A arte de do fotógrafo Fernando Priamo pelo mundo

Fotógrafo da Tribuna tem seu trabalho de urban art selecionado para galeria holandesa e investe também em fine art, entre outros projetos. Confira.


Por Júlio Black

04/05/2019 às 16h07

O fotógrafo Fernando Priamo tem contribuído há 19 anos para a Tribuna com imagens impactantes em todas as editorias. Seja em cultura, política, economia, no cotidiano da cidade, no noticiário policial, em esportes e reportagens especiais ou das mais diversas destinações, ele é conhecido por procurar um novo foco, um ângulo diferente, ir além do registro que muitas vezes apenas banaliza o fato. Mas o artista vai além do fotojornalismo: depois de anos dedicando seu tempo livre para outras expressões da fotografia, ter participado de exposições e coletivas, o fotógrafo mineiro recebeu o convite e aceitou ser um dos artistas a exporem seus trabalhos na 1340Gallery, localizada na cidade holandesa de Weert.

Fernando Priamo em uma de suas viagens na Europa em busca de olhares diferenciados (Foto: Ana Cristina Ajub)

São cinco trabalhos que fazem parte da galeria virtual, que podem ser conferidos no link. Outros trabalhos de Fernando Priamo podem ser vistos em seu perfil no Instagram (@fernandopriamo). “Foi a primeira vez que consegui colocar meu trabalho numa galeria internacional”, comemora. “Faço um trabalho com decoradores em que vendo meu material para decoração de ambientes, já fiz três exposições individuais e participei de várias coletivas. Também estou com uma foto de urban art no painel do foyer do Teatro Paschoal Carlos Magno.

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Urban art

Torre Eiffel (Foto: Fernando Priamo)

O reconhecimento internacional de seu trabalho além dos limites do fotojornalismos é fruto de um trabalho iniciado em 2010, em uma visita à Itália, e que tem como foco principal a urban art. “Como eu visito grandes centros, que têm um bombardeio de informações o tempo todo, comecei a desenvolver uma técnica de fusão de imagens no mesmo frame”, explica. “A princípio, isso ficava muito abstrato, então precisei preparar uma sequência de imagens do mesmo assunto, mas que não deixasse a imagem principal totalmente abstrata. Congelei a imagem principal e criei ajustes na minha máquina para poder continuar captando a mesma imagem, só que com controles diferentes, entrada de luz, diafragma, obturador, velocidade. Criei uma sistematização na máquina que consigo ter o principal e o restante em movimento na mesma imagem. Deu muito certo, pois consigo captar essa transformação, esse bombardeio de informação que há nos grandes centros.”

Não só a técnica foi sendo aprimorada. Fernando Priamo conta que a viagem a tantos países europeus, como Itália, Inglaterra, França, Portugal, Espanha, Alemanha, foi criando temáticas diferentes dentro da urban art, graças à inspiração que cidades como Paris, Londres, Milão, Florença, Porto, Madri, Barcelona, Berlim e Amsterdã fornecem ao caminhar por suas vias. Na parte dos transportes, por exemplo, ele se dedica a ônibus, trens, metrô. Há espaço para monumentos como a Torre Eiffel, igrejas, monumentos, praças, ruas e avenidas. “Tenho a parte das mulheres europeias nas bicicletas, algo que me deixa bastante entusiasmado a fotografar. É encantador vê-las pedalando, e eu gasto bastante tempo fotografando isso”, anima-se. “E tem mais: fechaduras de portas, janelas, tudo aquilo que vejo tento transformar em arte urbana, com essa fusão de imagens. Sempre que viajo busco fazer conexões no maior número possível de cidades para captar novas imagens.”

Zürich Looks (Foto: Fernando Priamo)

Como se percebe, um dos motivos que animam Fernando a viajar quase todo ano para o exterior são as quase infinitas possibilidades que as cidades europeias oferecem, sendo a artquitetura de séculos um dos motivos. Mas a facilidade de trabalhar sem ser incomodado é outro fator. “Você pode parar na rua, fotografar pessoas, dentro de metrô, igrejas, e as pessoas não te incomodam, respeitam seu trabalho. Ao contrário do Brasil, em que você pode ser assaltado, as pessoas acham que você está fotografando para denunciar alguma coisa, tentam te agredir, é muito complicado. Tentei fazer aqui em Juiz de Fora, minha cidade natal, mas foi complicado. Em São Paulo, já consegui algo, e em Tiradentes é muito mais tranquilo; é uma joia do Brasil que gosto muito, e em que consigo mostrar o urbano num espaço tão pequeno. É um orgulho poder mostrar para todo o mundo o lugar de onde vim, pois sou mineiro de nascença.”

