FGTS irá liberar R$ 110,6 mi para economia de JF
Recursos devem ser utilizados para pagamento de dívidas e podem aquecer setores, como comércio, bares e restaurantes
A liberação dos recursos de contas ativas e inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) irá injetar R$ 110,6 milhões na economia juiz-forana até dezembro, conforme dados da Caixa Econômica Federal. O dinheiro será disponibilizado para cerca de 310 mil trabalhadores. Os pagamentos começaram em setembro e seguem até o final deste ano, de acordo com cronograma estabelecido pelo banco (ver quadro). Para muitos consumidores, o recurso extra será direcionado para a quitação de dívidas. Só na cidade, há 110 mil consumidores inadimplentes, segundo informações da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL). Também há expectativa de que esta movimentação possa aquecer setores como comércio, bares e restaurantes.
Anteriormente, a Caixa havia criado um cronograma de pagamentos que se encerraria apenas em março de 2020. No entanto, no último dia 21, o banco informou que anteciparia o resgate dos valores de forma que todos os trabalhadores recebessem ainda em 2019. “Este trabalho, que começou em setembro, vem ocorrendo de forma muito tranquila, com agilidade e eficiência. Assim, foi visto que seria possível antecipar o pagamento e beneficiar os trabalhadores mais cedo, sem causar prejuízo ao atendimento”, justifica o superintendente regional da Caixa, Arnaldo Barcellos Neto.
Segundo ele, até o momento, 90% dos beneficiados estão optando por resgatar o dinheiro. “Existe a opção de retornar com o valor para a conta do FGTS, mas a maioria prefere receber.” Ele explica que na primeira fase de pagamento, direcionada aos clientes da Caixa, o depósito era feito automaticamente na conta, então, a pessoa precisava comunicar ao banco que não queria receber. Já neste segundo momento, em que estão sendo beneficiados os trabalhadores que não possuem vínculo com a Caixa, basta não resgatar o dinheiro. “O prazo máximo para a retirada é 31 de março. O dinheiro que não for sacado até esta data irá retornar para a conta do FGTS.”
Arnaldo diz que, no momento de resgate do dinheiro, os trabalhadores contam como pretendem utilizá-lo. “A maioria afirma que irá pagar dívidas e colocar a vida em dia. Outros falam que vão comprar um presente que não puderam dar para o filho ou algo para eles mesmos.”
Pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), revelou que 38% dos beneficiários têm a intenção de quitar todas ou, pelo menos, parte das dívidas que estão pendentes.
Nas ruas
De acordo com o cronograma, a assistente administrativo Fabiana Oliveira, 40 anos, terá o dinheiro disponível a partir do dia 8 de novembro. “Vou retirar para usar nas compras de fim de ano. Assim, poderei gastar um pouco mais com os presentes de Natal.” Já a professora Flávia Rocha, 37, ainda não decidiu o que fazer com o recurso. “O valor já foi depositado na minha conta, mas eu deixei lá. É bom que vai rendendo um pouquinho até o momento em que eu for usá-lo.” O vendedor Wesley Marques, 32, conta que irá usar o recurso para pagar contas. “Como o valor que eu tenho para sacar não é alto, irei usar para pagar o que já gastei no cartão e dar uma ajuda em outra conta do mês.”
Como sacar
Para realizar o saque, o trabalhador deve comparecer a uma agência da Caixa com documento de identificação original com foto e carteira de trabalho. Os valores de até R$ 100 também poderão ser resgatados em unidades lotéricas mediante a apresentação da documentação. Quem possui cartão cidadão e senha também pode sacar valores de até R$ 500 nas casas lotéricas e nos terminais de atendimento. Para o esclarecimento de dúvidas sobre valores e direito ao saque, o trabalhador pode consultar o aplicativo FGTS (disponível para iOS e Android), o fgts.caixa.gov.br ou fazer contato pelo telefone 0800 724 2019, disponível 24 horas.
