Ministério da Agricultura interdita Cervejaria Backer

Conforme a pasta, medida cautelar foi adotada “diante do risco iminente à saúde pública”


Por Sandra Zanella e Marcos Araújo

10/01/2020 às 14h56- Atualizada 14/01/2020 às 09h59

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fechou a Cervejaria Backer, que produz a cerveja Belorizontina, na tarde dessa sexta-feira (10). O risco iminente à saúde pública foi a justificativa divulgada pela pasta para a medida cautelar, visto que foi verificada a presença da substância tóxica dietilenoglicol em amostras da cerveja, que teria sido ingerida por pacientes atingidos pela síndrome nefroneural. Além de vedar a fábrica, agentes do Ministério determinaram ações de fiscalização para apreensão de unidades da cerveja ainda presentes no mercado.

A decisão foi embasada no laudo emitido pela Polícia Civil de Minas Gerais, que preliminarmente, identificou a substância dietilenoglicol em amostras de cerveja pilsen da marca Belorizontina, nos lotes L1 1348 e L2 1348. Ainda de acordo com o Ministério, as investigações continuam por meio do trabalho de auditores fiscais federais agropecuários, em análises farmacêuticas, químicas e de engenharia agronômica. Eles fazem a apuração das circunstâncias das contaminações verificadas por autoridades policiais nos lotes indicados, para prestar esclarecimento à população.

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A pasta informou ainda que as análises ambulatoriais estão em andamento, com as amostras coletadas pela equipe de fiscalização das Superintendências Federais de Agricultura. Além disso, mais de 16 mil litros de cerveja foram apreendidos cautelarmente.

Em nota, a Backer informou que, “até o momento, não foi notificada a respeito de nenhuma interdição em sua fábrica por parte do Ministério da Agricultura. No entanto ressalta que permanece à disposição das autoridades e que, conforme anunciado mais cedo à imprensa, planeja interromper suas atividades momentaneamente neste sábado, dia 11/01, para realizar uma vistoria completa em seus processos de produção, visando oferecer conforto e esclarecimento aos seus clientes. A cervejaria aguarda a conclusão das investigações e reforça seu compromisso com a qualidade de seus produtos.”

Cervejaria diz que substância não faz parte da produção

Após a Polícia Civil divulgar laudo, na quinta-feira (9), informando que a substância tóxica dietilenoglicol foi identificada em duas amostras da cerveja Belorizontina, recolhidas nas casas de alguns dos oito pacientes que foram internados com a “síndrome nefroneural”, a Cervejaria Backer publicou nota na sua página na internet. A empresa afirma que a substância citada não faz parte do processo de produção da cerveja investigada, fabricada pela Backer. “Por precaução, os lotes em questão – L1 1348 e L2 1348 – citados pela Polícia Civil, e recolhidos na residência dos consumidores, serão retirados imediatamente de circulação, caso ainda haja algum remanescente no mercado. A Cervejaria Backer continua à disposição das autoridades para auxiliar no que for necessário até a conclusão das investigações.”

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A Polícia Civil, no entanto, que instaurou inquérito para apurar a relação do consumo da cerveja com os casos da doença desconhecida, que causou a morte de um homem internado em Juiz de Fora e deixou outros sete hospitalizados em Belo Horizonte, afirmou que o dietilenoglicol encontrado nas bebidas costuma ser utilizado no processo de refrigeração em serpentinas. As amostras foram periciadas no Instituto de Criminalística da capital mineira. O resultado positivo é considerado preliminar. No mesmo dia da divulgação do laudo, na quinta, policiais civis estiveram na fábrica da Backer para realizar levantamentos e recolher outras amostras. A cervejaria também informou, em nota, que os órgãos públicos de saúde estão realizando perícias em todo o seu processo de produção. Na terça, agentes do Ministério da Agricultura fizeram uma inspeção completa na empresa.

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) comunicou, nesta sexta, ter convocado os profissionais da força-tarefa que investiga os casos da doença misteriosa “para definição dos encaminhamentos médicos, epidemiológicos e da Vigilância Sanitária”. A medida foi tomada “diante do laudo apresentado pela Polícia Civil, que comprova a presença de substância tóxica em cerveja consumida por pacientes internados em estado grave, em Belo Horizonte”.

A partir da próxima segunda, a Secretaria Municipal de Saúde da capital mineira receberá cervejas da marca Belorizontina, de qualquer lote, de moradores de Belo Horizonte que possuam a bebida para consumo próprio. Não serão aceitos, no entanto, produtos de bares, restaurantes e supermercados. O material ficará sob custódia para encaminhamento das investigações necessárias. A entrega poderá ser feita pela população de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Os endereços onde serão recebidos os produtos podem ser conferidos no site da SES.

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Sepultamento

Nesta sexta, o corpo do bancário aposentado Paschoal Demartini Filho, 55 anos, foi sepultado em Ubá, onde ele morava com a família. Ele foi transferido do hospital do município para a Santa Casa de Juiz de Fora no dia 31 de dezembro, já com insuficiência renal aguda. O quadro evoluiu para complicações neurológicas, conforme os demais casos relatados da “síndrome nefroneural”, assim denominada pelas autoridades de Saúde devido aos principais sintomas. Paschoal faleceu na noite da última terça-feira após uma parada cardiorrespiratória. O corpo dele foi necropsiado no Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte por mais de seis horas. A análise dos fragmentos coletados durante o exame será auxiliada por um médico-legista da Universidade de São Paulo (USP), e o laudo fica pronto em até 30 dias.

Após a divulgação da presença de dietilenoglicol nas amostras da cerveja, um representante da Agência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) da capital classificou o episódio como grave, por expor os consumidores a riscos. Ele destacou que as pessoas hospitalizadas têm, em comum, o consumo da cerveja Belorizontina. Além disso, a maioria teria adquirido ou consumido a bebida no Bairro Buritis, na Zona Oeste, considerado de classe média alta e alta. Inclusive Paschoal havia sentido mal após passar o período de Natal na casa da filha no Buritis. O marido dela está entre os sete homens que continuam internados.

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