20 apresentar 20(+5) álbuns de 1989 – Agora já deu

Por Júlio Black

16/10/2019 às 07h01 - Atualizada 16/10/2019 às 07h13

Oi, gente.

Chegamos ao fim da série sobre grandes álbuns lançados em 1989, que deveria ter acabado semana passada mas estendemos por mais uma edição por motivos de me deu vontade – na verdade, ainda havia coisa boa para lembrar ou apresentar, principalmente para a molecada que nasceu ontem. Teremos então os bons trabalhos de Jesus and Mary Chain, The Young Gods, Red Hot Chili Peppers, The Vaselines e Sepultura, que definitivamente não poderiam ficar de fora.

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A série, na verdade, poderia durar mais algumas semanas, afinal ainda tivemos que sacrificar os discos do Soundgarden, Mudhoney, Replacements, The Cult, Bad Religion, Fugazi e Voivod lançados há exatos 30 anos, mas aí não haveria espaço para mais nada. Passar a navalha foi necessário, mas o ah migo leitor e a ah miga leitora podem ouvir esses outros álbuns por conta própria.

Aliás, toda essa turma marca presença em nossa playlist no Spotify, “…E obrigado pelos peixes”. Pode seguir, sua dignidade permanecerá intacta.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

THE VASELINES, “DUM-DUM”
Os escoceses do Vaselines fazem parte daquela categoria de bandas que são reconhecidas apenas quando fecham a porta da lojinha. Depois de lançar dois EPs e um álbum, o quarteto ficou sem gravadora e cada um seguiu seu caminho – Eugene Kelly, por exemplo, formou o Captain America, que por óbvios problemas de direitos autorais foi rebatizado como Eugenius.

Porém, lá por 1991/1992, Kurt Cobain começou a falar dos Vaselines, que Eugene era um de seus compositores favoritos, o Nirvana gravou versões de “Molly’s lips”, “Son of a gun” e “Jesus doesn’t want me for a sunbeam”, e surgiu um merecido culto ao grupo formado em Glasgow. A gravadora Sub Pop, que revelou o Nirvana para o mundo, foi esperta e lançou em 1992 o catadão “The way of The Vaselines: A complete history”, que em 2009 virou “Enter The Vaselines”, com versões demo e ao vivo.

É no meio desta coletânea com a primeira fase da banda – que retomou suas atividades década passada – que é possível encontrar “Dum-Dum” nas plataformas de streaming. Podemos dizer, sem medo, que Kurt Cobain tinha ouvido para pescar coisa boa numa época pré-internet. O primeiro álbum do Vaselines é recheado de canções com pegada pop e boas guitarras, que podem ser classificadas como indie rock, noise pop, indie pop e coisas do gênero.

Independente de rótulos, músicas como “Teenage Superstar”, “Lovecraft”, “Monsterpussy”, “Sex sux (amen)” e “Oliver Twisted” mereciam ter sido conhecidas por méritos próprios. Menos mal que nosso Kurt Cobain deu uma força – ainda que tardia – para a rapaziada.

SEPULTURA, “BENEATH THE REMAINS”
Terceiro álbum da maior banda de thrash metal do Brasil, “Beneath the remains” pode ser considerado um “vai ou racha” na trajetória do Sepultura. Não por conta de crises, fracasso comercial, e sim por ser o primeiro disco a ser lançado por uma gravadora de peso (opa), a Roadrunner, e um produtor como Scott Burns, que entendia não apenas de estúdio, mas das manhas do bom metal.

O resultado foi um álbum que vendeu mais de 800 mil cópias ao redor do mundo, primeiro passo para transformar a banda em um dos maiores nomes da música nacional no exterior – mais do que muito medalhão que faz show para 500 conterrâneos numa boate qualquer em Connecticut e é vendido como “fenômeno internacional” por aqui.

