O show mais memorável


Por Wendell Guiducci

10/12/2019 às 07h15- Atualizada 10/12/2019 às 13h35

Vez ou outra surge o tópico “o show mais memorável que eu vi na vida” numa roda de conversa. De imediato, penso nos Rolling Stones incendiando o Pacaembu na turnê “Voodoo Lounge” em 1995. Chovia pra burro em São Paulo. É a primeira lembrança. Mas também me recordo do Cachorro Grande no antigo Cultural, dos Autoramas no Muzik, Verbase num cantinho suarento ao largo da Praça das Mercês, em Ubá.

A filha de Guilherme Melich cantando “Hoje eu quero sair só” acompanhada pelo pai ao violão enquanto aguardávamos a passagem de som no finado Mercadinho Qualquer Coisa.

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Sandro Cadeado sobre um tapete de flores de jambo, tão caipira quanto se pode ser, interpretando “Reciclagem”, do quase conterrâneo Zé Geraldo.

Alessandro Heavy Martins, no mais enfumaçado quartinho da Rua Barbosa Lima em 1997, desfilando todo o repertório de “Appetite for destruction” num violão Di Giórgio.

Léo Lambari transvirado às 4 da manhã, vacas mugindo no pasto noturno, lamentando uma versão adequadíssima de “Naquela mesa”.

Tairone Vale e Paulo Neumann fazendo ecoar “Tu és o MDC da minha vida” em cada casinha da pacata Vila Caruso, reencarnando Raul Seixas e Paulo Coelho, faces rosadas após esbofetearem-se mutuamente por meia hora em animada partida de Bochecha Russa.

Lorena Fernandes testando o microfone com “Me and Bobby McGee” para a minha alegria e a do técnico de som, boca aberta e olho vidrado.

Ana Liz, 14 anos, no quintal do número 490 da Rua Maceió, Parque Jardim da Serra, emendando uma composição sua atrás da outra enquanto o sol, envergonhado, batia em retirada para trás dos morros pra lá das bandas de Humaitá.

Fabrício Barreto no sofá de Emmerson Nogueira, muitas Budweisers esvaziadas pelo chão, fazendo a melhor imitação de João Bosco em “Papel Machê”. Ou cantando “Mother” numa noite vazia em quarto de república na Avenida Olegário Maciel.

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Jovita Gerheim de pé entre as mesas do falecido Em Nome do Som, avançando contra a banda, uma mão segurando copo/cigarro, a outra regendo uma orquestra de fantasmas enquanto sua voz rouca trovejava “Je ne regrette rien”.

Alguns dos mais memoráveis shows, sonoro leitor, não acontecem no palco.

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