Morre o filósofo e professor Tiago Adão Lara, aos 89 anos

Corpo está sendo velado no Cemitério Parque da Saudade, e o enterro será nesta sexta (27), às 10h


Por Mauro Morais

26/09/2019 às 16h43- Atualizada 26/09/2019 às 17h17

Tiago Adão Lara em registro de 2011 (Foto: Olavo Prazeres)

Tiago Adão Lara era escuta e também palavra. Responsável por popularizar a filosofia em Juiz de Fora, ele fundou, no já longínquo 2003, ao lado da esposa Maria Helena Falcão Vasconcelos, o Café Filosófico, dando aos assuntos cotidianos contornos de complexidade e profundidade. Inicialmente abrigado no Espaço Mezcla, o projeto passou pela Livraria Liberdade, pelo O Andar de Baixo e, ainda, por praças da cidade, debatendo poder, espaço urbano, religião, política e muitos outros temas. Em reportagem de 2005, na Tribuna, Lara celebrou o sucesso da proposta, explicando ser a filosofia uma reflexão sobre a maneira racional de viver. “Razão, nesse caso específico, é a motivação que dá sentido à vida”, ressaltou o filósofo, professor, escritor e poeta, nascido em São Tiago, a 200km de Juiz de Fora.

Durante a adolescência, Tiago viveu por oito anos no Seminário Salesiano de São João del Rei, cursou teologia em Turim, na Itália, e foi ordenado padre, mas desligou-se da igreja tempos depois. Formou-se em filosofia pela Faculdade Dom Bosco, em 1970. Um ano depois, seguiu para a Bélgica, onde se especializoue. Já doutor, ingressou como professor na Universidade Federal de Uberlândia e, anos depois, também lecionou na UFJF e no CES/JF. “Em sua trajetória em nossa universidade, a UFU, foi professor de muitos que atualmente constroem o movimento docente e sindical, ensinando o que deixou nítido em vários de seus escritos: que a vida revela-se como um processo, que são características inerentes do humano a criação e a invenção. Esta visão dialética da vida levou-o a classificar a si mesmo, em entrevista dada para a “Revista Educação e Filosofia” (UFU, 1996, p. 07), como tímido e ousado, ao mesmo tempo. Em suas palavras: ‘Eu tenho uma timidez enorme, mas ao mesmo tempo existe dentro de mim uma vontade enorme de não me deixar levar (…) Dentro eu fervo, fora eu me comporto’.”, destaca a nota de pesar da Associação dos Docentes da Universidade de Uberlândia.

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Expoente da Teologia da Libertação, corrente que defende a justiça social e a igualdade, Tiago coordenou as Comunidades Eclesiais de Base em Juiz de Fora e tornou-se uma das principais referências no debate acerca da educação popular. Entre seus livros, destacam-se “A filosofia nas suas origens gregas” (Editora Vozes), “Caminhos da razão no Ocidente” (Editora Vozes), “A escola que não tive… o professor que não fui…” (Cortez Editora), “A filosofia nos tempos e contratempos da cristandade ocidental” (Editora Vozes), além de trabalhos ficcionais. Sábio, era reconhecido pela gentileza e pela generosidade. Tiago morreu na manhã desta quinta-feira (26), no Hospital Monte Sinai, onde estava internado para o tratamento de uma leucemia. Ele deixa a esposa, Maria Helena Falcão Vasconcelos. Seu corpo está sendo velado na capela de número 1 do Cemitério Parque da Saudade, no Bairro Santa Terezinha, e o enterro será nesta sexta (27), às 10h.

 

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