Cruzes diabólicas


Por Wendell Guiducci

16/10/2018 às 07h00- Atualizada 16/10/2018 às 07h22

Uma igreja de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, amanhece pichada com suásticas.

Suásticas nazistas.

PUBLICIDADE

Em 2018.

No Brasil.

Fato isolado nada: em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, uma jovem que trazia um arco-íris às costas tem a mesma cruz diabólica cravada a canivete em suas costelas por um bando de maníacos.

Fato isolado nada: nos primeiros dias de outubro, em todo o Brasil, militantes de extrema direita protagonizam pelo menos 50 ataques contra gente que deles diverge.

Fato isolado se não houvesse atropelamentos de jornalistas de esquerda em Curitiba.

O incêndio de abrigos de venezuelanos famintos em Roraima.

Ameaça de estupro no Recife.

Esfaqueamentos.

(Morre Moa do Katendê em Salvador, Bahia. Doze facadas. Todas pelas costas.)

Rasteja pustulenta no Brasil, vigilante leitor, uma onda de violência que coletiviza – agora desavergonhados – preconceitos individuais, cristalizados no nefasto símbolo das legiões assassinas de Hitler. Registram-no em paredes e carnes.

O conteúdo continua após o anúncio

Uma onda referenciada e referendada por um discurso de ódio travestido de plataforma de governo, jogo sujo, fake news, fake people, lavagem cerebral, ouçam: como ecoam suásticas na boca que cospe balas arame farpado choque elétrico pau-de-arara.

Anos de chumbo, invejo apenas aqueles em que voava leve o plúmbeo Zeppelin a disparar riffs e refrões, amor nos olhos e flores nos cabelos. Aqueles outros, do chumbo disparado contra cabeças encapuzadas, mãos amarradas, despedaçando cucas maravilhosas e sonhos de liberdade… aqueles, queria sepultados.

Mas bolimos com cobras:

Não esperemos que elas nos acariciem no alvorecer dos temíveis dias.

A Grande Serpente atacada pelo Dragão. Pintura de Chico da Silva, extraída da Enciclopédia Itaú Cultural.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.