Futebol feminino busca valorização e impulso com o Mundial

De 2014 a 2018, 23 equipes disputaram a Copa Prefeitura Bahamas de Futebol Amador, principal evento da modalidade em JF


Por Bruno Kaehler

09/06/2019 às 06h22

Aos 36 anos, a bancária Franciane Bellizzi é exemplo que pode ser contado em uma mão em toda Juiz de Fora. Apaixonada pelo futebol feminino, ela deixou, entre intervalos por conta de seus compromissos profissionais, a vida de atleta para abraçar o comando técnico de uma equipe de mulheres da cidade, o Esporte Clube São Carlos/Alpha, há dois anos.

No meio da resistência e do preconceito, a juiz-forana foi vice-campeã de 2018 da Copa Prefeitura Bahamas de Futebol Amador, o principal evento da modalidade na região. Neste domingo (9), às 9h10, volta a campo para encarar as atletas do Ajax – Bela Aurora na disputa do título da Copa Juiz de Fora de Futebol Amador, ou Copa Caem, no campo do Cerâmica. E, se depender dela e de todo o grupo de jogadoras, este é apenas o começo.

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A realidade do futebol de campo feminino no Brasil vivenciado por Franciane se repete pelo país: pouca visibilidade e dependente de apoios individuais. Um fator benéfico veio das entidades máximas do futebol sul-americano e brasileiro. A partir desta temporada, a Conmebol exigiu que as equipes que disputam a Libertadores masculina possuam um time feminino – adulto e juvenil, assim como a CBF determinou que todos os 20 participantes da Série A do Brasileiro possuíam participação condicionada ao enquadramento no Licenciamento de Clubes da entidade esportiva nacional e, por obrigação, manter um time de futebol feminino – adulto e de base.

“Há uma dificuldade muito grande em encontrar um clube que apoia, um patrocinador, uma estrutura, alguém que queira ajudar o futebol feminino a aparecer. É uma coisa que está começando a aparecer agora por causa dessa obrigatoriedade da Conmebol. Se isso não tivesse acontecido, acho que continuaríamos muito atrás do masculino. O espaço sempre foi muito pequeno, em vários anos a cidade não promoveu torneios nessa modalidade com a justificativa que houve confrontos entre times, mas no masculino isso também acontece”, relata a técnica.

Formada em Administração e pós graduada em Auditoria, a treinadora começou o projeto a partir do futsal, recebendo mais atletas para encorpar o elenco. Questionada sobre a evolução do esporte feminino ao longo dos anos, ela vê pontos positivos.
“Houve evolução não só em campo, como no futsal. Novas equipes têm surgido, o pessoal da SEL tem divulgado mais e tudo ajuda. Temos atletas de futsal que foram jogar fora, eu tenho atleta de campo que tem recebido convites de grandes equipes. Há um interesse geral das mulheres aqui pelo futebol. Procura quem gosta, quem tem paixão, independente do sexo”, elogia.

Com o início da Copa feminina na França, há a confiança de que o futebol entre as mulheres seja ainda mais divulgado em âmbito mundial. Até mesmo a campanha brasileira no Mundial pode beneficiar a prática. “O resultado da seleção pode influenciar na valorização do esporte. Não só em campo, como no futsal também, em que viemos ganhando espaço na mídia. Este será o primeiro ano em que a Copa do Mundo será divulgada em rede nacional. Não tem como ganhar todo o peso do masculino em uma edição, mas vai ajudar muitas pessoas que se interessam, clubes que realmente apoiam. Os empresários vão poder contribuir um pouco mais após a Copa do Mundo. É o que esperamos, a categoria merece.”

Dificuldade de inclusão

“Joguei bola desde criança, após a faculdade disputei copas pelo Sport Club, Tupynambás, Tupi, só que em 2002 tive que dividir um pouco esse meu tempo de atleta e entrar no mercado de trabalho, até porque venho de uma família de classe média baixa e sempre tivemos uma dificuldade muito grande na inclusão dessa modalidade. Comecei a trabalhar em 2002 e intercalei com os treinos. Em 2009 tive que largar mão totalmente do esporte para poder dar sequência na carreira profissional. Voltei a ter contato com o futebol em 2017 e decidi formar uma equipe. Como estava afastada dos treinamentos, optei em ficar à frente do time e não participar como jogadora. De lá para cá temos dado sequência a esse projeto e conseguimos bons resultados”, conta Bellizzi.

Franciane (esquerda) comemora com colega de equipe em competição (Foto: Rafael Campos/Rise Up)

 

Mercado restrito

Entre os questionamentos direcionados à Franciane, um dos que mais demandou reflexão da treinadora deveria ter resposta simples. Você se recorda de quantas treinadoras no futebol amador juiz-forano? “Me recordando aqui, jogamos nessa Copa Caem, que agora está chegando no final, e se não estou enganada tem uma mulher à frente do time Sempre Amigas. Não sei se ela é formada na área, como é a questão de treinamentos e outras coisas. Mas pelo que conheço isso não deve acontecer. Nas demais equipes, 99% têm treinadores e representantes homens. Acho que ainda são poucas mulheres que ocupam esse cargo justamente pela dificuldade de serem incluídas no mercado. E, ponderando o lado financeiro,temos nossas obrigações e não podemos ficar amarradas simplesmente ao futebol porque o retorno é mínimo. Na minha opinião há essa dificuldade não por falta de mulheres que se especializam, fazem Educação Física, mas falta de inclusão do mercado. A própria sociedade repudia. E aí você colocar seus deveres financeiros na balança faz com que acabe abrindo mão de um sonho, de uma aptidão.”

Prática do futebol feminino tem crescido, mas preconceito ainda é barreira (Foto: Rafael Campos/Rise Up)

 

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Participação de equipes femininas em competições ainda é pequena

Segundo a Secretaria de Esporte e Lazer (SEL), não há como precisar quantas equipes femininas de futebol existem na cidade. “Porém, levando em conta os times que já disputaram as Copas promovidas pela Prefeitura, podemos afirmar que 31 equipes foram formadas e atuam ou atuaram em nossa cidade. Duas destas equipes são de cidades vizinhas.” As competições promovidas pela SEL são justamente a Copa PJF Bahamas e a Copa JF.

Ainda de acordo com a Secretaria, de 2014 ao ano passado 34 equipes disputaram a Copa PJF Bahamas, sendo 23 diferentes. Nos últimos dois anos, a Copa JF recebeu dez equipes, com oito distintas. “O futebol feminino sempre foi fomentado pela SEL, que oferece disputas da categoria em nossas competições. Foram feitas várias adequações para estímulo e para que despertasse o interesse da comunidade em formar equipes nesta categoria. Porém, só em 2002 foi realizada a primeira disputa feminina na Copa PJF Bahamas, com a equipe do Cerâmica FC sagrando-se campeã”, destaca a Secretaria.

Telão na UFJF e na Praça CEU

Após sucesso na Copa do Mundo masculina e parceria entre o Coletivo Maria Maria com o DCE da UFJF, a Federal autorizou a instalação de um telão na Praça Cívica para acompanhar a estreia da Seleção Brasileira, neste domingo (9), às 10h30. Esta não será a única oportunidade de acompanhar o jogo entre Brasil e Jamaica no meio de grande público. A PJF divulgou que o duelo será exibido também no telão do Anfiteatro Hermínio de Sousa Santos, na Praça CEU (Avenida Juscelino Kubitschek, 5.899 , Bairro Benfica).

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