O frenesi resume a genialidade a lapsos


Por Renato Salles

10/05/2019 às 06h30

Não gosto de generalizações. Estas são sempre equivocadas. No entanto, quanto mais o tempo passa, acho que todos nós vamos ficando um pouco mais rabugentos. Uns mais. Outros menos. Mas o tempo é algo que nos deixa ranhetas à medida que jogamos “pelo caminho a casca dourada e inútil das horas” – valeu, Mário Quintana! Deve ser por conta do tal saudosismo, sentimento que pode ser visto ora como defeito, ora como virtude. Como sempre, faço de exemplo as mesas quadradas da vida. Quase todo dia escuto nas resenhas com os amigos: “o futebol ‘tá’ chato”! À frase feita, seguem-se, em tom de ladainha, velhas reminiscências de sempre: “Zico, Sócrates e Falcão”; “Copa de 1982 e Telê”; “Bebeto e Romário”; “Denner, Marcelinho, Edmundo e Djalminha”; “Ronaldo e Rivaldo”… Enfim, são infinitas as evocações.

Casmurro, sempre tento olhar o lado debaixo da moeda. De voltas às mesas quadradas da vida, defendo que o futebol não está chato. São os mesmos onze contra onze correndo atrás de uma bola para colocar o sorriso no rosto de uma legião de aficionados. É o mesmo, porém evoluído. Mais intenso e mais dinâmico. Nunca modorrento. Como tudo na vida, o esporte ficou mais corrido. Como no nosso cotidiano, o frenesi resume a genialidade a lapsos. Isto não é bom ou ruim. Simplesmente é. A atualidade não é melhor ou pior que os anos vividos lá atrás. Um exemplo? Basta ver o 5 a 4 do Flu sobre o Grêmio ou as viradas de Tottenham e Ajax na Liga dos Campeões durante a semana para constatar: o futebol não está chato! Chatos estamos nós, na vida, no jogo e nas discussões políticas, presos a egos, mitos e saudosismos que só nos fazem manter o olho no retrovisor.

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Otimista, creio que ainda é possível virar este jogo; colocar freio na correria diária; e fazer do saudosismo virtude e empatia. Para isto, basta aprender com o passado – até o mais recente -, olhar para frente e lembrar que estamos todos no mesmo barco. Caso contrário, o futebol e a vida ficarão cada vez chatos e, como disse Quintana, a única falta sentiremos será de um “tempo que, infelizmente, nunca mais voltará”.

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