A revolução será televisionada


Por Júlia Pessôa

09/02/2020 às 07h00

Talvez os documentaristas Kim Bartley e Donnacha O’Briain não soubessem que seriam contrariados por um programa de qualidade duvidosa como o Big Brother Brasil ou por uma personalidade sem lugar na grade televisiva contemporânea como Pedro Bial. Mas ao que parece, ao contrário do título do filme dos diretores, a revolução será, sim, televisionada.

Não é o caso de eu tecer qualquer comentário sobre o documentário brasileiro que concorre ao Oscar, “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa. Não Não tenho a menor intenção de exaltá-lo ou criticá-lo. É possível fazer as duas coisas, sendo você quem quer que seja, sem atacar a diretora da obra como mulher. Quando Pedro Bial diz que Petra “é uma menina cumprindo as ordens da mamãe”, ele não faz uma crítica cinematográfica ao filme, tampouco a Petra como diretora. Não é a produção de Petra que parece incomodar, mas o fato de uma mulher ter a chance de trazer o primeiro Oscar ao Brasil. Aí vem o discurso que busca desautorizar, infantilizar, incapacitar, “menina”.

PUBLICIDADE

Os discursos e atos extremamente machistas e abusivos que vêm sendo repercutidos nesta edição do Big Brother também deixa claro o que sempre quis se colocar na caixa de “coisa de homem”: contato físico não consentido, o bom e velho ‘só pegava se tivesse bêbado’ ou ‘se quiser, eu pego’, e variações da mesma misoginia que busca tirar nossa autonomia como mulheres e nos põe sempre como meninas, não importa qual seja a categoria: “A menina que dá mole e tá querendo”, “A menina que bebe demais e tá querendo”, “A menina que se acha porque não correspondeu a avanços sexuais”, “A menina que é doida porque resolveu falar sobre os abusos que sofre”.

Parece que no caso de Pedro Bial ou dos homens do Big Brother, são os homens que, tremendo de medo, estão molhando as fraldas; seja ao vendo Petra no red carpet do Oscar, seja vendo as colegas de BBB levantando a voz para não engolirem mais abuso. Não dá para esconder, todo mundo está de olho. Como vinha dizendo, a revolução será televisionada – já está sendo.

 

 

O conteúdo continua após o anúncio

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.