Santa loucura e destruição, Batman!
Oi, gente.
Loucura, que loucura.
E não, não estou falando do atual momento do país, que… Deixa estar, deixa estar, let it be.
O lance, aqui, é o Batman, man, o Cavaleiro das Trevas, morceguinho vingador que é o personagem principal da alucinada série “Noite de Trevas: Metal”, nas bancas há alguns meses. A história mostra versões deturpadas do Batman que aparecem na Terra-0 (a principal Terra do atual Multiverso da DC) cheios de vontade de destruir nosso mundinho. Afinal, eles são caras maus e caras maus fazem isso. Enfim, eles vieram do até então desconhecido Multiverso Sombrio, em que todos os Batmen sempre sucumbiram frente às trevas, agora estão dando um pau em todos os heróis e só chegaram à “luz” porque o nosso Batman tentou resolver uns lances aí sozinho e deu no que deu.
Loucura, muita loucura. Coisa do Scott Snyder, responsável pelas histórias principais, com desenhos do sempre excelente Greg Capullo. Dá até para esquecer de como as coisas andam complicadas por aqui.
Mas o lance da coluna desta semana não é falar das alucinações de “Noite de Trevas: Metal”, até porque a saga ainda não foi encerrada, vamos comentá-la só depois que acabar e veja só, descobri que seria de bom tom ler a nova versão de “All-Star Batman” – também escrita pelo Snyder, com arte do Romitinha – e “A morte do Gavião Negro”. Então é preciso fazer o dever de casa direitinho.
A real é que “Metal” fez-me lembrar que nunca havia lido todas as histórias do Batman escritas pelo Snyder, e todo mundo sempre elogiou os cinco anos que ele ficou responsável por uma das revistas do morcegão. Daí que estava de férias na época, uma coisa puxou a outra… Demorou um pouco, mas olha só, terminamos de ler e precisamos dizer que o rapaz mandou muito bem.
Scott Snyder assumiu “Batman”, um dos principais títulos do Cruzado de Capa, quando a DC iniciou Os Novos 52, em 2011, e por lá ficou até 2016, totalizando 50 edições, sempre acompanhado por Greg Capullo nos desenhos – e vale destacar mais uma vez que esse menino é muito bom no que faz. Eu já havia lido tempos atrás os dois primeiros arcos, “A Corte das Corujas” e “A noite das Corujas”, e havia ficado com a sensação de “caracas, como eu gostei disso”.
Sentimento que permaneceu nos arcos seguintes. Porque Scott Snyder aproveitou o reboot do Universo DC para tornar tudo exagerado, “definitivo”, desafiador ao limite na vida de Bruce Wayne. Quando descobre a existência da Corte das Corujas, Batman é levado à beira da insanidade, quase entrega os pontos, mas Gotham é sua cidade e não há sujeito que vá tirá-la dele, nem mesmo um grupo centenário de vilões e seus assassinos ressuscitados. “A morte da família” é o primeiro embate com o Coringa, depravado e insano como poucas vezes se viu, e mais uma vez o herói é colocado contra as cordas, sem tempo para respirar, tendo que lutar contra todos os prognósticos desfavoráveis.
Tempo, aliás, é um recurso eternamente escasso para o herói nas histórias de Snyder. É assim também em “Ano Zero”, quando o Charada toma Gotham para si e Batman, sem Batcaverna, bat-repelente de tubarão e outros brinquedinhos, é o único que pode salvá-la. O Coringa retorna ainda mais ameaçador em “Fim de jogo”: o vilão, quase um Pennywise da nona arte, enlouquece e envenena toda a população, e lá vai o herói para o embate definitivo com seu maior inimigo.
O último arco, “Superpesado”, mostra o quanto Scott Snyder estava a fim de ficar fora da caixinha: com o Batman desaparecido, a cidade passa a ser protegida por um novo Cavaleiro das Trevas, agora em um traje robótico com “orelhas de coelho” (what?). Tudo é over, urgente e “definitivo” na vida desse novo Batman. O herói, agora alter ego do Comissário Gordon (!), precisa lidar com um novo vilão, o Sr. Bloom, enquanto se debate com tubarões, cai em “armadilhas mortais”, apanha feito pobre fazendo mudança em dia de chuva (já passei por isso) e vê o seu mais novo inimigo se tornar um gigante destruidor – aliás, a ideia de que a cidade vive num ciclo de eterna destruição, recriação e reconstrução parece ser obsessão para o roteirista. Bruce Wayne? Está por aí, sem memória, sendo feliz. O Coringa? Está por aí, sem memória (?), sendo ameaçador como sempre.
Mas não dá pra dizer que foi tudo lindo e maravilhoso, claro. Há momentos em que Scott Snyder cria situações tão inverossímeis, mas tão inverossímeis, que nem mesmo a suspensão da descrença consegue dizer “deixa estar, curte a história”. Em outros, ele precisa apelar para soluções deus ex-machina que te deixam igual àquela capa do primeiro álbum do Chico Buarque, e você pensa que poderia ter dormido sem essa.
Porém, no final, as 50 edições escritas pelo roteirista entram fácil na lista das melhores coisas feitas com o Batman neste século. Com a oportunidade de poder “começar do zero” com o personagem, Scott Snyder criou um Batman que será lembrado por muitos anos pelos fãs graças a todos os exageros, urgências e adversidades imaginadas pelo roteirista.
É muita loucura, mas a gente gosta.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.