Fine art

Artista multifacetado, Fernando Priamo desenvolve outros projetos em paralelo. Outro deles é o de fine art, em que fez uma série dedicada ao pintor francês Claude Monet, um dos grandes nomes do impressionismo, quando visitou a casa e os jardins do artista plástico, Giverny. Há também uma série em tons pastéis feita na Holanda, e uma em preto e branco que começou a desenvolver. “O trabalho vai saindo um pouco dessa coisa do fotojornalismo puro, que é um trabalho duro. Tento dar ao meu trabalho uma pegada mais europeia de arte para poder estar presente nas galerias, nos mercados americano e europeu, que é o que quero.”

Pompeii (Foto: Fernando Priamo)

“Comecei também um trabalho de ‘fragmentos de tempo’, com os parques arqueológicos que visitei. Fui à Turquia, a Pompéia, na Itália; esse projeto começou agora, e assim como os outros continua em aberto. Sempre que viajo levo coisas de todos os projetos, aí olho o que cabe em cada um e vou captando as imagens. Por issos eles nunca acabam, com exceção do projeto com Monet, porque eram as fotos da casa dele, por isso mesmo limitado.”

Giverny (Foto: Fernando Priamo)

De acordo com Priamo, ele observou que a urban art era algo sem grande penetração entre os profissionais locais, o que também ajudou a buscar essa vertente. “Consegui colocar mais de 50 imagens no Instagram, mas tenho cerca de outras 500. Porém, é um processo demorado, você não sabe o produto final que vai ter. É algo complexo e que nem sempre sai como imaginei, mas que até fica melhor do que o planejado. E é muito legal porque as pessoas querem expor na casa delas, ao contrário do fotojornalismo.”

Fernando Priamo afirma, ainda, que o trabalho que realiza em seu tempo “livre”, por assim dizer, acaba por ter reflexos positivos no cotidiano do fotojornalismo. “No jornal, também uso a criatividade, mas quando a mente fica livre para criar, sem crítica, sem ter a obrigação, flui mais leve. Consigo implantar no jornal muitas das coisas que faço com meu trabalho de urban art, e isso causa um efeito muito melhor no meu produto final (para a Tribuna).”

A internet como aliada

Voltando ao contato com a galeria. Fernando Priamo dedicou seu perfil no Instagram para um caráter profissional, compartilhando os trabalhos de urban e fine art, entre outros, e encontrou uma repercussão animadora. O próximo passo foi levar para amigos na Itália, que o incentivaram, assim como o diretor de uma galeria em Zurique (Suíça). Usando as hashtags e publicando com frequência, não demorou para o passo seguinte.

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Giverny (Foto: Fernando Priamo)

“Recebi um feedback da curadora do 1340Gallery de que o trabalho tinha potencial. Fui convidado para ser membro e expor na galeria virtual. Enviei algumas imagens e o retorno foi positivo, hoje tenho cinco imagens expostas para venda, três de urban art e duas de tons pastéis de Amsterdã. O trabalho do Claude Montet ainda está em avaliação. A galeria vai colocando aos poucos para ser vendido.”

Além da visibilidade na galeria holandesa, Fernando Priamo já foi procurado por outras curadorias e galerias. “O mais importante já aconteceu, que é entrar numa galeria internacional, algo que sempre quis, vamos caminhando a passos lentos para estruturar bem o trabalho”, ressalta o fotógrafo, que reconhece a rede mundial de computadores como fundamental para a divulgação de seu trabalho.

“A internet é nossa janela para o mundo. Ou você abre essa janela e vai para o mundo, ou as fecha e continua por aqui. É preciso se aventurar, usar as redes sociais a seu favor, com consciência”, afirma o artista, que ainda concorre com dez trabalhos no concurso internacional 2019 LensCulture Street Photography Awards, que além de prêmios em dinheiro dá ao vencedor a oportunidade de uma exposição em Nova York. “Independentemente do resultado, terei a leitura do meu portfólio por um dos jurados (que incluem profissionais da CNN Digital, da agência Magnum, do jornal frances ‘Le Monde’, entre outros), o que será um retorno muito importante.”

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Echoes of Amsterdam on Transparency of Tulips (Foto: Fernando Priamo)

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