Sintonia, nova série da Netflix, vai do baile ao culto cristão


Por Tribuna

05/08/2019 às 09h42

Nando, Donizete e Rita, o núcleo central de ‘Sintonia’ (Foto: Divulgação/Netflix)

O canal de música Kondzilla estava longe de ter os atuais 50 milhões de inscritos no YouTube quando o produtor e empresário Konrad Dantas pensou em contar uma história: o desafio de três amigos, moradores de uma favela em São Paulo, para comprar um tão sonhado tênis que custa R$ 1 mil. A narrativa ia virar apenas um curta metragem, mas a vocação do trabalho era do tamanho do canal de música homônimo, o maior do mundo e primeiro America Latina.

Estreia na sexta (9), a primeira temporada com os seis episódios de “Sintonia” na Netflix, série brasileira original idealizada por Dantas. A busca por um tênis caro, símbolo da conquista e da ostentação na favela, deu lugar a um papo mais sério, conta Dantas, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. “Ao lado da produtora Rita Moraes, percebemos que não se tratava apenas de um curta, mas de uma série inteira. Com um tamanho maior, a história poderia ganhar mais personagens e temas.”

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Na trama, os três amigos continuam como na ideia original. Donizete, interpretado pelo MC Jottapê, é o rostinho que quer fazer sucesso no funk. Sua música de estreia (“não é você que gostava de brincar de iludir? tô nem aí, tô nem aí”) gruda na cabeça desde o início e representa a voz do jovem na busca por seu sonho. Já Rita (Bruna Mascarenhas), mora sozinha e trabalha como marreteira, nas estações de trem. Ao enfrentar a instabilidade do emprego, seu caminho se cruza com a religião evangélica. O terceiro escudeiro dessa amizade é Nando (Christian Malheiros), jovem traficante que tem ambição de crescer na “família.” “Cada um vai atrás do seu sonho e no meio do caminho é claro que vão enfrentar dificuldades. A relação dos três também será afetada”, explica a produtora Rita, também o nome da protagonista.

A partir do ponto de vista do trio, a série revela a dinâmica cultural da favela, permeada pela música que funciona como pano de fundo da trama. Na igreja frequentada por Rita, o responsável pelo louvor é grande conhecido do público evangélico, conta Dantas. “Buscamos licenciar alguns hinos da Harpa Cristã para então construir uma linguagem musical que pudesse dar a dimensão dessa fusão de culturas. Nas cenas da igreja, trouxemos o cantor evangélico Ton Carfi, conhecido entre o seu público”, explica.

Também há espaço para narrar a difícil trajetória do MC Doni. Ao apresentar sua música para uma gravadora, a resposta não é como ele espera. O pai do garoto, interpretado por Vanderlei Bernardino, é um cristão fervoroso e desaprova seu sonho de cantar “música do mundo”. “Doni mostra um pouco dos primeiros passos para se tornar um MC. Ele vai enfrentar a rotina de fazer shows até perceber que nem tudo é fácil.”

O suspense da série fica nas mãos de Nando. Visto nos palcos paulistanos, a baixa estatura do ator não interrompe a gravidade que seu personagem enfrenta e entrega. Enquanto Rita e Doni se divertem, Nando é mais calado e isso pode custar um preço. Ele tem a ambição de crescer e ganhar o respeito dos outros parceiros do crime. No entanto, a lealdade é considerada moeda de alto valor. E, para algumas coisas, não há negociação. “Os dois amigos sabem que Nando está envolvido com coisas perigosas, mesmo assim não há discriminação. Eles se preocupam e existe respeito continua”, diz Dantas.

A curta viagem de Sintonia, com seus seis episódios, cria uma São Paulo sem distâncias. Gravada no coração da Comunidade Jaguaré, ao lado do Butantã, é possível avistar a cidade do alto de uma cobertura no centro, nas cenas de MC Doni, para depois percorrer as ruas numa moto até a Vila Áurea – mais uma homenagem, dessa vez para a mãe de Kondzilla. “Eles sempre vão voltar para o núcleo, a família. Seja no caminho da fé, da música ou do crime, nada impede que eles busquem dias melhores”, diz a produtora.

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