Impactos econômicos devem ser moderados
Juiz de Fora possui 110 mil consumidores negativados. O dado da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) é preocupante e reflete o cenário de retração econômica e desemprego. “Ninguém fica nesta situação porque quer, mas porque, muitas vezes, precisa optar entre comer, comprar um medicamento ou pagar uma conta. A liberação dos recursos do FGTS pode contribuir para aliviar um ou outro consumidor nesta situação, mas não tem como resolver o problema. A solução só acontece com uma melhora consistente da economia, capaz de promover geração de emprego e renda. Enquanto isto não acontece, a inadimplência se torna cíclica, enquanto um limpa o nome, o outro é negativado”, avalia o presidente da CDL, Marcos Casarin.
Apesar disso, Casarin explica que há expectativa de impactos moderados para os setores da economia, já que os consumidores que conseguirem quitar as dívidas voltarão a ter crédito e, consequentemente, poderão consumir. “No caso do comércio, ainda poderemos ser beneficiados por conta da Black Friday e do Natal. Aquela pessoa que achava que não teria dinheiro neste momento, vai poder contar com este extra”, analisa. “Nós podemos comparar o recurso do FGTS ao pagamento do 13º salário. Não dá para resolver todos os problemas da economia, mas ajuda a dar um fôlego e, com certeza, contribui para as vendas do comércio.”
Os bares e restaurantes da cidade também apostam que uma parte dos mais de R$ 110 milhões que serão injetados na economia da cidade poderá ser direcionada ao setor. “Sabemos que, no primeiro momento, as pessoas vão se preocupar em quitar dívidas. Posteriormente, após eliminarem essa preocupação, elas ficam mais dispostas a saírem, comemorarem”, diz o conselheiro consultivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) da Zona da Mata, João Matos.
Ele atenta para o fato de que a liberação do recurso coincide com o momento de confraternizações de fim de ano, o que é positivo para o setor. “A chegada deste dinheiro extra promove uma melhora do humor do consumidor. Por isso, acreditamos que haverá um impacto interessante para os bares e os restaurantes da cidade. Não sabemos falar em números, mas sabemos que o consumo está associado à motivação e ao estado de espírito.”
Especialistas orientam sobre uso dos recursos
Apesar do interesse de os consumidores quitarem as dívidas, o serviço de renegociação junto aos credores feito pela Agência de Proteção e Defesa do Consumidor de Juiz de Fora (Procon/JF) não sentiu impactos após o início da liberação de recursos do FGTS. “O nosso atendimento é direcionado aos superendividados, pessoas que estão em situação de vulnerabilidade financeira. Para estes casos, o valor que está sendo pago não é suficiente. Imaginamos que os trabalhadores que estão fazendo os saques irão direcionar o dinheiro para contas mais imediatas, como cartão de crédito e luz, por exemplo”, informa o superintendente Eduardo Schroder. Para ele, esta é a decisão correta a ser tomada. “Quem possui conta em aberto deve aproveitar para quitar e, assim, evitar de pagar juros.”
O presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, concorda. “Caso o valor resgatado seja suficiente para quitar a dívida em atraso, é interessante agir dessa forma. Mesmo assim, é válido negociar e conseguir descontos para fazer o pagamento à vista.” Ele explica que, para saber como utilizar o valor resgatado do FGTS, o trabalhador deve conhecer bem a realidade financeira em que está.
Em caso de inadimplência, a orientação é usar o dinheiro para sair desta situação. Já quem se encontra em equilíbrio financeiro, com as contas no azul, pode pensar em investir o valor resgatado. “O ideal é direcionar o recurso para outro tipo de aplicação, como poupança, CDB e Tesouro Direto.” Para aqueles que desejam investir nas compras de fim de ano, o especialista recomenda cuidado. “Muitas pessoas usam rendas extras em compras que não precisam, sem considerar sua situação financeira atual, entrando numa bola de neve de inadimplência. Infelizmente, isso é comum.”
Serviço
O superintendente do Procon/JF, Eduardo Schroder, destaca que os consumidores em situação de superendividamento podem buscar auxílio para renegociação de dívidas no local. “O atendimento é agendado, pois é preciso apresentar documentação relativa às dívidas. O agendamento é feito pelo telefone 3690-7610 ou pessoalmente, no endereço Avenida Presidente Itamar Franco, 992 , Centro, das 9h às 17h.