E o Natal?


Por Júlia Pessôa

23/12/2018 às 07h00

Ao contrário da maioria dos meus amigos e amigas, eu sempre amei Natal. Na minha família, é um megaevento de vários dias, com fartura de comida, de bebida e de pessoas que eu amo. É também nesta época que eu consigo ver amigos e amigas de longa data, de quando minha Três Rios natal (trocadilho intencional) não era apenas uma fotografia na parede, mas minha casa. Tudo isso naquele clima de “lavar a alma” bem característico de fim de ano, independentemente de como os últimos 365 dias tenham sido. Eu sempre amei Natal. Como não amaria?

Mas neste 2018 em que o mundo – pelo menos o meu e o de “gente como eu” – virou de cabeça pra baixo, o chão sumiu sob os pés, e o medo do futuro tornou-se uma constante, o que esperar do Natal? Piadas no Facebook à parte sobre eventos natalinos para quem brigou com a família por política, será que dá pra reconstruir, entre uma rabanada e outra, as decepções e desilusões com quem sempre fez parte da nossa vida? Será que dá pra engolir, junto com o arroz com passas, o fato de que muitos votaram em um governo que legitima a homofobia, o machismo, a violência contra a mulher (na verdade, a violência generalizada) e que, ainda por cima, nem começou e, SURPRESA: É corrupto? Será? Eu não sei se tem arroz o suficiente no mundo pra me fazer engolir tudo isso com algum espírito natalino. Quanto aos amigos e amigas de longa data, muitos tornaram-se com data de validade. Expirada. Não é sobre política. É sobre querermos viver em mundos diferentes. E é melhor assim, cada um no seu. Do meu, não abro mão.

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Apesar de tudo, as traulitadas de 2018, na política e na vida, milagrosamente – mas não sem a dor inerente ao crescimento – acabaram convertendo essa então pessimista nata e convicta em uma pessoa mais esperançosa, mais serena e em alguns dias, até otimista. Então, eu tenho, lá fundo uma fezinha em que, embora a gente possa até não conseguir perdoar e/ou esquecer algumas coisas, vai ser possível, sim, ter um Feliz Natal. Até porque não vai faltar alma pra lavar nesta reta final de um ano tão difícil. No que depender de mim, podem chamar o caminhão-pipa e Boas Festas!

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