“Manto e Adaga”, “Titãs” e… Ah, a Patrulha do Destino…

Por Júlio Black

06/02/2019 às 07h00 - Atualizada 05/02/2019 às 12h42

Oi, gente.
Acompanhar todas as séries inspiradas em HQs é praticamente impossível, e dou meus sinceros parabéns às criaturas insanas que alcançam tal feito. Nas últimas semanas, por exemplo, dei um tempo na segunda temporada de “Punho de Ferro” logo no segundo episódio (que preguiça), e fui dar aquele valor a “Manto e Adaga”, da Marvel, e a tão falada e aguardada “Titãs”, da DC – e podemos dizer que escolhemos bem, pois as duas séries merecem todos os elogios que lemos por aí.

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Não deixa de ser uma surpresa que a Freeform tenha topado fazer a parceria com a Marvel para produzir “Manto e Adaga”, pois, apesar de serem duas figurinhas interessantes, sempre fizeram parte do terceiro escalão da Casa das Ideias, muitas vezes como coadjuvantes nos quadrinhos do Homem-Aranha (é o que lembro, tem anos e anos que não leio nada dos personagens). Porém, a liberdade de poder trabalhar com nomes pouco conhecidos permitiu maior liberdade à produção – que no Brasil pode ser conferida no canal Sony -, e o resultado valeu a pena.

Dois dos acertos da série foram mudar o cenário das aventuras (de Nova York para Nova Orleans) e como Tandy Bowen (Olivia Holt) e Tyrone Johnson (Aubrey Joseph) “ganharam” seus poderes, na infância, em tragédias ocorridas ao mesmo tempo, que fazem com que os dois busquem justiça e percebam que esta só poderia ser alcançada com ambos trabalhando em parceria.

Não que “Manto e Adaga” seja um espetáculo visual deslumbrante, muito longe disso; nessa parte, a atração é zero ousadia e bem convencional, o que deixa a season finale sem o impacto que prometia. O programa ganha substância é no seu roteiro, ao mostrar como os adolescentes e suas famílias trabalham com a perda, o luto, em meio a policiais corruptos, ganância e falta de ética corporativa, numa trama que trabalha esses conceitos em meio ao contraste social dos protagonistas e numa Nova Orleans que é mostrada como mais uma personagem da história, num ciclo de tragédias e sacrifícios que ultrapassam os séculos.

Além disso, a trama não perde muito tempo tentando situar os personagens no universo de TV/cinema da Marvel, fazendo ligeiras ligações verbais com “Punho de Ferro”, e nem se arrasta em tramas paralelas desnecessárias que tanto nos irritam na parceria Marvel/Netflix – o principal subplot, aliás, é convergente à trajetória dos protagonistas. O importante é mostrar como os contrastes entre Manto e Adaga servem para fazer com que os improváveis heróis cresçam durante a primeira temporada, e isso a série faz muito bem.

Quanto a “Titãs”, dá para afirmar que é a melhor adaptação da DC Comics em live-action para a TV – pelo menos essa ótima primeira temporada, desde o início do ano no catálogo da Netflix. Nunca fui muito fã da equipe nos quadrinhos, mas adorava as duas versões em desenho animado (“Os Jovens Titãs” e “Os Jovens Titãs em ação!”). A primeira cesta de três foi misturar um tom mais sombrio, realista e pé no chão (inspiração das séries da Marvel na Netflix?) com a mitologia das HQs e a falta de vergonha de se reconhecer como algo que veio dos quadrinhos, com todos seus uniformes coloridos, citações a personagens como Superman, Batman e Mulher-Maravilha, algo do qual o “Arrowverse” parecia ter medo do cão em seu início.

Junte a isso uma dose considerável de porradaria bem coreografada e decalitros de sangue, cortesia do Robin mucho loco que perde o controle toda vez que tem que dar um cacete na bandidagem. Mas este é só um (bom) detalhe da primeira temporada. O melhor de “Titãs”, assim como em “Manto e Adaga”, é o roteiro, o desenrolar da trama, o desenvolvimento e interação dos heróis e o elenco muito bem escolhido. O primeiro ano é centrado em mostrar a reunião de um bando de heróis desajustados, tentar entender os poderes – e a ameaça – de Ravena e a obsessão de Dick Grayson, o primeiro Robin, de se distanciar da sombra do Batman para não se deixar levar pelo que ele considera uma perda de rumo de seu mentor.

Defeitos? Alguns, mas nada que estrague a diversão. Ao não ter vergonha de se assumir como série com heróis fantasiados, “Titãs” entrega dois dos uniformes mais bizarros da TV moderna, com Rapina e Columba, fiéis até a medula ao original com suas penas (!). O visual da Estelar redefiniu o conceito de “over”, e Mutano e Ravena têm um shape muito sem graça. Já o uniforme do Robin e a representação da Patrulha do Destino (MEU DEUS, A PATRULHA DO DESTINO!!!) foram perfeitas, além de uns personagens que não podemos contar.

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O que mais? Ah, sim: as participações especiais de heróis e vilões (mais uma vez: MEU DEUS, A PATRULHA DO DESTINO!!!) e um final de temporada que deixou aquela sensação de “o que está acontecendo?”, além de uma cena pós-créditos indicando que a segunda temporada (já confirmada) promete muitas novidades e mergulhos ainda mais profundos no material dos quadrinhos. Não é a perfeição chamada “Legion”, mas “Titãs” mostra que a DC Comics encontrou um bom caminho para suas séries em seu serviço de streaming (E QUE VAI TER A PATRULHA DO DESTINO! Sim, eu adoro a Patrulha do Destino e quero ver Danny, a Rua, A Pintura que devorou Paris, Flex Mentallo e a Irmandade do Dada. Dá seus pulos aí, DC).

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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