O que esperar do Teatro Paschoal em 2019
Um ano após sua inauguração, espaço tem sua utilização analisada pela Funalfa e por artistas que ocuparam o local
Inaugurado em 2 de março de 2018, após quase quatro décadas de promessas, obras que começaram, pararam, recomeçaram e pararam de novo, o Teatro Municipal Paschoal Carlos Magno era promessa de mais um espaço para a classe artística de Juiz de Fora poder apresentar sua arte, ainda que houvesse desconfiança quanto a sua viabilidade dentro da atual realidade enfrentada pelos artistas, seja por uma questão de demanda, público interessado e os custos para a utilização do equipamento cultural.
Passados os primeiros 365 dias, os números não são completos e não podem servir de argumento para afirmar que o Paschoal Carlos Magno é viável para todos. Mas os números existem, e cabe a cada um fazer sua avaliação. A Funalfa divulgou na última sexta-feira (1º) os números referentes à ocupação do teatro a partir de agosto de 2018, passados os meses iniciais de eventos-teste e quando começaram a acontecer os eventos do edital de ocupação. No total, foram 83 datas reservadas e utilizadas, incluindo expressões artísticas como teatro, dança, música, cinema, seja com festivais ou eventos isolados, além de palestras e eventos acadêmicos, entre outros. Os contratos assinados para essas atividades renderam um faturamento total de R$ 68.150.
Apesar de 2019 já estar na pista há mais de dois meses, a Funalfa espera que a programação do teatro – ocupado até agora por eventos de menor porte, segundo o superintendente Zezinho Mancini – ganhe volume entre abril e outubro, quando serão realizados os eventos do edital “Ocupa!”, que disponibiliza 30 datas sem custos para artistas e produtores locais. As inscrições estão abertas até o próximo dia 15. Depois do resultado do processo de seleção, serão disponibilizadas ainda outras datas de ocupação espontânea, e outro edital será lançado para eventos de ocupação alternativa, para espetáculos mais intimistas – que utilizem o formato de arena, por exemplo.
Ainda falta muito
Zezinho Mancini lembra das dúvidas surgidas antes da inauguração do teatro, como a necessidade de um novo espaço do tipo. “Depois dos eventos-teste fizemos o edital de ocupação e vimos que a cidade queria um teatro como o Paschoal Carlos Magno”, afirma. “Foram eventos muito diversos, de ensaios a TED X, espetáculos de escolas, eventos gospel, lançamento de mapa turístico, seminários, festival de cinema, apresentação de orquestra. Essas experiências nos ajudaram a entender a forma que a Funalfa pode gerir o espaço.”
Uma das adaptações diz respeito ao quadro fixo do Teatro Paschoal Carlos Magno, atualmente dependente da equipe da Funalfa em disponibilizar seu tempo. Com a reorganização do organograma da Fundação, no início do ano, foi possível incluir o teatro de maneira formal e estabelecer uma uma equipe fixa para ampliar o potencial de utilização e melhorar os pontos deficitários. “Sabemos que não está funcionando às mil maravilhas, mas tem sido um esforço coletivo para administrar o espaço.”
Além dessa definição, muito precisa ser feito para deixar o teatro 100% concluído. O equipamento de som, segundo Zezinho, aguarda trâmites burocráticos para ser instalado. Também falta resolver a questão da plataforma de acessibilidade para a galeria de arte, outra para o palco, o mobiliário dos camarins e o elevador dos bastidores, sendo que este não está entre as prioridades. A área para o bar/lanchonete, por enquanto, segue com o Termo de Ocupação obtido pela Funalfa para que os artistas possam utilizar o espaço em seus eventos com patrocinadores ou para venda de seus produtos.
Outro ponto destacado pelo superintendente da Funalfa é que o Paschoal Carlos Magno, hoje, tem recursos oriundos do aluguel do espaço e que poderão ser utilizados no próprio teatro. “Vamos elencar as prioridades, mas posso dar como exemplo as adaptações que precisarem ser feitas de acessibilidade. O próprio artista está ajudando a manter o teatro.”
