Substância tóxica encontrada em cerveja pode ter relação com doença desconhecida

Presença de dietilenoglicol, usado em processo de refrigeração, foi detectada em duas amostras colhidas nas casas de pacientes


Por Vívia Lima e Sandra Zanella (colaborou Marcos Araújo)

09/01/2020 às 20h53- Atualizada 14/01/2020 às 09h59

A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou inquérito para apurar os casos da doença desconhecida que causou a morte de um homem em Juiz de Fora e deixou outros sete internados em Belo Horizonte. Um laudo confirmado pelo órgão revelou que foi encontrada a substância tóxica dietilenoglicol em amostras de uma marca de cerveja consumida pelos pacientes atingidos pela doença. A informação foi repassada pela instituição durante entrevista coletiva à imprensa ocorrida na capital mineira na noite desta quinta-feira (9).

Conforme a Polícia Civil, garrafas da cerveja Belorizontina, fabricada pela Cervejaria Backer, foram recolhidas na casa de pacientes com síndrome renal, sendo constatada preliminarmente, em duas das amostras, a presença da substância dietilenoglicol, utilizada no processo de refrigeração em serpentinas. As garrafas recolhidas pertencem aos lotes L1 1348 e L2 1348 e foram periciadas no Instituto de Criminalística de Belo Horizonte.

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O resultado preliminar positivo foi divulgado no final da noite de quarta-feira (8), por volta das 23h30. Entretanto, a Polícia Civil não soube detalhar a forma em que as substância foi encontrada na bebida, reforçando apenas que ela foi identificada nas amostras recolhidas nas casas de pacientes.

Ainda conforme a polícia, a investigação realizada por uma força-tarefa que conta com diversos órgãos na capital mineira ainda é considerada inicial.
O episódio é acompanhado pela Vigilância Sanitária de Belo Horizonte e do Estado, assim como pela Agência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). Um representante do órgão, também durante a coletiva, classificou o episódio como “grave”, uma vez que expõe os consumidores a riscos, e destacou que as pessoas que estão hospitalizadas têm, em comum, o consumo da cerveja Belorizontina. As autoridades solicitaram ainda que consumidores que possuírem cervejas pertencentes aos lotes citados não as consumam, e encaminhem o produto à Polícia Civil a fim de auxiliar nas investigações. O inquérito do caso deverá ser concluído no prazo de 30 dias. A expectativa, segundo a Polícia Civil, é de dar uma resposta clara à população sobre o que originou o quadro da doença.

Polícia vai até fábrica da cervejaria

Nesta quinta, a Polícia Civil esteve na fábrica da Cervejaria Backer, em Belo Horizonte. Desde quando surgiram os primeiros sete casos da doença misteriosa – sendo um desses descartado na última quarta, quando mais dois foram notificados – surgiram rumores, sobretudo nas redes sociais, de que todos os pacientes teriam consumido cerveja da marca e que os sintomas apresentados posteriormente seriam de intoxicação por alguma substância.

Em nota, a assessoria da Backer informou estar colaborando com os órgãos públicos de saúde que estão realizando perícias em todo o seu processo de produção. “No dia 7, terça-feira, a fábrica recebeu em suas instalações agentes do Ministério da Agricultura que realizaram uma inspeção completa na mesma. Autoridades de saúde investigam, igualmente, outros produtos consumidos e que possam ter provocado a hospitalização de oito pessoas, todas com os mesmos sintomas. Reafirmamos nossa confiança em todas as etapas de produção dos nossos produtos. Manteremos nossos consumidores e a sociedade em geral informada, tão logo tenhamos acesso aos laudos periciais, ora em curso.”

Necropsia leva mais de 6 horas

Durante mais de seis horas, médicos-legistas necropsiaram o corpo do bancário aposentado Paschoal Demartini Filho, 55 anos, morto na última terça-feira (7) na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora. Segundo a assessoria da Polícia Civil de Minas, o exame começou às 21h de quarta e terminou às 3h30 da madrugada desta quinta (9). Os trabalhos também foram realizados por peritos criminais, investigadores e técnicos da instituição. A análise dos fragmentos coletados durante a necropsia será auxiliada por um médico-legista da Universidade de São Paulo (USP), e o laudo fica pronto em até 30 dias.

Paschoal será velado e sepultado no município de Ubá, a cerca de 110 quilômetros de distância, onde ele morava com a família. A previsão é de que o corpo só chegue na cidade no fim da noite desta quinta. O velório está previsto para começar a partir das 23h. O enterro está agendado para esta sexta, às 10h.

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