Abertura do 33º Ranking de Corridas de JF é alvo de reclamações dos atletas

Tribuna recebe relatos e vídeos de falta de água em prova no domingo passado (24); organizadora e SEL dizem que “regulamento foi cumprido e que reunião irá tratar sobre os erros e sobre as melhorias necessárias para o bom andamento do Ranking”


Por Bruno Kaehler

28/02/2019 às 21h08- Atualizada 01/03/2019 às 08h16

Foto: Guilherme Ovídio

O 33º Ranking de Corridas de Rua da Prefeitura de Juiz de Fora foi inaugurado na manhã do último domingo (24). Jocemar Corrêa (Vem Correr) e Paula Adriana dos Santos (Fac. Granbery Ed. Física) foram os campeões na disputa geral. O evento teve prova principal de 10km na Via São Pedro, com alternativa de caminhada de 5km e corrida infantil, e cerca de 1.200 atletas no total. Apesar da numerosa participação, a prova foi marcada por reclamações de competidores de falta de água durante parte do percurso.

A enfermeira Cátia Fernanda, 34 anos, registrou a falta de água em um ponto de hidratação e pessoas passando mal em vídeos compartilhados em redes sociais. “Começamos a correr e, quando chegou em frente ao Centro do Zico, havia um ponto de hidratação nos dois lados da via, porque aquele ponto servia tanto para a subida, quanto para a descida. Só peguei água naquele momento (2,5km). Quando voltei não tinha. E do outro lado tinha pouco, mas tínhamos que dar uma volta. Vi várias pessoas passando mal. Quando eu retornei, várias pessoas estavam desistindo da prova porque não tinha água. Parei para socorrer uma moça. As pessoas pegavam gelo e iam chupando ou jogando a água que sobrou embaixo do gelo. Dei assistência para essas pessoas porque sou da saúde. Quando eu desci a via novamente para terminar o percurso veio uma caminhonete entregando água. Só que estávamos com muita sede, aí paramos em frente à Água de Coco da Preta e uma senhora estava dando água aos corredores, que pegaram o copo jogado na via para poder tomar a água da senhora. E na chegada tinha água. Mas e o percurso, o sol?”, questiona Cátia.

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Em um dos locais da via, moradores ofereciam água aos atletas

A artista plástica Teca Miranda, 61, foi uma das atletas que entrou em contato com a Tribuna para reclamar. “Minha primeira corrida de 10km era para ter sido muito melhor! Eu estava indo muito bem, apesar do forte calor, correndo num ritmo que me classificaria até bem na faixa etária, mas… A desorganização acabou com a minha participação no ranking. Ofereci a água que eu tinha pegado no primeiro ponto para ajudar uma pessoa que estava desmaiando, contando que eu pegaria novamente no segundo posto. Quando eu estava no caminho, as pessoas que tinham passado pelo segundo ponto de água avisavam que a água tinha acabado. Vou fazer 62 anos mês que vem e preservo muito o meu bem-estar. Parei de correr e passei a caminhar. No segundo ponto peguei um pedaço de gelo e me molhei um pouco. Na chegada, pedi água e não tinha também. Fiquei sabendo que muitas pessoas passaram mal”, destacou a artista.

Imagens mostram posto de hidratação vazio e uma mulher oferecendo água aos participantes

Corredor de 71 anos vai para a UPA

O atleta Gilberto Bisaggio, 71, aposentado, diz que não conseguiu a água a partir do segundo ponto, no retorno (5km). Mesmo assim, passou a caminhar para completar o percurso. “Assim que terminei, comecei a me sentir mal. Pedi uma ambulância e não tinha. Precisei de mais de meia hora para ser atendido. Quando um rapaz disse que iam processar a organização, apareceu um carro para me levar para a UPA São Pedro. Mais quatro pessoas passaram mal e as encontrei lá. Não fui o único”, relata.

Segundo ele, este tipo de problema não ocorre em outras corridas que participa fora da cidade. “Essa foi minha 78ª ou 79ª corrida, entre elas a Meia Maratona no Rio de Janeiro, Dez Milhas da Garoto e a cada quilômetro você tem muita quantidade de água… a São Silvetre, com 40 mil participantes, não falta água. As corridas em Juiz de Fora, assim, vão acabar. Iremos para as provas da região.”

Ascorjf apresenta reclamação à SEL

A Associação dos Corredores de Rua e Maratonistas de Juiz de Fora (Ascorjf) também esteve presente no evento e confirmou que membros do grupo atenderam atletas que passaram mal por conta da escassez de água. Diante da insatisfação dos participantes, a Ascorjf emitiu posicionamento garantindo que tomará medidas judiciais contra a organizadora da prova. “A pedido de vários corredores de rua da cidade que participaram da corrida, a Ascorjf apresentou junto à SEL uma reclamação com solicitação de providências. Portanto, medidas administrativa e judicial estão sendo tomadas. Esperamos que esse fato nunca mais se repita. A segurança e o bem-estar do atleta devem vir em primeiro lugar”, relata a Ascorjf, por meio do presidente Rubens Gabriel Ruela.