Mas enfim. “Benneath the remains” é o segundo dos cinco álbuns com a “formação clássica” do Sepultura (Max e Igor Cavalera, Andreas Kisser e Paulo Jr.), pavimentando o caminho para os clássicos “Arise”, “Chaos A.D.” e “Roots”. Se o quarteto iniciara sua trilha pelas picadas do death metal em “Morbid visions”, agora o lance tinha tudo a ver com o thrash metal dos grandes nomes do gênero, muito graças à entrada de Andreas a partir de “Schizophrenia”. Daí que o trabalho tem algumas das melhores músicas do Sepultura em quase quatro décadas, como “Inner Self”, “Mass hypnosis” e a faixa-título, que valem a inclusão da banda na série de clássicos de 89.

RED HOT CHILI PEPPERS, “MOTHER’S MILK”
O quarto álbum do Red Hot Chili Peppers pode ser visto como uma história que cruza elementos das trajetórias do B-52’s e Faith No More, que citamos neste espaço nas semanas anteriores. Assim como o B-52’s, o grupo sofreu com a perda de um de seus membros fundadores – no caso, o guitarrista Hillel Slovak, que morreu em junho de 1988 por overdose de heroína; quanto ao FNM, foi preciso ter o Mike Patton nos vocais para o sucesso dar um “oi, sumido”.

Após a morte de Slovak, o baterista Jack Irons saiu do RHCP, e, depois de tentarem a sorte com DeWayne “Blackbyrd” McKnight (Parliament) e D. H. Peligro (Dead Kennedys), Anthony Kieds e Flea conseguiram acertar a química do grupo com a entrada de John Frusciante, prodígio da guitarra então com apenas 18 aninhos, e o batera Chad Smith, irmão gêmeo perdido do ator Will Ferrell. Pois foi com essa formação que os Peppers gravaram “Mother’s Milk”, que apesar das brigas com o produtor Michael Beinhorn foi o primeiro grande sucesso da banda, abrindo a porteira para o estouro mundial de “Blood Sugar Sex Magik”.

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O estilo de Frusciante, mais ligado às melodias que ao groove, ajudou o Red Hot Chili Peppers a emplacar os dois primeiros singles de sucesso, “Knock me down” e “Higher ground”, cover de Stevie Wonder. Mas também havia as ótimas “Magic Johnson”, “Good time boys”, “Subway to Venus” e “Stone cold bush”.

THE JESUS AND MARY CHAIN, “AUTOMATIC”
Na época de seu lançamento, “Automatic” não foi lá muito bem recebido pela crítica, que reclamou do uso de sintetizadores, da insistência na bateria eletrônica… Enfim, muito mais má vontade com os irmãos Jim e William Reid – que tocaram 99% dos instrumentos do álbum – que outra coisa. Afinal, as guitarras características da banda estavam lá, mesmo que com menos distorção, e o agridoce indie rock-pop-com-distorção que é a marca registrada do J&MC também marcava presença.

Por sorte, o tempo fez justiça ao álbum, e hoje não falta quem elogie delicinhas como “Head on” (regravada por Pixies e Legião Urbana), “Coast to coast”, “Blues from a gun”, “Gimme Hell” e “Here comes Alice”.

THE YOUNG GODS, “L’EAU ROUGE”
O segundo álbum do grupo suíço não é apenas superior ao promissor álbum de estreia, como também expandiu as experimentações que marcam a carreira da banda, um dos grandes nomes do rock industrial. Basta ouvir, por exemplo, “La fille de la mort”, a primeira música de “L’Eau Ruge”, com forte inspiração da música clássica e quase oito minutos de choque entre o clássico e o moderno – ou o peso do rock, se preferir.

Além do cartão de apresentação, o disco investe ainda mais nos samples de guitarra e bateria eletrônica, sem esquecer de instrumentos alienígenas ao rock, como o acordeão. “L’Amourir”, “Longue route”, a faixa-título e “Rue de tempêtes” – todas cantadas em francês por Franz Treichler – ajudam a entender por que os Young Gods, mesmo sem alcançar o sucesso merecido, influenciaram tanta gente, como The Edge (U2), David Bowie, Sepultura e Mike Patton, do Faith No More.

Júlio Black

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