O horror


Por Renato Salles

07/02/2020 às 06h00- Atualizada 07/02/2020 às 07h36

“Futebol na Itália terá câmeras antirracismo nos coletes de seguranças nos estádios”, destacava a manchete de uma matéria publicada pelo portal globoesporte.com nesta quinta-feira (6). Na prática, a notícia descreve a adoção de uma nova tecnologia que permitirá aos seguranças que atuam em estádios italianos a utilização de coletes equipados com pequenas câmeras, instaladas na altura do peito, para a identificação, de forma individualizada, de torcedores que cometerem atos racistas.

A medida é louvável e, infelizmente, necessária. Mas é absurdo que, em 2020, ainda sejam necessárias ações como esta para fiscalizar, coibir e punir tamanha desumanidade, que também ocorre em nossos estádios, sem, no entanto, medidas mais severas para coibi-las. O pior é que, assim como na Europa, a imbecilidade sequer pode ser considerada uma exceção por aqui. Em novembro do ano passado, Mês da Consciência Negra, o Observatório da Discriminação Racial no Futebol apontou que a incidência de casos de racismo envolvendo clubes nacionais em 2019 superara a marca recorde de 50 casos.

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Também em novembro foi divulgada pesquisa que ouviu 163 jogadores e técnicos negros que atuam nas séries A, B e C do país e quase metade relatou já ter sofrido algum tipo de violência de cunho racial. Certamente, pouquíssimos ou nenhum destes casos receberam as apurações devidas e os responsáveis pelos atos racistas certamente permanecem impunes, provavelmente, replicando ódio aos quatro ventos.

Tal primitivismo é um verdadeiro horror. O racismo é inadmissível em qualquer esfera e é assustador quando acontece em meio a um esporte de viés tão popular e de tamanha diversidade, acessível para todos os credos, condições sociais e etnias. Infelizmente, a perpetuação de tamanha imbecilidade não surpreende. Em especial, em tempos de revisionismo e em um país em que o presidente da República, durante campanha eleitoral, comete o acinte de afirmar que os portugueses sequer pisaram da África para relativizar a responsabilidade de nossa sociedade com o legado da escravidão no país.

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