Sobre o retorno da classe artística, Zezinho diz não ter ouvido críticas graves além da questão do valor cobrado pela ocupação do teatro, o equipamento de som ainda não instalado, e a equipe disponível para os eventos, com poucas pessoas. “Já esperávamos por isso, pois eram as possibilidades que tínhamos à mão, como o preço. O aluguel é mais caro que um teatro público porém mais barato que um particular. Mas as pessoas falam muito bem da estrutura, da quantidade de refletores, os técnicos de som, o ar-condicionado. O público que vai pela primeira vez elogia a beleza do teatro.”
O debate se atualiza
Um dos primeiros eventos do Teatro Paschoal Carlos Magno, ainda em sua fase de testes, foi a primeira edição do Encontro Sala de Giz de Teatro e Poéticas do Corpo, em abril. Além de organizar o evento, a cia. teatral participou da Campanha de Popularização de Teatro e do Edital de Dança. “Enquanto estrutura, é excelente. Para nosso evento, por exemplo, ele está numa localização privilegiada, no Centro, e tem um equipamento de luz que não encontramos em outro espaço da cidade”, destaca um dos integrantes do Sala de Giz, Felipe Moratori. “Na época do evento, entramos em acordo com a Funalfa e alugamos o equipamento de som e deslocamos o equipamento de luz da Praça CEU. A experiência foi excelente, estruturalmente atendeu muito bem ao nosso evento.”
Um ponto, porém, que Moratori ressalta como problemático é a questão dos valores cobrados para utilização do teatro, que ele considera fora da realidade da cena local. “Não conseguimos reverter os custos do teatro no valor da bilheteria, pois temos ingressos com valores de dez anos atrás. Porém vejo com bons olhos essas iniciativas de datas livres. Não sabemos se vamos inscrever projetos, pois está como regra não ignorar o palco italiano, e no nosso caso colocamos o público no formato de arena, que é uma tendência do teatro contemporâneo. Mas temos novos projetos que podem utilizar o palco italiano, vamos decidir até o dia 15.”
Felipe Moratori vê, um ano depois, a inauguração do Teatro Paschoal Carlos Magno como o fechamento de um ciclo, o espaço que ele considerava um “elefante branco, um equipamento morto”, está ganhando vida. “Viramos uma página com a inauguração, e agora surgem novas questões, o debate do teatro se atualiza. É o caso dos entraves para ocupação, tanto pelos valores cobrados quanto também pelo que construímos como identidade dos espetáculos da cidade, aprendendo a utilizar espaços alternativos”, argumenta. “Ganhamos um espaço com 400 lugares em formato italiano. Quais as produções da cidade que estão sendo construídas para esse formato? Vamos aprender a usar esse formato. A maior importância para a classe é trazer novas discussões para esse novo espaço.”
Sala de cinema
Uma das organizadoras do Festival Primeiro Plano de Cinema, Marília Lima afirma que a abertura do teatro foi importante para a realização do festival, que desde 2017 perdeu o Cine Palace, e também por ser mais um espaço aberto para artistas do teatro, música e cinema. “Para nós, foi a oportunidade de ter acesso a um espaço estável e de fácil ocupação, mais acessível, além de a localização ser muito boa e atender um grande público”, elogia.
“O Paschoal Carlos Magno se tornou um espaço ideal para o festival. Fizemos adaptações, como transformar o teatro num cinema. Mas foi uma experiência tranquila, pois já estamos acostumados a essas adaptações, como era no Palace. É ruim não ter mais um cinema de rua, pois isso implica muito na experiência do público, mas continuamos oferecendo o mesmo tipo de exibição (no Paschoal). Vamos tentar realizar o festival no teatro novamente por meio do edital para garantir algumas datas. A ideia é continuar lá, ocupando esse espaço que é da cidade.”
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