Goleiro do Tupi, Gonçalves  pendura as luvas

Atleta de 31 anos, que chegou no Galo aos 16 anos, disse que “instabilidade do futebol” motivou decisão


Por Bruno Kaehler

02/10/2018 às 07h00- Atualizada 02/10/2018 às 07h21

“A instabilidade do futebol mexe muito com a gente emocionalmente. Essa questão de ficar longe da família, de receber ou não (salários)… são muitos conflitos que pesam na balança “, explica Gonçalves (Foto: Leonardo Costa)

Ao todo, 11 temporadas de treinos diários com a camisa do Alvinegro de Santa Terezinha. Três passagens de dedicação, apesar de poucas partidas pelo clube em relação ao período como atleta. Aos 31 anos, o goleiro Gonçalves anunciou a despedida dos gramados, e explicou a decisão à Tribuna.

“Foi uma decisão que pegou muitas pessoas de surpresa, mas que eu vinha adiando. Amadureci a ideia porque sei que é algo muito importante. Busquei ouvir minha família e amigos porque é um passo difícil, mas que precisava ser tomado. Tinha que pensar um pouco em mim. Já me via sem aquela mesma alegria, entusiasmo, aliado a uma série de fatores. A instabilidade do futebol mexe muito com a gente emocionalmente. Essa questão de ficar longe da família, de receber ou não (salários)… são muitos conflitos que pesam na balança e sentia que era o momento de me preparar para outras coisas”, explica.

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Nascido em São João del-Rey, o arqueiro tem Juiz de Fora e o Tupi no coração. Chegou no Galo com 16 anos, em 2004, como juvenil. Em dezembro daquele ano foi emprestado para o São Caetano (SP), e depois para o Taubaté (SP), mas retornou ao clube ainda em 2007. Se profissionalizou, defendeu a meta preta e branca até 2010, e novamente foi emprestado, desta vez para equipes mineiras como o Sport, Formiga e Democrata-SL. Desde 2013 “Gonça”, como é chamado por muitos, não deixou mais o Galo, clube pelo qual se emociona ao agradecer.

“É até difícil expressar em palavras. Foi o clube que me projetou no futebol, me abriu as portas. Onde criei amizades, vínculos com os funcionários, pessoas que me ajudaram não apenas no crescimento profissional, mas como homem. Tenho uma gratidão muito grande pelo clube, que me proporcionou ter uma visibilidade nacional, conquistas. O Tupi deixa essa gratidão no meu coração”, resume, ao citar, ainda, o carinho criado também com Juiz de Fora.

“Aqui é minha casa hoje. Onde tenho meus amigos, conheci minha esposa. Meus pais estão em São João del-Rey. Mas criei uma identidade com JF e com o Tupi, que vejo como impossível tirar uma coisa da outra, como café com leite. Aprendi a amar aqui e sempre sou alegre ao falar da cidade e das pessoas que cruzaram meu caminho”, conta o goleiro.

O futuro está em aberto. Neste momento, contudo, Gonçalves irá priorizar sua escolinha de formação de goleiros, atendendo jovens que compartilham do mesmo sonho que um dia o arqueiro possuiu. “Esse projeto com jovens é uma porta que Deus abriu para mim, uma nova etapa na minha vida. Tem sido importante e creio que poderei ajudar na formação de jovens.”

Jogos inesquecíveis

Não foi difícil para Gonçalves recordar o top 3 dos jogos mais memoráveis com a camisa carijó. Dois deles foram no Campeonato Mineiro de 2009 contra o Cruzeiro. “O primeiro foi um 0 a 0 no Mineirão (primeira fase do Estadual). Era meu segundo jogo como titular e estava me firmando como profissional e no clube. Me ajudou muito. E depois perdemos de 1 a 0 lá (ida das quartas de final), mas consegui realizar grandes defesas e meu nome começou a ser divulgado pela imprensa. Consegui mostrar meu trabalho”, relembra.

Em 2014, o Tupi teria como estreia do Mineiro a árdua missão de visitar o América na Arena Independência. Gonçalves relembra que estava de malas prontas para o Democrata-SL. A partida terminou com empate em 1 a 1 e pênalti cobrado por Obina defendido pelo arqueiro. “Este é o jogo mais popular. Já estava tudo preparado para eu sair, estava tudo certo, mas acabou que tive essa oportunidade porque os outros dois goleiros se lesionaram. Aproveitei muito bem essa oportunidade. E até hoje comentam não só na rua, como em outros clubes, longe de JF. Me lembro dos detalhes, o pênalti aos 45 minutos, o Obina dizendo que nunca tinha errado pênalti nem trocado lado e naquele dia trocou. Quando parti para a bola e senti que ela pegou na minha mão já ajoelhei agradecendo.”

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Tópicos: tupi

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