como um dos indicados, não faltou quem dissesse que produções como “Rocketman”, “Nós” e “Dois papas”, entre outros, mereciam mais ter entrado na lista.

O problema é que “Ford vs. Ferrari” é, sim, um ótimo filme, com ótimas atuações, cenas de corrida espetaculares, mas falta justamente o “versus” na história. Não existe um confronto de verdade entre as duas montadoras, e o filme deveria se chamar “Ford vs. O Cara do Marketing: ao contrário de “Rush: No limite da emoção”, em que há dois antagonistas definidos, o filme de James Mangold é basicamente a história de como a Ford contratou dois caras para construir um carro para derrotar a Ferrari nas 24 Horas de Le Mans, e como esses caras só conseguiram alcançar o objetivo depois de lutarem contra a burocracia da própria montadora norte-americana.

Porém, como a vida é cheia de ironias, “Ford vs. Ferrari” pode sair com mais Oscar que outros filmes melhor avaliados, pois chega forte nas categorias técnicas – em especial edição e mixagem de som.

“Jojo Rabbit”
Indicações: 6 (filme, roteiro adaptado, atriz coadjuvante, direção de arte e figurino)

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Dos nove filmes que concorrem ao Oscar de melhor filme, o longa de Taika Waititi cresceu no boca a boca nas últimas semanas, mas ainda será uma surpresa se for anunciado como vencedor. Mas méritos não faltariam, pois o diretor neozelandês criou uma das histórias mais tocantes, emocionantes, surpreendentes e irônicas sobre os últimos dias do nazismo na Segunda Guerra Mundial, ainda mais sob a visão de uma criança alemã de 10 anos de idade que tem Adolf Hitler como amigo imaginário.

Nas outras cinco categorias em que “Jojo Rabbit” concorre, Scarlett Johansson merecia com sobras vencer como atriz coadjuvante, mas o hype em torno de Laura Dern é enorme. Há boas chances em categorias como roteiro adaptado, figurino e direção de arte, mas pode ser que, infelizmente, “Jojo Rabbit” saia sem um prêmio sequer – o que seria muito injusto.

“Era uma vez em… Hollywood”
Indicações: 10 (filme, direção, ator, ator coadjuvante, roteiro, direção de arte, fotografia, figuração, edição de som, mixagem de som)

O nono filme de Quentin Tarantino é um dos favoritos não só por ser espetacular em todos seus detalhes (fotografia, direção, atuações, figurino, cenários, reconstrução de uma Hollywood que não existe mais), mas por ser uma homenagem à capital do cinema, a tempos mais inocentes, por celebrar um modo de vida que não existe mais – e Hollywood adora celebrar a si mesma. Sem contar que o filme, ao final, é uma fábula que entrega um final feliz onde menos se esperava.

Quanto às outras categorias, Brad Pitt é superfavorito como ator coadjuvante, e Tarantino vive levando o Oscar de roteiro original. Prêmios em fotografia e direção de arte seriam igualmente merecidos. E quando Quentin Tarantino vai vencer como melhor diretor, minha gente?

“Coringa”
Indicações: 11 (filme, direção, ator, roteiro adaptado, fotografia, figurino, edição de som, mixagem de som, trilha sonora, edição e maquiagem)

Quando foi lançado, em outubro, depois de vencer o Festival de Veneza, “Coringa” disparou como o grande favorito ao Oscar, se destacou como o longa com o maior número de indicações… mas perdeu terreno nas últimas semanas, principalmente com a estreia de “1917”, e ainda resta a dúvida se o fato de ser um longa inspirado nas histórias em quadrinhos deporia contra. Méritos ao filme de Todd Phillips não faltam e justificariam o prêmio, como a inspiração no cinema de Martin Scorsese, a pegada mais adulta para um universo que sempre tem pelo menos um pé na fantasia, e a interpretação absurda de Joaquin Phoenix – que é favorito absoluto ao Oscar de melhor ator.

Outros prêmios em que “Coringa” tem surgido como um dos favoritos são os de trilha sonora original, roteiro adaptado e fotografia.

“Adoráveis mulheres”
Indicações: 6 (filme, atriz, roteiro adaptado, atriz coadjuvante, figurino, trilha sonora)

O “filme de época” da vez, o longa de Gretta Gerwig tem o mérito de despertar novo interesse por uma história que já foi adaptada inúmeras vezes, pois trata-se da adaptação de um dos livros mais populares nos Estados Unidos há mais de um século. Porém, todas as suas qualidades – incluindo um elenco primoroso em grandes atuações – não são suficientes para colocar “Adoráveis mulheres” como um forte candidato a melhor filme, ainda que Gerwig consiga dar um outro dinamismo a uma trama passada em meados do século XIX, durante e depois da Guerra Civil americana, em que quatro irmãs precisam encontrar seu lugar no mundo.

Se o Oscar de melhor filme parece improvável, prêmios de figurino, trilha sonora e roteiro adaptado podem garantir alguma estatueta para o filme. Convenhamos, é muito chato quando um filme maravilhosamente bom sai de mãos abanando.

“O irlandês”
Indicações: 11 em 10 categorias (filme, direção, ator, duas para ator coadjuvante, roteiro adaptado, fotografia, direção de arte, figurino, efeitos especiais, edição)

Martin Scorsese mereceria um Oscar só por ter levantado da cama por tantos anos para criar “O irlandês”, que certamente é um dos cinco melhores filmes concorrentes à categoria principal, mas o selo “uma produção Netflix”, infelizmente, ainda é forte o suficiente para tirar votos do longa. Se o espectador pode imaginar, a princípio, que “O irlandês” seja apenas mais um “filme de máfia” de Scorsese, a verdade é que o cineasta entrega uma história que mostra justamente o lado menos glamouroso desse universo, em que até mesmo a violência não tem o mesmo impacto de “Os bons companheiros”, por exemplo. O elenco, com Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino, entre tantos outros, mostra como o diretor é um dos melhores para entregar o melhor desses atores.

Pode ser, talvez, que o cineasta leve a estatueta de direção como prêmio de consolação, ou um Oscar por fotografia, roteiro adaptado, até mesmo efeitos visuais. Prêmios para direção de arte e fotografia também seriam merecidos.

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