Vergonha alheia


Por Renato Salles

17/05/2019 às 07h01

Nunca escondi ninguém: sou um poço de contradições. Um bom exemplo disto é que, apesar de ser um sujeito reservado, introvertido e “na minha”, gosto de pessoas. Curto, de fato, fazer novas amizades e papear com estranhos nos bares da vida. Respeito as diferenças e as individualidades de cada um. “Pra caramba”. Mas tem hora que dá muita vergonha do ser humano contemporâneo, o que me leva, por variadas vezes, a me perguntar: em que momento da história erramos incorrigivelmente?

Digo isto por – uma vez mais, por variadas vezes – pensar que a sociedade atual gosta de ser cruel por esporte. Só pode. Inicialmente vista como um bálsamo da informação, a internet virou um latifúndio em que só se planta o ódio. Vale tudo no “bangue-bangue” virtual em que a humilhação pública e máquina de arruinar reputações são safra tipo exportação. Exemplo recente foi a crueldade perpetrada com Sidão, após uma atuação desastrosa do goleiro do Vasco no último domingo, na derrota contra o Santos.

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Por seu desempenho, Sidão era merecedor de críticas. Óbvio. Mas, nada justifica expor um ser humano ao ridículo, como fizeram “os amigos internautas” ao, provocados por meia dúzia de “digital influencers” bobões, desvirtuarem uma premiação e prestar uma homenagem às avessas a um profissional por um dia ruim no trabalho. Possíveis sorrisos pelo constrangimento da repórter ao entregar o prêmio de “Craque do Jogo” ao goleiro e pela dor da humilhação exposta nos olhos de Sidão só podem habitar faces socialmente adoecidas.

Se pudesse, diria ao goleiro para levantar a cabeça e seguir a vida: não é preciso ter vergonha pelas falhas que o tornam humano. A Sidão, minha solidariedade. Aos “trolls’ da internet, vergonha alheia.

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