Surto de dengue em Juiz de Fora é o maior desde 2016

Com mais de 6.500 casos prováveis e 13 óbitos confirmados, município enfrenta possibilidade de novo ciclo epidêmico com aproximação do verão e do período chuvoso


Por Gabriel Silva, estagiário sob supervisão da editora Rafaela Carvalho

11/10/2019 às 07h00- Atualizada 11/10/2019 às 08h17

A dois meses do início do verão e com a aproximação do período chuvoso, inclusive com a ocorrência de precipitações já nesta semana, aumenta a preocupação com a possibilidade de novo surto de dengue em Juiz de Fora. Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) apontam para a ocorrência de mais de seis mil casos prováveis na cidade somente neste ano, com 13 óbitos confirmados, fazendo de 2019 um ano epidêmico para a doença, com o maior número de registros desde 2016. A circulação de um novo sorotipo de dengue e a falta do fumacê, aguardo pelo Município desde junho, aumentam a necessidade de intensificar o combate ao Aedes aegypti.

Segundo o boletim epidemiológico da SES divulgado nesta semana, nos nove primeiros meses deste ano foram notificados 6.512 casos prováveis de dengue, número mais alto desde 2016. Naquele ano, também considerado epidêmico, foram registrados 27.783 casos. Em 2017 e 2018, apenas 235 notificações foram registradas no total dos dois anos, com grande queda no número de casos (ver quadro).

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Em 2019, a situação no município acompanha a epidemia registrada em todo o estado, com 481.294 suspeitas notificadas. Segundo a pasta, o Aedes aegypti está presente em 85% dos municípios mineiros, sendo que 484 cidades chegaram a indicar “alerta ou risco para ocorrência de epidemias por arbovírus”. Este é, também, o segundo ano com mais casos de dengue desde 2012 em Minas Gerais.

Ainda conforme o Estado, as transmissões da doença se deram pelo sorotipo DENV2 – que apareceu em 27 das 28 regionais de saúde do estado -, fator que dificultou as ações emergenciais adotadas pelo Governo estadual.

Pico tardio
Neste ano, a alta incidência de dengue se destacou também pelo período atípico. Enquanto que, em 2016, o pico da epidemia aconteceu na primeira semana de fevereiro, em 2019 as notificações subiram principalmente na segunda metade de maio, de acordo com a gerente do departamento de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da Prefeitura de Juiz de Fora, Cecília Kosmann. “Tivemos um deslocamento do período epidêmico. A gente vive um período de mudanças climáticas e isso não influencia só geleiras e aquecimento global, mas influencia também no período de atividades dos insetos”, explica Cecília.

Para gerente do departamento de Vigilância Epidemiológica, Cecília Kosmann, risco de novo aumento das transmissões é palpável (Foto: Olavo Prazeres)

Apesar de a incidência de notificações ter diminuído nos últimos dois boletins epidemiológicos, o estado de alerta continua. “Neste momento, o monitoramento de casos de dengue demonstra redução das notificações. Contudo, o estado segue em situação de alerta para esse aumento no número de casos das doenças transmitidas pelo Aedes, uma vez que a circulação do vetor se dá durante todo o ano, com maior intensidade no período quente e chuvoso”, ressalta, em nota, a assessoria da SES. Os aumentos nos números de casos prováveis registrados nos últimos boletins epidemiológicos se dão, principalmente, por casos antigos, já que, devido à sobrecarga sobre a pasta estadual, demoraram a serem analisados e entrarem no sistema.

Além dos 13 óbitos em decorrência da doença já confirmados, há ainda duas mortes suspeitas em investigação.

Possibilidade de novo ano epidêmico

Segundo a gerente do departamento de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da PJF, Cecília Kosmann, com a exposição da população ao novo sorotipo da dengue, o DENV2, o risco de um novo aumento de transmissões é palpável, ao contrário do que ocorreu nas epidemias anteriores, quando, nos anos seguintes, o número de casos registrados diminuiu consideravelmente. “Se a população não se engajar e eliminar os criadouros, em 2020 a gente pode ter um novo ano epidêmico em Minas Gerais inteira, não só em Juiz de Fora. Sabemos que não podemos baixar a vigilância em nenhum momento, tanto a Prefeitura quanto a população”, destaca.

De acordo com ela, o principal desafio do poder público para conter a permanência de criadouros do Aedes aegypti é engajar a sociedade. Dessa forma, grande parte das ações da vigilância epidemiológica visa a reforçar a conscientização, por meio de visitas e intervenções de retirada de entulhos em locais onde pode haver a proliferação do vetor ou informando os moradores.

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Até o último dia 20 de setembro, conforme a Secretaria de Saúde, foram realizadas 41 ações de limpeza, com 543 toneladas de entulho retiradas em 176 caminhões. Os trabalhos são realizados por agentes de combate a endemias da Secretaria de Saúde, servidores do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb), fiscais da Secretaria de Meio Ambiente e Ordenamento Urbano (Semaur) e equipe da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS).

Combate ao vetor

O trabalho de manejo integrado de vetores, incluindo o uso de larvicida, também é um aliado no combate em áreas de maior incidência de mosquitos, inclusive com investimento de recursos próprios da Prefeitura de Juiz de Fora. “O Ministério da Saúde nos fornece um tipo, mas nós adquirimos outro por nossa conta para poder trabalhar de maneira mais eficaz, porque cada tipo de larvicida é mais apropriado para uma situação”, justifica Kosmann.
Para realizar as atividades continuadas, a dificuldade com os repasses de verbas pelos governos federal e estadual são obstáculos antigos, segundo a gerente. “O rombo financeiro de Juiz de Fora é muito grande e isso sempre vai ter um impacto, porque a gente precisa de verbas para fazer as ações. Mas a gente vem fazendo tudo que está ao nosso alcance com o recurso que temos disponível”. O carro fumacê, esperado há quatro meses pela Secretaria de Saúde de Juiz de Fora, não foi recebido até o momento por falta de repasse do insumo pelo Ministério da Saúde, de acordo com a SES.
A orientação da vigilância epidemiológica é de eliminar os criadouros, gastando dez minutos semanalmente para realizar vistoria nas residências – onde estão 90% dos focos – e receber os agentes. Caso verifique alguma irregularidade ou suspeita de foco, o cidadão pode acionar a PJF pelo telefone 199 ou pelo Colab. “A gente precisa desse engajamento, que a população seja parceira do poder público para que a gente possa, juntos, passar por um verão um pouco mais tranquilo”.

Tópicos: dengue

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