SEL e VidAtiva se posicionam

Organizadora do 33º Ranking de Corridas, a Prefeitura de Juiz de Fora, por meio da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL), reiterou que “a responsabilidade da organização da prova é da vencedora da licitação, neste caso, LHS Consultoria Esportiva (razão social da VidAtiva Consultoria Esportiva). A PJF é responsável pela organização do 33º Ranking de Corridas de Rua, para isso, realiza chamada pública, elabora e divulga regulamento oficial, elabora o calendário anual, cadastra atletas no sistema, cronometra o tempo dos atletas, realiza reuniões com outros órgãos envolvidos no evento, entre outras atribuições. Todo material e estrutura são de responsabilidade da organizadora da prova.

Sobre as reclamações de falta de água na abertura do Ranking, a PJF esclarece que, “obrigatoriamente, a organizadora deve oferecer um copo de água a cada posto de hidratação e dois copos na chegada, no entanto, deve realizar previsão para que não falte água para os atletas em nenhum momento (itens 6.1.20, 6.2.2 e 6.2.4 do edital do Ranking). Sobre a assistência médica, o edital prevê a obrigatoriedade de 1 (uma) ambulância com equipe médica no local (item 6.1.19 do edital), tendo a organizadora oferecido duas, nesta prova, que realizaram os atendimentos, inclusive, encaminhando para UPA. Ao final de cada etapa, a SEL realiza avaliação sobre diversos itens, sendo que a hidratação, possui a pontuação mais elevada e constou como 0 (zero) nesta corrida. A SEL também está avaliando as ações a serem tomadas, segundo regulamento e processo licitatório. Antes da próxima etapa, que acontecerá em março, será realizada reunião com todos os organizadores das provas, que irá tratar sobre os erros e sobre as melhorias necessárias para o bom andamento do Ranking.”

Corrida do último domingo reuniu cerca de 1.200 participantes (Foto: Guilherme Ovídio)

Já os responsáveis pela prova, da VidAtiva Consultoria Esportiva, confirmaram que “de acordo com o edital da SEL/Ranking de Corridas Rústicas de Juiz de Fora, a VidAtiva atendeu os quesitos impostos pelo edital de uma ambulância completa para mil atletas, quatro pontos de água obedecendo às regras da CBAT (Confederação Brasileira de Atletismo) e um posto a cada 2,5 km.” Ainda segundo a empresa, “prontamente quando fomos informados pelos estafes que a água do percurso estava finalizando, mobilizamos os responsáveis para abastecimento do posto com as águas reservas que possuíamos. Porém alguns atletas ficaram sem por conta desse GAP. A ambulância atendeu duas ocorrências no qual nos enviaram o relatório informando que dois atletas foram encaminhados à UPA de São Pedro, tratados e liberados em seguida.”

A VidAtiva ainda destaca que seus representantes “receberam pontuais reclamações quanto à falta de água no período final da corrida, oportunidade em que informamos que uma reunião com os membros da comissão formada à realização do evento, bem como os principais membros do estafe, já foi marcada para que possam fazer o levantamento e relatório final da prova, e nesta oportunidade as críticas serão abordadas e levadas a uma espécie de investigação! Todos que trabalharam na corrida terão a capacidade de oferecer detalhes de suas participações e colaborar com a elucidação dos fatos. Informamos de antemão que o organizador cumpriu fielmente o edital da PJF com a disponibilização dos postos de hidratação pelo trajeto e no pórtico de chegada, bem como ao fornecimento de copos d’água em relação ao número de inscritos, incluída a margem de segurança e a observação do forte calor. Infelizmente temos conhecimento de que muitas pessoas participaram da prova, utilizaram-se dos postos de hidratação e não pagaram inscrição. Todas as medidas cabíveis após a devida apuração serão adotadas.”

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Por fim, a empresa salientou que “em apenas um dos quatro pontos de hidratação não havia água, e não em todos, como muitos têm achado. E tínhamos duas ambulâncias, uma a mais do que o exigido.” A Tribuna também entrou em contato com o Procon, que destacou que a organização é privada, e o município apenas autoriza a realização. Sobre a quantidade de água que deve ser disponibilizada no evento, o Procon não recebeu qualquer reclamação.

Viviany Anderson elogia a corrida infantil

Para a experiente corredora e professora, Viviany Anderson, 49 anos, a prova tinha tudo para ocorrer normalmente para todos. Segundo ela, que completou o percurso em 44 minutos, até o momento em que completou os 10km, não faltou água, assim como no evento para as crianças.

“Elogio a corrida, além de agradecer a SEL e a VidAtiva pela corrida infantil, com 40 alunos da minha equipe. Todos ganharam medalha, água, suco e fruta. Fui monitorando cada um e foi muito bom. Já na corrida principal, fiz abaixo dos 45 minutos e em nenhum momento faltou água no meu percurso. Tinha fartura de água e ia até elogiar. Apesar de eu achar que a inscrição sem kit foi salgada, R$ 40 no primeiro lote, mas sou da equipe chacarense e a Prefeitura pagou. Mas quem estava abaixo de mim no ritmo teve água. Não vou crucificar a VidAtiva porque é uma corrida muito grande e temos que ver o que fizeram os responsáveis pela distribuição de água nos pontos. E quando terminou a corrida das crianças eu ganhei suco, água. Sou uma das pessoas que mais critica, é claro que a VidAtiva deveria ter organizado isso melhor, mas acho que ela não pode ser sacrificada. Todos têm que ver o que aconteceu, o motivo”, opina.

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