DEL: uma abordagem para o desenvolvimento de um território

Conheça cinco dimensões que possuem relevância e impacto no desenvolvimento territorial


Por João Roberto Marques Lobo, gerente regional do Sebrae Minas

02/07/2019 às 08h00

A palavra desenvolvimento está associada ao avanço de uma sociedade, que, em geral, deve ser voltado para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem em uma determinada região, seja um bairro, um município, um conjunto de municípios ou qualquer recorte de área a ser definido. Em algumas situações, esse recorte é estabelecido para um conjunto de pessoas que vivem sob semelhantes condições de vida e, portanto, com necessidades semelhantes. De forma contemporânea, os estudiosos chamam a região delimitada para um estudo de desenvolvimento de “território”.

As pessoas buscam, de forma frequente, soluções que possam desenvolver o território em que vivem e há várias formas de compreender como isso pode acontecer. No Sebrae, trabalhamos com uma abordagem que facilita essa compreensão, a qual chamamos de Desenvolvimento Econômico Local (DEL). Temos clareza da importância das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento de uma região como forma de ajudar o fortalecimento das atividades empresariais, em especial dos pequenos negócios, que representam mais de 96% das empresas existentes no país. Então, essa abordagem busca envolver não só a comunidade empresarial, mas os poderes públicos instalados em um território, além de outros protagonistas que ali residem e que podem colaborar com seu desenvolvimento.

PUBLICIDADE

São lideranças de entidades empresariais, de instituições de ensino, de órgãos de pesquisa e da sociedade em geral, além das próprias autoridades políticas. Em conjunto, elas estabelecem uma governança que busca discutir formas para promover o desenvolvimento e são estimuladas a colocar em prática um planejamento de longo prazo, pensando, também, no desenvolvimento social, ambiental e até cultural, que, junto com o desenvolvimento econômico, são indissociáveis para melhorar a qualidade de vida dos moradores.

A abordagem prevê um “olhar para dentro do território” como premissa principal. E, para isso, são analisadas pelo menos cinco dimensões que possuem relevância e impacto no desenvolvimento: Capital Empreendedor, Tecido Empresarial, Governança para o Desenvolvimento, Organização do Sistema Produtivo Local e Inserção Competitiva.

Capital Empreendedor

Esta é a primeira condição para o desenvolvimento e torna-se propulsora dessa abordagem a partir do momento em que há o estimulo a comportamentos que levem a negócios mais inovadores e sustentáveis dentro do território. A educação empreendedora deve ser estimulada desde o ensino fundamental, para que se crie uma cultura capaz de gerar novas alternativas e modelos de negócios. Mas também é importante a difusão da educação empreendedora fora do ensino formal, de forma que os empreendedores já estabelecidos possam ter um olhar mais inovador e sustentável nas estratégias de suas empresas.

Tecido Empresarial

A segunda dimensão transforma os interesses individuais em questões coletivas. A participação de entidades empresariais, cooperativas, agências de desenvolvimento e outras instituições que pensam o futuro de uma região é de fundamental importância, uma vez que as demandas coletivas ganham legitimidade por meio da união de propostas, construídas com o intuito de promover o bem comum. Essa dimensão liga as várias demandas e interesses de diferentes grupos empresariais localizados no território e os remete às autoridades e representações que podem contribuir na execução das propostas. Não é producente realizar proposições inviáveis dentro do prazo planejado.

Governança para o Desenvolvimento

A terceira dimensão busca o fortalecimento de um modelo pluri representativo de gestão para a elaboração do planejamento e a execução das propostas, com envolvimento da sociedade, mercado e poder público. Estabelecer um clima de confiança entre esses atores é uma questão chave para o sucesso de um plano de desenvolvimento.

Organização do Sistema Produtivo Local

A quarta dimensão trata de estabelecer um modelo sistêmico para a atuação das cadeias produtivas instaladas no território e visa incrementar sua competitividade, alavancando, fortalecendo e dinamizando a economia local. É importante ressaltar as vocações produtivas que existem no território, com o objetivo de estimular seu crescimento, mas também buscar alternativas dentro dos multissegmentos empresariais que estão espalhados no território, sem conexões estabelecidas entre eles.

O conteúdo continua após o anúncio

Inserção Competitiva

Esta última busca compreender como ampliar os mercados de atuação das empresas no território e fora dele. É um estágio que se alcança através de um trabalho de fortalecimento das empresas locais, em especial as de pequeno porte. A agregação de serviços a essas empresas é importante para a conquista de novos mercados e para o aumento do valor gerado dentro de cada cadeia produtiva. Deve ser alvo de discussão durante o planejamento.

No trabalho de construção do plano de ação para o território, é importante o uso da inteligência setorial, que é capaz de gerar insumos para as discussões dos atores envolvidos. O uso de dados dá maior assertividade às decisões necessárias à construção das estratégias a serem adotadas no território.

O Sebrae criou o Índice Sebrae de Desenvolvimento Econômico Local (ISDEL) com a finalidade de monitorar o avanço do planejamento proposto. A visão multifacetada do Desenvolvimento Econômico Local demanda uma visão unificada dos indicadores que traduzem as cinco dimensões abordadas, de modo a proporcionar uma visão dinâmica e comparativa das condições de desenvolvimento dos territórios. A concepção do ISDEL enfrenta esse desafio compatibilizando aproximadamente 50 indicadores de mais de uma dezena de fontes oficiais. A variedade permite uma visão mais ampla do desenvolvimento econômico de uma região em comparação com o PIB per capita, um dos principais dados utilizados.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.