Hora de recomendar (bons) livros
Oi, gente.
Esta semana vamos fazer uma parada diferente. Nada do tipo “uau, como isso jamais foi feito?”, mas queremos fugir um cadinho da nossa programação normal. Variar é sempre bom, né? E o motivo é bom: estamos a fim de recomendar bons livros para as ah migas e os ah migos leitores que acompanham a coluna.
Nunca li tantos livros quanto em 2019, e pode colocar na conta d’A Leitora Mais Crítica da Coluna. Ela comprou no ano passado um desses leitores de e-books, e como ele tem um desses aplicativos para celular posso ler tudo que ela vier a comprar. A adaptação à tela do celular foi molezinha, aí animei de fazer minha compras e resolvi que leria o máximo que pudesse em 2019. E ler mesmo, todos os dias, às vezes dois livros por vez. O desafio era tentar fechar o ano com pelo menos 52 leituras, basicamente uma por semana.
Não vou bater a meta, mas não estou mal na foto. Até a véspera de publicação da coluna, minha lista contava com 35 livros, e vai chegar a 37 quando terminar “A arte de pedir”, da Amanda Palmer, e “Matadouro-Cinco”, do Kurt Vonnegut. (Curiosidade: a Amanda batizou sua primeira banda, The Dresden Dolls, por causa de “Matadouro-Cinco”, o que só descobri quando já havia começado o livro do Kurt). Nesse ritmo, devo passar pelo menos dos 40 – o que não é nada mal, vai dar um livro a cada nove dias.
Essa dobradinha e-book+livro físico tem permitido ampliar meu radar literário, e percebi que seria bom alvitre (espero) recomendar alguns dos livros, não importando se são recentes, antigos, meio lá, meio cá. O importante, no caso, é que sejam dignos de uma coisa que gosto tanto: recomendar coisas legais às pessoas. Vamos lá.
A Leitora Mais Crítica da Coluna tem privilegiado as escritoras na sua lista de leituras, e tenho tentado acompanhá-la. Foi assim que tive contato com Chimamanda Ngozi Adichie, aquela simpatia de pessoa que fala “Daalu to you, too” naquele comercial da Globonews. Já li “No seu pescoço” (ótimo), mas, principalmente, “Hibisco roxo”, em que ela nos faz sentir como se tivéssemos nascido e crescido na Nigéria. E ainda tem um personagem tão equivocado, o pai da protagonista, daqueles que você é capaz de sentir ódio e pena na mesma medida. “Americanah” e “Meio Sol amarelo” já estão na minha lista de leituras futuras.
Carmen Maria Machado foi um outro achado com “O corpo dela e outras farras”, sua coletânea de contos que mistura terror, sexo, humor, violência, sobrenatural. E aí temos duas escritoras russas. “Era uma vez uma mulher que tentou matar o bebê da vizinha”, de Liudmila Petruchévskaia, tem vários contos de fadas assustadores, com histórias surpreendentes, personagens sinistras, eventos macabros. A outra autora é Svetlana Aleksievitch, que venceu o Nobel de Literatura em 2015. Estava animado com o livro da Liudmila, eu me aprofundar na literatura russa, tinha assistido a “Chernobyl” na HBO, então parti para “Vozes de Tchernóbil”, que mostra o quanto a estupidez humana é capaz de produzir tragédias. Se você não chorar, sei lá.
Aproveitando o gancho russo, animei e não me arrependi com “Piquenique na estrada”, dos irmãos Arkádi e Boris Strugátski. É ficção científica escrita nos anos 70 na antiga União Soviética, e é essencial para quem se interessa pelo gênero. Não posso esquecer de Antony Marra: “Trilha sonora para o fim dos tempos” estava na promoção na livraria, aí entrei na internet para pesquisar, vi que todo mundo recomendava, não me arrependi de novo. Apesar de norte-americano, o escritor narra toda a história na antiga União Soviética, Rússia e países da região, costurando várias histórias durante 80 anos e que têm apenas um ponto em comum. Falo quase toda semana para A Leitora Mais Crítica da Coluna colocar na sua lista.
Temos também Ta-Nehisi Coates, que primeiro conheci nos quadrinhos do Pantera Negra – e que agora tem ido muito bem com o Capitão América. Assim que tive a oportunidade, comprei “Entre o mundo e eu”, em que escreve uma carta para seu filho adolescente a respeito do que é ser negro nos Estados Unidos. Não há um dia, desde então, que não pense o quanto nosso mundo é injusto, e as pessoas ignorantes e cruéis.
Topei com “Antes da queda”, de Noah Hawley (criador da série “Legion”). Dentre todas as coisas interessantes da história, a que mais me chama a atenção é como ele mostra a forma com que certos jornalistas – aqueles totalmente sem escrúpulos – podem realmente ser filhos da mãe odiosos.
Ainda quero colocar entre as recomendações um escritor argelino e outro francês. O primeiro é Kamel Daoud, que desconhecia até ver a capa de “O caso Mersault”. Pensei comigo: “Teria a ver com ‘O estrangeiro’, de Albert Camus, o livro mais importante da minha vida ordinária?” Pois era isso mesmo. “O caso Mersault” mostra a história do árabe assassinado na praia pelo protagonista de Camus, porém contada de forma amarga por seu irmão mais novo, que não aparecia no original. Já recomendei para um monte, e recomendo de novo.
O francês é Michel Houellebecq. Há tempos tinha uma vontade enorme de ler o polêmico “Submissão”, em que um muçulmano é eleito presidente da França e provoca uma série de mudanças no país, em especial nos costumes. Não sigo religião nenhuma, então não sei, de coração, o quanto a história pode ser ofensiva para os muçulmanos, mas trocando algumas coisas na (ótima) história dá para traçar paralelos bem sombrios em relação ao nosso Brasil.
Como a coluna está enorme, vamos às recomendações vapt-vupt. Se quiser imaginar o futuro distópico que podemos ter no Brasil, vale lembrar ainda de “Farenheit 451”, de Ray Bradbury, e “O Homem do Castelo Alto”, de Philip K. Dick. E me diverti à beça com “Jogador Nº 1”, de Ernest Cline; neste caso, recomendo que leia o livro antes de assistir ao filme de Spielberg. (Ainda não assistiu? Shame on you). A versão do cinema é mais legal por enxugar a história e buscar soluções narrativas mais criativas, além de aproveitar os efeitos especiais para criar visuais de cair o queixo e jogar 3.923 referências por segundo à cultura pop.
Ah, gente, quase me esqueci do Kurt Vonnegut, que entrou na minha lista por causa de uma série (“American vandal”?) em que uma professora havia criado o “Dia de Kurt Vonnegut”. Resolvi comprar o “Cama de Gato”, em que o protagonista planeja escrever um livro sobre o que as pessoas faziam no dia em que os Estados Unidos jogaram uma bomba atômica sobre Hiroshima, e que descamba para uma sequência de eventos absurdos. Gostei tanto que logo comprei o “Matadouro-Cinco”, e já estou de olho em “Sereias de Titã”.
Pelas minhas contas, consegui recomendar 15 livros para meus ah migos e ah migas. Caso resolvam seguir as indicações, contem depois o que acharam. E custa nada lê-las enquanto ouvem nossa playlist, “…E obrigado pelos peixes”, lá no Spotify.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.